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A publicitação dos resultados dos exames nacionais do 12º e do 9º ano, utilizados pela comunicação social para satisfazer os apóstolos da livre escolha da escola (ao elaborarem classificações mais ou menos descuidadas das alegadamente “boas” e “más” escolas), é sempre um acontecimento anual.
Depois da “silly season”, só mesmo a “ramkings season” para animar as redacções de jornais, rádios e televisões.
O curioso é que também os professores são tomados por essa estranha febre, sempre ansiosos por descobrir se a escola em que trabalham (ou a escola dos filhos) é a melhor da paróquia.
Talvez porque essa loucura dos rankings continue a atormentar mesmo os que se declaram seus fervorosos combatentes, parece-me útil deixar uma pequena reflexão, a partir de um excerto de um livro que já citei no blogue. Trata-se da obra «Em Busca da Boa Escola – Instituições eficazes e sucesso educativo», de Jorge Ávila de Lima e foi editado pela Fundação Manuel Leão em 2008.
Quando a pesquisa sobre a eficácia da escola afirma que as escolas fazem a diferença, o que tem sido capaz de demonstrar é que elas variam na sua capacidade de fazer com que os alunos adquiram fragmentos de conhecimento e normas de comportamento típicas de uma determinada forma de sociedade. Por esta razão, diversos comentadores têm conotado o movimento das escolas eficazes com as tendências conservadoras e neo-liberais que têm ganho forte influência no mundo da política educativa contemporânea.
A este respeito, Laval (2003, p. 60) estabelece uma distinção útil entre a missão da educação na época humanista e na época neo-liberal. Segundo o autor, a educação humanista visava o desenvolvimento de todas as faculdades intelectuais, morais e físicas dos alunos: tinha por finalidade a emancipação intelectual das pessoas e por referência o ideal de um ser humano integral para quem o trabalho não constituísse ocupação exclusiva nem o sentido essencial da vida.
Na época neo-liberal, pelo contrário, a educação tende a resumir-se à formação das pessoas que integrarão a população “activa”, reduzindo a existência do ser humano à mera aplicação de conhecimentos operacionais no exercício de uma ocupação especializada ou de uma actividade considerada socialmente útil. A eficácia da escola não tem o mesmo significado, consoante nos situemos num ou noutro destes modelos antagónicos. Por isso, optar por uma definição de eficácia implica tomar uma posição de fundo sobre que escola queremos e, mais profundamente, sobre que modelo de sociedade preferimos.
Os desacordos existentes entre os investigadores da eficácia da escola e os seus críticos não representam, pois, divergências sobre simples factos, mas antes um confronto entre concepções distintas sobre a natureza e as finalidades da educação escolar (Elliot, 1996) e, mais globalmente, sobre que princípios essenciais devem presidir à organização da vida social. Os valores subjacentes ao trabalho de Edmonds (1979) e de Rutter et aI. (1979), não obstante a sua preocupação com a desigualdade entre os alunos, são a ordem, a uniformidade, a adesão às regras e a hierarquia (por exemplo, a importância de liderança hierárquica) (Perrone, 1989). Dito de outro modo, subjacente aos resultados da pesquisa sobre a eficácia da escola existe um conjunto de valores que parece constituir “uma ideologia de controlo social”, uma “estrutura de controlo coercivo” que deixa pouco espaço para o exercício do pensamento autónomo dos alunos durante o processo de aprendizagem (Elliot, 1996, p. 207), que nunca fez parte das preocupações dos investigadores desta área.