Conhecida a equipa com que Pinto de Sousa começa a gerir o “dossier Educação” na nova legislatura, torna-se necessário fazer uma primeira leitura dos sinais que são enviados para a opinião pública e para os professores.
Fazendo uma ronda pela informação on-line, encontramos no JN um dos exemplos claros de ambiguidade, apesar da aparente clareza:
A mensagem é clara: tudo muda no Ministério da Educação. Isabel Alçada, foi buscar Alexandre Silva, que presidia ao Conselho Científico para a Avaliação dos Professores, órgão que se escusou a emitir opinião sobre o modelo de avaliação a adoptar, e João da Mata, até agora director-geral e coordenador do Plano Tecnológico da Educação.
Começando por uma frase para iludir os mais incautos e menos esclarecidos, o texto diz que na Educação tudo vai mudar. Mas logo a seguir diz-nos, sem nada explicar, que os novos secretários de Estado são gente da maior confiança política do PS e da anterior equipa de MLR, uma vez que ambos desempenhavam cargos de alta responsabilidade na estrutura do ministério, por escolha da anterior ministra.
Já o Público apenas se limita a falar em renovação total, sem fazer qualquer referência às anteriores ligações de Alexandre Ventura e João Mata às políticas educativas do XVII governo:
A renovação de secretários de Estado é total no Ministério da Educação, onde Maria de Lurdes Rodrigues foi substituída por Isabel Alçada.
Aparentemente, a imagem que passa para os leigos é de que estamos perante um governo que está disposto a mudar tudo, e que genuinamente deseja pacificar a sua relação com a classe docente, que além de ter sido a mais atacada e vilipendiada, foi a que deu o mais significativo contributo para a diminuição do défice, graças ao congelamento das progressões e ao número de reformas antecipadas que se verificou entre os professores.
Mas o líder da bancada parlamentar do PS vai avisando, em entrevista ao i, que quem decidirá o rumo a seguir é o governo e, em última instância, o 1º ministro Pinto de Sousa:
“Compete ao Governo legítimo do país, cujo programa vai ser discutido para a semana na Assembleia da República, apresentar linhas de orientações neste sector [da Educação]. Depois compete aos grupos parlamentares participarem activamente num debate para se alcançarem as soluções, tendo sempre como ponto de partida as opções do Governo neste domínio”, defendeu Francisco Assis.
Na mesma declaração, o líder parlamentar socialista não se coibiu de dar a entender qual o “perfil” dos seus interlocutores privilegiados:
“Num espírito de diálogo, como aconteceu nesta reunião com a FNE, estou convencido que é possível encontrar soluções para o sector da Educação, que é crucial para qualquer país”, disse.
Depois do discurso que há uns meses atrás o 1º ministro foi fazer ao congresso da UGT, no qual afirmou que o sindicalismo responsável é o dessa central, por oposição ao sindicalismo da CGTP, este elogio ao “espírito de diálogo” da FNE (que foi sempre o calcanhar de Aquiles da Plataforma sindical) é um convite à “rendição” da FENPROF, apesar de não ter havido a coragem para verbalizar a ideia.
Se a isto somarmos o facto de Alexandre Ventura e João Mata serem dois seguidores indefectíveis de Pinto de Sousa e da anterior ministra Maria de Lurdes Rodrigues, talvez seja mais fácil perceber que o desejo de mudança do PS é apenas retórico.
Na verdade, o que núcleo estratégico que assessora Pinto de Sousa procura é quebrar a unidade dos professores contra as suas políticas. Para isso encena um discurso de mudança, que é reproduzido e ampliado por uma comunicação social acrítica e pouco informada, ao mesmo tempo que investe dois burocratas servis em funções de controlo político.
Concluída esta primeira fase, passa-se ao patamar seguinte que é o de tentar isolar a FENPROF e aliciar a FNE, ou algum dos outros pequenos sindicatos, para a assinatura de acordos que permitam ao governo aparecer como um campeão do diálogo.
A notícia da TSF, que anuncia a disponibilidade de um conjunto de escolas “alegristas” publicarem amanhã o calendário da ADD, é apenas o primeiro passo do aliciamento da gente “próxima” e “responsável”, para tentar isolar os resistentes:
Ouvida pela TSF, Maria Rosário Gama, directora da Escola Infanta D. Maria em Coimbra, explicou que houve uma reunião esta manhã, saindo do encontro a decisão das 24 escolas de Coimbra cumprirem a lei, mas na esperança de que o Governo recue e suspenda o modelo de avaliação dos professores.
É por tudo que as expectativas dos professores não devem ser demasiado optimistas e todos nos devemos preparar para a continuação da luta e da pressão, sabendo que agora já não existe na AR uma força de bloqueio contra a mudança urgente e necessária.