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A intervenção estrangeira sobre a economia portuguesa, que nos é apresentada como a ajuda salvífica para reparar o despesismo do nosso “estado social”, segue fielmente os preceitos da cartilha neoliberal que defende a economia de mercado, na melhor tradição do “rigor científico” da escola económica de Chicago.
A receita básica resume-se a três ideias-chave: redução das despesas do estado, privatização da economia e abolição do controlo estatal sobre o preço dos bens e serviços, incluindo aqui o valor do salário. Que esta receita tenha um custo pesado em termos de recessão económica e inflação é coisa que pouco preocupa os seus mentores pois crêem sustentar-se num rigor técnico científico, fundado no saber da escola do pensamento económico que lidera a verdadeira conquista global do planeta em nome da liberdade e do bem estar.
Infelizmente essa narrativa do “bem-estar e da liberdade” omite o facto de que estes são apenas possíveis para uma pequena minoria, arrastando cada vez mais seres humanos para a pobreza e a miséria.
Seguindo as teorias dos economistas da escola de Chicago, e do seu guru Milton Freedman, os responsáveis pela política neoliberal em que Portugal se afunda aceitaram agora aplicar-nos um tratamento de choque, que só não é exactamente igual ao que foi aplicado no Chile de Pinochet porque não vivemos o terror de uma ditadura. Mas no plano económico o tratamento de choque será em tudo semelhante e não é a diferença entre a explicitação da receita privatizadora, protagonizada pelo PSD e CDS, ou a forma camuflada e dissimulada como o PS segue a mesma cartilha que inverterá este processo em que a riqueza é aspirada para o topo, ao mesmo tempo que grande parte da classe média é simplesmente liquidada.
O que temos como propostas da Troika interna, sob apertada vigilância da Troika externa, já não é nem um estado-social nem sequer um estado-regulador, mas sim um estado-corporatista no sentido que lhe é atribuído por Naomi Klein quando o identifica como uma aliança entre um estado-mínimo, que se limita a garantir a segurança dos negócios, e as grandes empresas do sector financeiro e da distribuição, cujos lucros assentam na especulação financeira e na circulação livre, instantânea e imaterial dos capitais.
Esta é uma aliança cujo êxito depende, de forma decisiva, da incapacidade dos cidadãos reagirem e se organizarem. É por isso que os pequenos focos de reacção que vão sendo ensaiados em torno de algumas reivindicações concretas devem conseguir passar para outras formas de coordenação e organização. É preciso, é mesmo urgente, que todos quantos percebem a armadilha em que os partidos do “arco do poder” nos colocaram consigam unir-se para concretizar uma política diferente.