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2011
31 Sexta-feira Dez 2010
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30 Quinta-feira Dez 2010
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Conforme sugerido no post anterior, procurarei agora abordar as competências e obrigações dos actores envolvidos na educação das crianças e jovens, fazendo uma breve incursão sobre que aspectos da sua acção devem ser escrutinados pela sociedade. Para o fazer irei recorrer à perspectiva de Andrew Davis e John White, que consideram ser um erro focar o olhar exclusivamente sobre a escola e os professores, na medida em que as responsabilidades relativas à educação dos cidadãos, no sentido de os dotar das ferramentas básicas para organizarem a sua vida pessoal e profissional tornando-se em simultâneo cidadãos bons e úteis para a sociedade, têm que ser partilhadas pelas instituições cuja acção influencia directamente o desenvolvimento das crianças e jovens. Essas instituições são a Família, o Governo e a Escola.
Considerando que a família, em particular os pais, acompanham de muito perto a criança desde o seu nascimento até à sua entrada na vida social, uma questão tem que se colocar à partida quando se fala de prestação de contas relativamente ao papel dos pais na educação: pode e/ou deve a sociedade questionar a forma como a criança é educada em casa?
Esta questão leva-nos por caminhos onde se cruza o papel do estado e a liberdade de escolha das famílias, qual o papel da comunidade na educação dos seus filhos face à dimensão social do bem educativo, ou onde começa o direito da sociedade determinar o currículo escolar e termina o direito do indivíduo fazer as suas próprias escolhas sobre a escolarização e a partilha de valores com a sociedade em que vive.
Será dentro dos limites desta discussão que se poderá definir o que é, para a sociedade, um bom trabalho parental na educação das crianças e jovens. Sendo certo que é relativamente fácil apontar aspectos negativos, como a negligência ou o abuso infantil, difícil é decidir se uma sociedade democrática deve esperar que os pais ensinem aos seus filhos algumas das matérias e conteúdos entretanto escolarizados, como a introdução à língua materna, saber ler escrever e contar, a apreciação e usufruto de bens culturais, ou a formação cívica e moral. Da mesma forma poderemos questionar-nos se a sociedade pode/deve responsabilizar os pais quanto à exposição dos seus filhos às tecnologias modernas, como a televisão, os computadores, a Internet ou os vídeo-jogos.
De modo semelhante devemos perguntar-nos sobre o que é um bom trabalho do governo relativamente à educação dos cidadãos do seu país.
O normal, neste caso, é fazermos incidir o foco nas questões do currículo e dos exames. Veja-se, de resto, que as críticas mais fortes ao governo, que surgem na comunicação social, se centram nestes dois aspectos considerados centrais por parte da maioria dos comentadores encartados.
A questão dos exames é colocada aqui na perspectiva de que compete ao governo construir um mecanismo sólido de avaliação da eficácia das suas medidas educativas e de controlo a posteriori da forma como a escola e os professores cumprem a missão que lhes é superiormente atribuída. Desta forma, saber se o governo está a fazer um bom trabalho na educação é testar se os objectivos definidos para o currículo são alcançados, procurando também aferir se estes são bons objectivos.
Mas, aqui chegados, importa questionar o que são bons objectivos? Partindo do pressuposto de que uma sociedade democrática deseja que todas as crianças se desenvolvam de forma completa e harmoniosa, tornando-se assim cidadãos bons e com capacidade de exercitar os seus direitos, cumprindo os seus deveres, convém explicitar de que forma esse grande objectivo se pode concretizar através das medidas educativas do governo.
Podemos considerar que ser um bom cidadão envolve virtudes como a tolerância, respeito pelo outro ou preocupações com o bem estar alheio. Mas também podemos considerar a necessidade de compreensão da própria sociedade em questões económicas e sociais, ou de gestão da diferença. Poderíamos ainda acrescentar mais uns quantos itens a esta lista, mas o que importa sublinhar é que o governo deve prestar contas à sociedade sobre a forma como garante que estes objectivos são tidos em conta na educação dos cidadãos e como é possível saber se são ou não alcançados. O que remete para muito mais do que a prestação de contas em exames nacionais.
Digamos que a prestação de contas, por parte do governo, envolve a definição de objectivos adequados à sociedade e a provisão dos meios necessários para que esses objectivos sejam efectivamente alcançados, não se ficando por meras declarações de intenção.
Quanto à prestação de contas que compete à escola e aos seus profissionais, ficará assim delimitada de forma mais clara, não sendo possível exigir-lhe o que corresponde a competências e obrigações de outros actores.
Existem duas formas de realizar essa prestação de contas. Uma centrada nos resultados e outra nos procedimentos.
Embora as correntes com maior expressão mediática, por corresponderem ao mainstream neoliberal, se inclinem para a prestação de contas centrada nos resultados, a literatura científica tem identificado muitas fragilidades nesta abordagem.
De facto, saber se uma escola é eficaz, apenas com base nos resultados obtidos pelos seus alunos em exames nacionais, implica, entre outras coisas:
O que nos remete para a necessidade de centrar também a prestação de contas da escola e dos professores ao nível dos procedimentos, matéria que tentarei abordar noutro(s) post(s).
30 Quinta-feira Dez 2010
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Numa altura em que se prepara o regresso em força da ADD às escolas, com protagonistas para todos os gostos, convinha tentar ver um pouco para além do imediato e pensar que é necessário que cada professor saiba um pouco mais sobre avaliação das escolas e dos seus profissionais, prestação de contas no sistema de educativo e quais os seus objectivos, eficácia das escolas e a sua relação com o bem público numa sociedade democrática.
Este tipo de reflexão é útil e necessário porque:
Uma outra utilidade de reflectir sobre quem é escrutinável e sobre que aspectos da sua actividade deve ser exercido o escrutínio, quando falamos de educação e de escola pública, é impedir que o desvario dos mangas de alpaca volte a dominar a vida nas escolas. Esse é um risco com que já há quem se esteja a confrontar, mas que a partir da próxima semana irá ser muito agravado porque:
Dito isto considero que é imprescindível elencar sobre quem e o quê deve recair a prestação de contas, no que à educação das crianças e jovens diz respeito, partindo do pressuposto que vivemos numa sociedade que quer continuar a ser democrática e se rege por princípios de solidariedade, justiça e equidade.
E, do meu ponto de vista, numa sociedade democrática, a prestação de contas sobre a educação das crianças é uma obrigação dos pais, da escola pública e do Estado. Em dimensões diferentes, mas necessariamente complementares. Será a partir da identificação dos aspectos específicos da acção de cada um destes actores que poderemos construir o núcleo do que será a avaliação do desempenho da escola e, concomitantemente, do trabalho dos seus professores, tanto numa dimensão colectiva e organizacional, quanto numa dimensão individual e eminentemente pessoal e profissional.
Esse será o objecto de outro post.
Nota: o GELOLP – Grande Educador e Líder Opinador sobre a Luta dos Professores – mostrou-se preocupado com a minha fraca e irregular produção escrita neste blogue. Recomendou até a um meu amigo que me pedisse para escrever. Quero dizer-lhe (ao GELOLP) que há mais vida para além da blogosfera, como o próprio de vez em quando chega a admitir e ainda ontem voltou a fazer. Assim, para mim este blogue só faz sentido enquanto forma de escrever coisas, que e quando me apeteça. Nunca como uma obrigação, já que não sou, nem quero ser, jornalista, articulista ou comentador avençado. Escrever por obrigação para com leitores, ou para manter/aumentar audiências, é uma coisa que não me passa pela cabeça.
Bom Ano a todos, e ao GELOLP também.
21 Terça-feira Dez 2010
Posted acção pública, avaliação de desempenho, educação, políticas públicas
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Daqui a pouco mais de duas semanas faz três anos que foi publicado o DR 2/2008, que regulamentava o modelo de avaliação de professores concebido para alcançar dois objectivos, impossíveis de realizar em simultâneo e com um mesmo instrumento.
O modelo que por simplificação chamarei de MLR1 pretendia, em primeiro lugar, fazer uma avaliação sumativa do desempenho dos professores, através da análise dos outputs (resultados escolares) fazendo a ligação desse desempenho com o desenvolvimento da carreira e a remuneração, quer através do salário, quer através de prémios pecuniários pontuais.
Secundária e residualmente, o modelo apontava para outro objectivo que era o da melhoria das práticas lectivas.
Ora a experiência de outros países aconselhava muito mais cuidados e preparação de todo o processo.
O resultado da pressa, falta de estudo, falta de preparação e excesso de arrogância foi, passado um ano, em Janeiro de 2009, ter que se suspender o MLR1 , inventar à pressão o MLR2 e o MLR3 (vulgo simplexes 1 e 2) para em pouco mais de três meses fingir que se fazia o que devia ter sido realizado ao longo de dois anos lectivos.
Estamos agora, mais coisa menos coisa, numa situação muito semelhante à de Janeiro de 2009. Um pouco pior porque o DR 2/2010, e sobretudo os padrões de desempenho docente a que ele deu origem, têm origem numa ignorância conceptual profunda de quem os concebeu, tornando impossível dar sentido e justiça à utilização dos descritores propostos para cada nível de cada indicador e respectivo domínio, em cada uma das quatro dimensões.
Significa isto que agora, por maioria de razões, a única saída possível é não realizar o impossível e pressionar o ministério a suspender este modelo, utilizando um simplex versão xpto e negociando um modelo que permita avaliar o trabalho docente para melhorar o ensino e os resultados escolares dos alunos.
Para isso é imprescindível que a grande maioria dos relatores se recuse a fingir que é capaz de distinguir, nas evidências e no trabalho dos seus colegas, um Excelente de um Muito Bom ou de um Bom, ou descortinar a forma de atribuir um Regular em vez de um Bom, seja qual for o descritor, o nível, o indicador, o domínio ou a dimensão que vai avaliar.
Será através da recusa em participar numa farsa, que ainda por cima é injusta e penalizadora de avaliadores e de avaliados, que poderemos bloquear o processo e exigir a sua suspensão.
É certo que os novos directores estão hoje ainda mais determinados em agradar às suas chefias e defender o seu posto de trabalho. Mas isso só pode servir para reforçar a nossa determinação, para pedirmos uma outra avaliação, séria, justa, exequível e cujos efeitos sejam positivos para a escola e para as aprendizagens dos alunos.
Essa outra avaliação que se reclama tem que assentar em alguns pressupostos:
19 Domingo Dez 2010
Posted 3ª via, ambiguidade, ética
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Depois de no post anterior ter sido visitado por alguns comentadores ligados ao “sindicalismo à PS” (Nando e Atento), hoje tive honras de resposta oficiosa desta tendência no site do SPGL, em forma de editorial, mas sem que a direcção como colectivo seja responsabilizável, na medida em que José António Faria Pinto faz questão de assumir exclusivamente a autoria da prosa e, embora tenha sido eleito dirigente sindical do Oeste pela lista da direcção, não é o seu presidente, nem sequer um dos vice-presidentes.
Com a celeridade habitual, o meu confrade blogosférico que não perde uma ocasião para mandar alguma(s) alfinetada(s) apressou-se a colocar o link para o texto de JAFP, fazendo questão de estabelecer uma relação com o meu blogue, mas sem dar indicação do texto que originou a resposta do “sindicalista do PS”.
De facto, como também é possível ler em alguns dos comentários que PG preferia não terem sido feitos ao seu post, o texto de Faria Pinto é esclarecedor da forma como os “sindicalistas do PS” minam por dentro a credibilidade de instituições que nasceram e existem para defender os direitos dos trabalhadores e não para os anestesiar e tornar mais manobráveis pelo capital.
Mas vejamos, ponto por ponto, o que existe de errado na postura de Faria Pinto, tal como na de João Paulo Videira e todos quantos acham “natural” a circulação entre o sindicalismo e o governo.
16 Quinta-feira Dez 2010
Posted ambiguidade, ética, ética republicana e lei, cidadania
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O João Paulo Videira, membro da direcção do SPGL na quota dos “sindicalistas do PS” e, por via disso mesmo, membro do secretariado nacional da FENPROF, abandonou as lides sindicais e resolveu dedicar-se a tempo inteiro ao seu governo e ao seu partido.
O facto, tornado público na comunicação social de hoje, e glosado em alguns posts blogosféricos aqui, aqui, aqui e também aqui, era do conhecimento dos professores atentos à vida sindical há já algum tempo. Em devido tempo e no local próprio foram registadas as reacções correctas e necessárias, que me abstenho de comentar, mas que revelam muito das diferenças de carácter entre os membros da direcção do sindicato a que JPV pertencia. É que se houve quem calasse, também houve quem tenha tomado a posição certa e dito as palavras que se impunham.
No entanto, ao olharmos para a decisão tomada pelo cidadão-professor-sindicalista JPV, há algumas questões que me parece importante destacar. Sobretudo porque integro um colectivo que se vem opondo, no seio do SPGL, ao sindicalismo reformista e alegadamente “responsável” que é o de JPV. O projecto que defendemos é o do sindicalismo de classe, que apenas se compromete com os interesses dos trabalhadores e luta contra as injustiças e a exploração. O projecto reformista, de que JPV é um dos representantes, acha possível conciliar os interesses de quem trabalha com os de quem vive dos lucros produzidos pela exploração desse trabalho.
Uma última palavra a propósito da alegada paternidade do JPV na proposta de ADD da FENPROF. É verdade que o JPV trabalhou (e fez algumas aparições públicas divulgando) uma proposta de avaliação alternativa ao modelo do ministério. Mas não é verdade que a proposta apresentada pela federação seja de sua autoria exclusiva. A versão final resultou de um trabalho que teve como base o trabalho de JPV, sobre o qual trabalharam outros membros do secretariado que não se mudaram, nem mudarão, para o ministério porque têm responsabilidades dirigentes no sindicalismo e não andam à procura de melhorar o seu salário.
Além de que, essa foi uma proposta datada e o que se sabe hoje, sobre avaliação de professores nos países pertencentes à UE, à OCDE e a outros espaços, é muito mais do que se sabia há dois anos atrás.
15 Quarta-feira Dez 2010
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Quando falamos de avaliação de professores emergem de imediato duas dimensões – a sumativa e a formativa. Esta categorização relaciona-se com os objectivos perseguidos pelo modelo concreto – estabelecer um juízo à posteriori sobre os resultados, ou definir estratégias de melhoria das práticas lectivas, que conduzam a maior qualidade do ensino.
Assumindo que tanto a qualidade do trabalho do professor, como a qualidade do ensino são importantes, um processo de avaliação ideal deve dirigir-se simultaneamente para a eficiência e a equidade do processo de ensino. Dito de outra forma, deve garantir-se que o ensino providencia a aquisição de aprendizagens que permitam aos estudantes alcançar os standards para viver na sociedade do conhecimento, ao mesmo tempo que assegura oportunidades de êxito e que estas são acessíveis a todos os estudantes, independentemente da sua condição social e económica.
A avaliação sumativa constitui uma forma de saber se os professores estão a adoptar as acções e as “melhores práticas”, para garantir bons resultados escolares dos estudantes. A dimensão sumativa da avaliação de professores produz informações cruciais sobre as práticas e as performances dos professores, por comparação com os standards considerados como um “bom ensino”. Desse ponto de vista, a avaliação sumativa é uma fonte indispensável de documentação na prestação de contas em relação ao profissionalismo docente, se os standards do “bom ensino” forem escrutinados positivamente pelos profissionais e pelas suas organizações representativas.
No entanto a introdução de mecanismos de accountability na avaliação de professores deriva da relação assimétrica que existe entre as práticas efectivas dos profissionais e a capacidade de os outros interessados no processo (administração educativa, gestão das escolas e pais) terem informação sobre essas práticas. Trata-se do “Problema do Principal-Agente” utilizado frequentemente nas teorias económicas e da ciência política.
Esta é uma primeira tensão crítica em torno da dimensão sumativa da avaliação, cuja génese se encontra nos interesses divergentes dos diferentes actores, que olham para uma mesma realidade a partir de olhares diversos e antagónicos.
Para lá da prestação de contas e do reconhecimento do trabalho dos professores, a avaliação pode servir para melhorar as práticas do próprio professor. A avaliação formativa refere-se a uma avaliação qualitativa sobre as práticas lectivas efectivas, destinada a identificar os aspectos fortes e fracos do trabalho do professor e a providenciar as oportunidades adequadas de desenvolvimento profissional. O que está em causa é ajudar o professor a reflectir e aprender sobre as suas práticas, com vistas a poder melhorá-las.
A avaliação formativa trata-se de um processo em que o avaliador fornece ao avaliado informação relevante e construtiva, indicando o nível de desempenho em que este se encontra e sugerindo-lhe formas de melhorar.
Desse modo torna-se possível que a própria escola estabeleça programas de formação e desenvolvimento profissional para os seus professores, adaptando-os às necessidades dos profissionais, mas também aos interesses da organização.
Na sua dimensão formativa, a avaliação pode ser a base para a melhoria do ensino, constituindo uma oportunidade de desenvolvimento profissional ao longo da vida dos professores.
Avaliação sumativa e avaliação formativa perseguem geralmente objectivos conflituantes, embora não totalmente incompatíveis. De uma forma sintética podemos considerar que a primeira, destinando-se a fazer juízos sobre os resultados, é uma “avaliação do ensino” e a segunda, ao sublinhar os meios para melhorar as práticas lectivas, é uma “avaliação para o ensino”.
12 Domingo Dez 2010
Posted acção pública, cidadania
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Subscreve aqui:
http://form.fenprof.org/?sid=98225
12 Domingo Dez 2010
Muito embora continue a existir muita gente que insiste na ideia de que a fabricação das políticas segue uma racionalidade linear assente numa visão hierárquica da sociedade, a verdade é que há muito os governos, em particular nas sociedades que pretendem salvaguardar uma roupagem democrática, utilizam os mais diversos instrumentos para conduzir a coisa pública da forma mais despolitizada possível e procurando esconder do escrutínio dos cidadãos as opções ideológicas que estão na base da decisão política.
No contexto ocidental, a acção de uma organização como a OCDE serve às mil maravilhas esse desiderato.
Na sua página de apresentação pode ler-se que o núcleo de valores em que baseia a sua acção é constituído por:
A organização, que é constituída por 34 países que alegadamente aceitam os princípios da democracia liberal representativa, embora nem todos sejam praticantes convictos desse princípios, definiu como sua missão «promover políticas que melhorem a economia e o bem-estar das pessoas em todo o mundo».
Para isso a OCDE «providencia um fórum em que os governos podem trabalhar em conjunto para partilhar experiências e procurar soluções para problemas comuns. Trabalha com os governos para tentar perceber o que é que guia a mudança a nível económico, social e ambiental. Mede a produtividade e os fluxos globais de negócios e investimentos. Analisa e compara dados para prever tendências futuras. Define standards internacionais num conjunto vasto de matérias, desde a segurança dos produtos químicos e das centrais nucleares até à qualidade dos pepinos.»
A OCDE «também olha para assuntos que afectam a vida quotidiana das pessoas, como quanto pagam em impostos e segurança social, ou a quantidade de tempo de lazer de que dispõem. Compara como é que os sistemas educativos dos diferentes países estão a preparar os seus jovens para a vida moderna e como é que os seus sistemas de pensões vão cuidar dos idosos».
Como se percebe, a OCDE pretende fornecer aos governos que a integram um conjunto de soluções técnicas, baseadas em evidências e na replicação das melhores práticas. Tudo de uma forma apolítica, como se governar não tivesse que passar pela decisão entre escolhas eminentemente políticas.
No que diz respeito à Educação, campo em que pretendo situar esta reflexão, encontramos na produção escrita da OCDE muita informação que é relevante, pode ser e é utilizada na decisão política, mas é subsidiária de uma agenda política clara e inequívoca, que passa pela aceitação das orientações neoliberais da globalização do capitalismo financeiro hegemónico.
Para o caso português interessa, sobretudo, fixar a atenção nos relatórios PISA e em vários estudos e relatórios sobre Avaliação das Escolas e dos Professores. Em ambos os casos as principais linhas de orientação estão conectadas com as teorias do capital humano e da eficácia da escola.
Uma vez que nem a OCDE nem a UE têm uma política educativa comum, compete a cada governo definir a sua própria política. O governo português, como todos os outros, decide por si e de acordo com as suas próprias opções políticas e ideológicas, mas escuda-se nos instrumentos de governança para encobrir essas opções.
Foi o que fez no mandato anterior, quando utilizou os resultados PISA para justificar um conjunto de medidas, como podemos perceber pela leitura do artigo de Natércio Afonso e Estela Costa, publicado na Sísifo nº 10 “A influência do PISA na decisão política em Portugal”:
Descansem, pois, todos os que receiam que seja a utilização dos resultados do PISA 2009 que vai criar mais dificuldades às condições de trabalho e remuneratórias dos professores portugueses. A decisão política sobre o assunto há muito foi tomada. A sua aplicação ainda não se verificou, em toda a amplitude desejada pelos decisores políticos, porque os professores têm conseguido manter níveis de organização e mobilização (apesar de todos os escolhos e contra o desejo de uns quantos “expertos” da luta) que vão servindo para introduzir pequenas mudanças nas políticas educativas e manter viva a ideia de uma escola pública de qualidade e ao serviço da sociedade.
06 Segunda-feira Dez 2010
Depois de um ano de aparente acalmia no trabalho das escolas, a ADD promete voltar a transformar-se no vulcão tumultuoso que destrói as relações entre professores e prejudica o ensino, com inevitáveis repercussões nas aprendizagens dos alunos.
Trata-se de um processo que continuará a manifestar-se ciclicamente, enquanto o modelo de avaliação dos professores em vigor não for integralmente substituído por outro que contenha uma diferente racionalidade, utilize critérios justos e adequados e seja aplicado por um corpo profissional preparado, credenciado e reconhecido por todos.
Este modelo padece de um conjunto de males que estão há muito tempo identificados, mas que, teimosamente, são mantidos em vigor pela administração, entre os quais:
Os principais objectivos de um sistema de avaliação de professores devem incluir o licenciamento(*), a efectivação e o desenvolvimento profissional, tendo em vista a melhoria do desempenho da escola. (*) O licenciamento corresponde ao tempo de estágio e indução profissional, sob tutela de um professor mais experiente e com formação adequada.
O carácter dual perseguido pelo modelo da ADD que temos é inalcançável, porque a necessidade de uma componente formativa na avaliação é incompatível com a valorização excessiva da componente sumativa que tem consequências directas na carreira, ao colocar em competição profissionais que precisam de cooperar para obterem melhores resultados.
Para alcançar esses dois objectivos torna-se necessário separar as duas componentes da avaliação, entregar a sua aplicação a corpos profissionais distintos e estabelecer uma ligação entre as duas que seja clara, transparente e justa.
A avaliação formativa, que necessita de observação da actividade lectiva e de uma reflexão sobre essa prática, tem que ficar a cargo de um corpo de professores cuja experiência profissional não seja questionável e que, cumulativamente, deve ter formação adequada em supervisão e avaliação de professores. Deve ter um carácter qualitativo, destinar-se a promover o desenvolvimento pessoal e profissional e a corrigir deficiências detectadas na formação inicial e/ou contínua. A observação de aulas deve ser comum e recíproca entre avaliados e avaliador. O trabalho de avaliação não deve implicar a redução total da componente lectiva do avaliador, na medida em que este precisa de manter uma ligação efectiva à prática e é importante que os avaliados possam também observar as aulas de alguém mais experiente e treinado.
A avaliação sumativa deve ficar a cargo da administração/gestão da escola, contemplando os objectivos organizacionais e tendo em conta a informação qualitativa resultante da avaliação formativa, nomeadamente no que diz respeito aos aspectos relacionados com a formação contínua e actualização profissional.
Tendo em atenção que a gestão das escolas/agrupamentos já está profissionalizada e, mesmo que venha a ser possível recuperar formas de gestão com alguma democraticidade, a tendência continuará a ser de crescente profissionalização, os directores deverão assumir a responsabilidade efectiva pela gestão do pessoal que dirigem, o que inclui a responsabilização pelas consequências dos seus actos administrativos na progressão da carreira dos professores que dirigem. Também por isso o actual modelo de ADD é iníquo, na medida em que os desresponsabiliza, empurrando para os avaliadores/relatores a responsabilidade pela atribuição de uma nota que tem consequências graves na vida dos avaliados.