(Re)Flexões

~ Defendendo a Cidadania

(Re)Flexões

Monthly Archives: Abril 2008

Blogues & Educação

30 Quarta-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania, educação

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Blogosfera

O Miguel, com o seu «Ólhar», surpreendeu-me ao incluir-me na lista dos blogues sobre educação que gosta de visitar com alguma regularidade.

Como não deixou grandes pistas sobre o/a autor(a) da iniciativa, limitar-me-ei a dar um pequeno contributo para que haja continuidade:

1- Este prémio deve ser atribuído aos blogs que gostamos e visitamos regularmente postando comentários;
2- Ao receber o selo “é um blog bom sim senhora!!” devemos escrever um post incluindo: o nome de quem nos deu o prémio com o respectivo link de acesso + a tag do prémio + a indicação de outros 7 blogs;
3- A tag do prémio deve ser exibida no blog.
Depois de percorrer a lista de blogues que incluo entre os meus favoritos e que visito diariamente, resolvi destacar os seguintes, para além do «outrÒÓlhar»:

1. A Educação do meu umbigo – pela permanente actualização e pela capacidade de comentar quase em cima da hora o que de novo surge sobre a Educação, por parte do Paulo Guinote;

2. ProfAvaliação – pela qualidade da informação e pela forma didáctica com que o Ramiro Marques vai deixando pistas sobre as questões da avaliação docente;

3. Anterozóide – Porque o humor e a criatividade do Antero são um bálsamo nos tempos conturbados que atravessamos;

4. WEHAVEKAOSINTHEGARDEN – Porque a juntar ao humor e à criatividade, a qualidade das imagens é irrepreensível;

5. Paideia – Porque há sempre muito a aprender com Idalina Jorge e a forma como reflecte sobre a Escola e o Sistema Educativo;

6. El Adarve – Porque de Espanha também em Educação temos muito a aprender e Miguel Angel Guerra é uma referência importante;

7. Cantigas do Maio – Porque em tempo de guerra não se limpam armas e o verdadeiro inimigo não nos dá tréguas!

A verdadeira “governação” por trás do manto diáfano da fantasia

28 Segunda-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in ética republicana e lei, cidadania, gestão pública, pareceres, qual crise

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governança

A leitura deste post é suficientemente instrutiva sobre o modo como uns quantos se apropriam dos bens públicos, em prejuízo de todos nós.

Também por isso é preciso correr com os Pintos de Sousa que levam o país pelos caminhos da ruína financeira e moral.

Que escola queremos?

28 Segunda-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in bem público, Currículo, diversidade, educação, escola de massas

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construir o futuro

O desencanto de que muitos professores se queixam, a propósito de um desaproveitamento da força de 100 mil manifestantes no dia 8 de Março, não tem em conta o facto de ser muito mais fácil mobilizar causas contra qualquer coisa, do que fazê-lo a favor do que quer que seja. Isto é assim porque, parafraseando José Régio no seu Cântico Negro, todos sabemos que “não vamos por aí”:

«Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí!»

Se em relação ao combate às políticas educativas desenvolvidas pelo governo Pinto de Sousa é possível estabelecer um consenso que abrange a esmagadora maioria dos professores e, agora também, largas camadas da população e muitos opinadores, já quanto à construção de alternativas o consenso desaparece quase por completo.

Não se tratando de um caso de «cada cabeça, sua sentença», a forma como cada professor e cada português olha para a escola e quais os objectivos que deve perseguir são muito diversos uns dos outros. Afinal para que é que as crianças e os jovens devem ir à escola? Porquê e para quê aprender?

Não sendo este um problema exclusivamente nacional, atrevo-me a transcrever um excerto de um texto de autoria de François Dubet, publicado no Nouvel Observateur em Junho de 2007:

Pourquoi apprendre

Il est évident que le rapport des élèves à leurs études s’est profondément transformé et souvent dégradé. Trop d’élèves s’ennuient, se demandent pourquoi ils apprennent ce qu’ils apprennent en dehors du simple fait de réussir l’examen qui leur permettra d’en passer d’autres. Dans la France d’aujourd’hui, beaucoup pensent qu’il suffirait de revenir vers les pédagogies d’autrefois pour que tout rentre dans l’ordre. Ne nous payons pas de mots : les pédagogies traditionnelles restent largement la règle. Ce n’est pas une rêverie pédagogique que de se demander quel type de sujet et de citoyen l’école veut former ; de quoi ils ont besoin pour entrer dans la société et pour s’y sentir libres. Dans une école de masse, les diplômes acquièrent une valeur instrumentale, une utilité sociale qui en vide parfois le contenu proprement intellectuel et culturel. En général, les élèves et les étudiants qui sont convaincus que leurs diplômes seront utiles et rentables travaillent beaucoup ; ceux qui croient qu’ils ne servent à rien ne travaillent guère, et, entre les deux, beaucoup pensent que leurs diplômes procèdent d’un marché de dupes. Ainsi, dès la sortie du collège et surtout à l’université, la valeur des diplômes devient un problème essentiel. Essentiel en termes d’utilité sociale générale, car la distance entre l’offre scolaire et le marché du travail se creuse en développant des mécanismes et des sentiments de déclassement. Près d’un jeune étudiant sur deux occupera un emploi sans rapport avec sa formation. Essentiel en termes de justice sociale, car, si des formations voient leur utilité fortement garantie, d’autres sont affaiblies par l’inflation continue des diplômes. La nostalgie républicaine invite au malthusianisme : sélectionnons afin que la valeur des diplômes se maintienne. Mais on pourrait aussi assouplir l’emprise des diplômes sur les carrières professionnelles afin que le diplôme ne scelle pas le destin des individus puisqu’il y a une vie après l’école. Il n’est pas normal que les passerelles soient aussi peu nombreuses entre les grandes écoles et les universités, entre les filières, entre les périodes de travail et les périodes d’études. On ne pourra pas éternellement défendre la rigidité du modèle scolaire au nom de la tradition et affirmer que nous devons entrer dans un monde plus mobile. Il y a là une hypocrisie à lever, y compris chez ceux qui scandent «à bas la sélection!» tout en acceptant les sélections les plus cruelles.

Não existem resistências colectivas sem vontades individuais de resistir!

28 Segunda-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania, educação

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Resistência

O primeiro trimestre de 2008 ficará marcado, na história da Educação em Portugal, por um enorme contraste entre o entusiasmo e a euforia resistente que culminou com a manifestação de 100 mil professores, e o desânimo e o baixar de braços que se lhe seguiu.

Para muitos dos professores que manifestam a sua opinião, seja nas escolas, seja nos meios tradicionais de comunicação social, seja ainda na web, aquilo a que chamam o “esvaziamento” da luta dos professores ficou a dever-se a uma espécie de “traição”, que as organizações sindicais protagonizaram e que está a ter como consequência que os professores não tenham vontade de continuar a lutar pelo que consideram ser opções correctas para a educação.

Na minha modesta opinião este discurso padece de dois erros de análise enormes, que são os seguintes:

  • Nem os sindicatos sozinhos conseguiriam mobilizar 100 mil professores para se manifestarem contra as políticas educativas, nem os movimentos autónomos de professores têm (tinham) capacidade organizativa para promover manifestações com essa grandeza;
  • A grandiosidade da manifestação e do protesto só foi possível porque a vontade colectiva de resistir exponenciou as resistências individuais que estiveram na sua base.

Colocando os acontecimentos na perspectiva dos profissionais, que no quotidiano têm que dar resposta às inúmeras dificuldades com que se debate a escola e a educação, o que passou foi um rearranjo da estrutura por acção dos actores envolvidos. Na verdade, o surgimento de grupos de actores (professores) não condicionados pelos constrangimentos estruturais (lógicas sindicais, lógicas partidárias) foi determinante para a construção de um colectivo que nunca tinha existido em trinta anos de escola pública: uma plataforma sindical que unificou todas as organizações com legitimidade representativa dos professores.

O facto de, pela primeira vez em trinta e quatro anos de democracia, o poder executivo ter sido confrontado com uma voz única em representação dos professores, foi determinante para colocar um governo arrogante, autoritário e suportado por uma maioria parlamentar e por uma opinião publicada submissa, em tão grandes dificuldades que se viu obrigado a renunciar a questões que já tinha dado como adquiridas. É o caso da aceitação de um modelo uniformizado e simplificado de avaliação para este ano; é o caso da aceitação do princípio da experimentação de um modelo, que no entendimento ministerial não precisava de ser experimentado; é o caso da aceitação da revisão do modelo após o seu período experimental, quando anteriormente era anunciado como o modelo perfeito e regenerador do sistema educativo.

Mas também para as organizações sindicais esta foi uma experiência nova e provavelmente enriquecedora. É que também pela primeira vez desde a sua criação não passou pela ideia de nenhum sindicato a possibilidade de negociar separadamente um ou outro aspecto do pacote legislativo, dando ao governo o pretexto para anunciar acordos com os “representantes dos professores”. E também pela primeira vez todos os sindicatos aceitaram pacificamente a colaboração, a presença e a participação de não sindicalizados nas actividades de mobilização da luta dos professores. O que se passou comigo, na mobilização e organização do dia D na escola em que lecciono, constitui uma prova dessa aceitação.

Infelizmente, parece que uma parte significativa desta resistência colectiva está em fase de esvaziamento. As manifestações e vigílias nocturnas já não têm a força e o brilho das que se realizaram em Fevereiro e nos primeiros dias de Março. Em muitas escolas os professores começaram a sentir-se sós e abandonados. Os fóruns e blogues na Internet parecem reflectir uma enorme descrença.

Como é que foi possível passar tão depressa do céu ao inferno? Será que os exageros, as recriminações e as críticas entre movimentos de professores e sindicatos (e vice-versa) e os professores não ligados nem as uns nem a outros, contribuem em alguma coisa para o debate? E que contributo dão para o necessário combate às políticas educativas erradas que este governo persistirá em aplicar?

Ao ouvir muitos dos críticos da plataforma sindical, fico com a impressão que essas pessoas depositariam uma esperança enorme na capacidade e determinação dos sindicatos em conduzir a luta, esquecendo que os sindicatos são organizações constituidas por pessoas que tomam decisões. É muito curioso ouvir criticar os dirigentes e ao mesmo tempo constatar que quem critica não realiza as acções que poderiam alterar as decisões dos dirigentes.

De uma forma semelhante, muitas das pessoas que simpatizam com o aparecimento de movimentos autónomos de professores não estão disponíveis para mudar os seus comportamentos quotidianos e ficam à espera que apareçam novos dirigentes que façam melhor o que faziam os dirigentes sindicais, isto é, orientem de forma mais determinada e radical a resistência ao ME.

O problema é que não existem organizações e colectivos sem as pessoas. Da mesma forma, se não for cada um dos professores a resistir individualmente, não será nunca possível construir uma resistência colectiva.

Os sindicatos e os movimentos de professores poderão, em cada momento, sugerir formas de resistência, promover formas de luta, conduzir o combate. Mas se em cada escola cada um dos professores não se opuser à arbitrariedade, não disser que não aceita a intimidação e o medo que lhe querem impor, não puser todos os paus que puder na engrenagem, bem que se poderão convocar greves, manifestações e outras formas de luta, que não iremos a lado nenhum.

Este final de ano lectivo, sendo um tempo de apaziguamento e de reagrupamento das forças, tem que constituir um tempo de reflexão sobre o futuro da educação. E o futuro começa já em Setembro, altura em que teremos que voltar a fazer soar as trombetas, tocar a reunir e resistir ao governo, à ministra, aos PCE’s adesivos e modernaços:

  • Na avaliação será de ponderar a entrega dos “objectivos individuais” uma vez que os previstos no DR 2/2008 são efectivamente objectivos organizacionais.
  • Na gestão será fundamental avaliar criteriosamente se deverá ou não ser apresentada uma lista para o conselho geral provisório. Cada escola será um caso, uma vez que nalgumas escolas será perigoso deixar que os adesivos ocupem todos os assentos nesse órgão, enquanto que noutras (se a unidade do corpo docente o permitir) se poderá tentar o boicote à constituição do conselho, não apresentando nenhuma lista de professores.
  • Quanto ao ECD será necessário criar as condições políticas para que se substituam os governos de orientação neoliberal, que estão instalados em S. Bento desde os anos 80, por um governo que coloque a economia ao serviço das políticas sociais. Nesse caso a perspectiva será de uma intervenção cívica até às eleições de 2009 e para lá disso. Não esquecendo nunca que a resistência colectiva precisa da resistência de cada um de nós.

Cá como lá, esta é a ditosa “mátria”…

23 Quarta-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania

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Sem vergonhice

Falta um ano, convém não esquecer.

E em 2009 por a cruz onde possa fazer a diferença!

Calculadoras para gente pobre!

23 Quarta-feira Abr 2008

Posted by fjsantos in educação

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Plano da Matemática

Uma forma engraçada e económica de fazer multiplicações

Derrotar as políticas neo-liberais de P(into) de S(ousa)

20 Domingo Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania, desemprego docente, educação, escola pública

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Combate político

Ramiro Marques é um dos professores que mais se destaca pelas suas posições em defesa de uma Escola Pública de qualidade e em defesa da profissionalidade docente. Por isso é também uma das minhas leituras obrigatórias, tanto aqui, como aqui.

Por isso e também por me identificar em absoluto com a sua posição relativamente à prova de acesso, que o governo Pinto de Sousa inventou para o ingresso na docência nas escolas oficiais, resolvi transcrever este post:

Os sindicatos, entre os quais a FENPROF, continuam a ter dúvidas sobre a constitucionalidade da prova de ingresso na profissão, na medida em que constituirá um constrangimento à mobilidade dos docentes no território nacional (entre as regiões autónomas, em que não é exigida tal prova, e o continente e entre o ensino particular e o público).

É inaceitável o facto de os jovens do Continente, candidatos a professores, terem de se submeter a uma prova nacional de acesso com estas características, enquanto os jovens da Madeira e dos Açores estão libertos dessa exigência. O mesmo acontece, aliás, com as diferenças no estatuto da carreira docente. Os colegas da Madeira e dos Açores mantêm a carreira única, com uma só categoria de professor e sem quotas para acesso ao topo. Os modernaços do PÊ Ésse, ao longo dos últimos três anos, não têm feito mais nada do que criar divisões, injustiças e desigualdades. Com estas políticas injustas, criam nas populações mais fracas e desprotegidas a sensação de que há portugueses de primeira e portugueses de segunda. Prestam um péssimo serviço ao país e à democracia. É por isso que este blog é declarada e combativamente anti-PS. Farei o que me for possível, usando a única arma que sei empunhar, a escrita, para ajudar a derrotar estes modernaços nas próximas eleições.

O anonimato blogosférico ao serviço do poder

20 Domingo Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania, escola de elites, escola de massas, escola pública

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políticas públicas

«anti-tretas
Abril 20, 2008 at 3:20 pm · Editar

Mau caro fjsantos, se não achar abuso da minha parte, responda-me só a uma curiosidade:
Qual é, ou são as disciplinas que dá aulas?»

A blogosfera é um espaço de liberdade absoluta. Até para que o poder e os seus lacaios se pavoneiem dizendo as maiores enormidades, ao serviço de agendas inconfessáveis, sem receio de serem desmascarados.

O Anti-tretas é um blogue animado por alguém (eventualmente mais que uma pessoa) que tem como função clara achincalhar os professores, em particular os que se opõem às políticas do governo Pinto de Sousa, ao mesmo tempo que faz a promoção até aos limites do absurdo da ministra da educação e de todos os seus amigos e aliados.

Esclarecido este ponto, quero deixar bem claro que rejeito qualquer tipo de tratamento mais ou menos “próximo” como este “meu caro”, que me seja dirigido por anónimos.
Tenho nome, tenho rosto, o meu email é conhecido em diversas instâncias (oficiais e privadas).
Por isso não admito ser confundido com gente que não tem coragem de se identificar e ainda assim pretende dar lições a quem não precisa delas. E muito menos admito discutir a minha condição de professor com base na área de conhecimentos científicos que lecciono.
Um professor, tal como concebo a profissão, primeiro é professor e só depois é professor de qualquer disciplina.
Por pensar assim e agir de acordo com este princípio é que afirmo, sem receio de ser contraditado, que as políticas educativas levadas a cabo pelo governo Pinto de Sousa através da acção de Maria de Lurdes Rodrigues são profundamente centralistas, controleiras e destruidoras da Escola Pública de Massas, com vista à criação de condições para o aparecimento de uma escola pública degradada e desqualificada para os pobres e de um ensino privado qualificado e financeiramente só acessível às elites.

Os críticos e a justiça

20 Domingo Abr 2008

Posted by fjsantos in associativismo, cooperação, liderança, luta

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Estratégia

Por uma questão de justiça, seria aconselhável não se fazerem julgamentos sumários. Nesse sentido, aconselho os críticos a usarem alguns minutos para ouvir quem condenaram, sem direito a contraditório.

Entrevista de Mário Nogueira

Por quê desistir agora, gente de pouca fé?

19 Sábado Abr 2008

Posted by fjsantos in cidadania, escola pública, luta

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Combate político

O governo PS leva já mais de três anos de actividade regular, sistemática e concertada contra a Escola Pública de Massas e contra os professores. Contra todos, isto é, contra os seus representantes, que foram excluídos do diálogo, mas também contra os que nas escolas trabalham quotidianamente com os seus alunos, tentando muitas vezes fazer o impossível, que é resolver na escola os desastres humanos que políticos inábeis ou sem escrúpulos causam a toda a sociedade.

Durante três longos anos todos pareciam estar estranhamente anestesiados e sem capacidade de reacção. É verdade que sempre se ouviram algumas vozes mais reflexivas procurando alertar para os disparates que iam sendo cometidos, para as ilegalidades a que o ME recorria para impor a sua vontade e para o abismo a que as políticas educativas estavam a conduzir a escola pública. Mas no interior das escolas fomos sempre mais do que minoritários, uma espécie de extra-terrestres a quem ninguém ligava, ou a quem se ouvia com complacência, mas sem atenção.

Quando o ministério começou a impor condições de trabalho que violavam claramente o estatuto profissional que estava em vigor, como foi o caso dos horários de trabalho, os sindicatos ainda esboçaram uma tentativa de mobilização nas escolas. Mas quantos professores entregaram nas suas escolas os pedidos de pagamento de horas extraordinárias pelas substituições realizadas? Refiro-me aqui à data em que elas foram feitas e não aos milhares de requerimentos entregues já este ano, em consequência das decisões dos tribunais transitadas em julgado. Nessa altura a maior parte dos professores não acreditou ser possível e não quis ouvir, nem os conselhos dos sindicatos, nem as vozes dos extra-terrestres que resistiram.

Foi assim que o ECD acabou por ser aprovado, sem grande mobilização dos professores contra aquela aberração. Os sindicatos de professores foram deixados nas margens mínimas da negociação (sendo encenada uma farsa negocial, sem que as suas propostas chegassem a ser acolhidas) e a contestação encetada não conseguiu promover a unidade sindical e muito menos o empenhamento dos professores nas escolas.

A seguir passou-se o mesmo com o concurso de titulares. Se com o ECD que interessava a todos os professores não houve mobilização, com este concurso, que dizia respeito a apenas uma parte, ainda foi mais difícil organizar a contestação. E mais injustiças se acrescentaram ao rol das anteriores.

Até que chegámos aos meses de Dezembro 07/ Janeiro 08 e de repente caíram em cima da cabeça de todos nós os últimos instrumentos da fúria assassina com que o ME pretendia dar o golpe final à escola pública. Primeiro a proposta do novo regime de gestão, anunciada e apresentada na última semana do 1º período; a seguir e de enxurrada o decreto do Ensino Especial, o novo Estatuto do Aluno e o decreto da “Avaliação”/Classificação profissional.

E aí, finalmente, o povo acordou. Primeiro estremunhado, com dois ou três expondo as suas críticas na blogosfera, com uns quantos fazendo agitação nas suas escolas e com alguns mais a procurarem transformar essa contestação virtual em aproximação real de vontades, de pessoas vivas em encontros e reuniões presenciais.

No curto espaço de quatro meses passou-se de uma situação de anomia da classe e de um poder incontestado e esmagador do ME, para uma situação em que os professores passaram a ser ouvidos e respeitados pela opinião pública e pela opinião publicada. Os movimentos autónomos de professores passaram a ser uma realidade aceite pela comunicação social, mas também pelas organizações sindicais. A mobilização dos professores promoveu e consolidou uma unidade entre dirigentes sindicais impensável durante longos anos e que se consubstancia na firmeza com que a Plataforma Sindical continua a contestar em uníssono as políticas educativas.

Ao mesmo tempo o governo e o ministério sentiram-se obrigados a negociar questões que do seu ponto de vista estavam fechadas. Desde Janeiro que todo o discurso do ME ia no sentido da aplicação integral do DR 2/2008 num conjunto de escolas em que os PCE’s estavam a cumprir à risca as determinações ministeriais. O conselho de escolas tinha substituído os sindicatos na negociação da aplicação das medidas governamentais nas escolas. O CCAP, presidido por uma antiga inspectora geral e constituído maioritariamente por personagens ligadas ao PS (independentemente de terem ou não as quotas em dia), era o único responsável pelo acompanhamento do processo de avaliação, o que garantiria a inexistência de crítcas sérias e coerentes às aberrações de que o modelo do DR 2/2008 está inundado.

Fazendo este curto balanço, confesso ficar perplexo com a forma como alguns professores e os movimentos em que se integram resolveram manifestar-se contra a posição da plataforma sindical. Será que não se deve considerar um ganho o facto de em todas as escolas do país se realizar este ano uma avaliação mínima uniformizada. Ou será que também não é um ganho garantir a continuação de negociações em torno de todas as questões que são inaceitáveis para os professores, a saber: revisão do ECD com retorno à carreira única; revisão do modelo de gestão; revisão do modelo de avaliação; revisão do diploma sobre o ensino especial.

Alguém acha realista , num período em que já se sente o cheiro de eleições no ar, conseguir em algumas semanas que o governo volte atrás nas políticas que constituiram a sua bandeira durante toda a legislatura? Alguém acha que, sem luta e sem um combate feroz, Pinto de Sousa vá mudar de política a meia dúzia de meses das eleições, fazendo um hara-kiri político?

Os meses que se avizinham são fundamentais. A unidade entre todos os professores é uma necessidade premente e se pela primeira vez em três décadas os dirigentes sindicais foram capazes de ultrapassar rivalidades, em prol da unidade e eficácia da luta, é ridiculo que sejam aqueles que mais clamavam pela necessidade de unidade e mobilização que venham agora deitar tudo a perder.

Sendo assim, faz sentido a pergunta: POR QUÊ DESISTIR AGORA, GENTE DE POUCA FÉ?

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