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O comissário europeu Olli Rehn ameaçou recentemente o governo grego de que ou cumpre o plano de estrangulamento dos salários e privatizações ao desbarato, ou não haverá mais nenhuma tranche do empréstimo acordado com os credores internacionais.
O governo grego possui uma maioria absoluta no parlamento, o que lhe permite passar a maior parte da legislação necessária ao cumprimento do acordo. No entanto, para ir tão longe como pretendem os vampiros da finança internacional, é preciso uma maioria mais ampla que inclua o maior partido da oposição. Uma vez que este não parece convencido a participar na dança o sr. comissário resolveu passar ao plano B, que consiste em fechar a torneira até que os gregos se disponham a suspender a democracia, de forma a entregarem definitivamente a economia nas mãos das corporações financeiras multinacionais.
O que se passou na Rússia, nos finais de 1993, tem algumas semelhanças. Nessa altura Ieltsin e o seu governo estavam apostados em aplicar a ortodoxia neoliberal recomendada pelos Chicago Boys, liderados pelo mediático Jeffrey Sachs. Quando o parlamento russo, democraticamente eleito num processo aclamado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, resolveu cumprir e fazer cumprir a legalidade democrática, Ieltsin respondeu dissolvendo esse parlamento e suspendendo o processo de democratização com o aplauso e o financiamento dos governos ocidentais.
Foi nessas circunstâncias que a “ajuda” internacional foi libertada e em troca se aceleraram as privatização das empresas estatais, num processo de partilha entre alguns apparatchiks e os grandes grupos financeiros internacionais. Graças ao apoio logístico e financeiro destes novos oligarcas Ieltsin conseguiu vencer as eleições de 1994, e a partir daí avançar com a parte mais lucrativa do seu programa de aplicação da contra-revolução neoliberal: a venda, a preços de saldo, das empresas ligadas aos sectores essenciais da economia russa.
Para se ter uma ideia do roubo perpretado contra o povo russo basta dizer que a companhia petrolífera Yukos, que controla mais petróleo do que o Kuwait e rende mais de 3 mil milhões de dólares por ano, foi vendida por apenas 309 milhões de dólares. Mas há muitos mais exemplos como o de uma enorme fábrica de armas vendida por 3 milhões de dólares (o que equivale ao preço de uma casa de campo de luxo nos Estados Unidos) , ou o da venda da Norilsk Nickel que produzia 1/5 do níquel mundial, por apenas 170 milhões de dólares.
O que hoje acontece com os países periféricos da UE é muito mais do que um mero ataque especulativo contra o euro. Insere-se no plano meticulosamente preparado pelos homens da escola de Chicago, materializado no chamado “consenso de Washington” e executado sistematicamente desde a década de 70 començado nos países da América do Sul até ao coração da antiga União Soviética, passando pela China e pelos “tigres asiáticos”.
Em todos os países em que esse plano tem vindo a ser aplicado existe uma coisa em comum – a sua concretização só é viável através de um processo de anulação, ou pelo menos suspensão temporária da democracia. A anterior líder do PSD teve a ousadia de fazer essa proposta concreta, mas saiu derrotada. Agora, já sem a sua presença, a troika portuguesa recorre à troika externa para aplicar também esse conceito de suspensão dos direito democráticos. É o que se preparam para fazer a partir de dia 6 de Junho, propondo-se negociar entendimentos a três mesmo contra a vontade que os portugueses vierem a manifestar nas urnas.