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A necessidade que os meios de comunicação social sentem de ir veiculando rumores, e com base neles construírem comentários sobre o avanço e recuo das negociações, decorre da curiosidade natural de saber o que se passa, mas também da feroz concorrência entre eles e da necessidade de os jornalistas agradarem às chefias e estas aos accionistas.
Aquilo a que temos assistido desde as eleições de dia 4 de Outubro, é que o tempo mediático está completamente desfasado do tempo parlamentar e que, desta vez, não consegue impor aos negociadores o seu próprio ritmo voraz de criação de factos e notícias.
O facto de se berrar que não há acordo nenhum, só porque quem tem coluna paga num jornal e opinião numa televisão ainda não conseguiu pôr-lhe a vista em cima, não é uma verdade irrefutável.
O que é verdade é que, quando existem negociações complexas, as matérias que têm que ser discutidas para se alcançar um acordo não podem ser tratadas na praça pública, sob pena de não se chegar a acordo nenhum.
As negociações para a constituição de um governo liderado pelo PS, integrando ou não membros indicados pelo BE, pelo PCP e pelo PEV e que seja apoiado por estes partidos, é complexa porque envolve quatro partidos e porque os pontos de partida de cada uma das equipas negociais tem algumas aproximações, mas também outras tantas divergências.
Para lá das semelhanças no que diz respeito às preocupações sociais, ao crescimento económico e do emprego, ao combate à precariedade, a salários e pensões justas, sabemos que existem divergências sobre as políticas concretas que resolvam esses problemas. Mas também existem, entre os partidos que negociam o acordo à esquerda, diferenças substanciais na forma como se faz o debate e a discussão política.
São essas diferenças na forma de decidir, que são mais rápidas quando o “chefe” decide do que quando a decisão é tomada colectivamente, depois de os organismos de direcção a discutirem, que justificam diferentes reacções às solicitações dos jornalistas. E é por isso que tanta gente se queixa de “falta de informação”.
A bem de uma solução de governo coerente e estável, o acordo que está a ser negociado e que brevemente virá a ser divulgado tem que manter-se reservado até ao momento em que o PR resolva aceitar essa solução.
Essa reserva significa a sua não divulgação pública. Mas, como é evidente, deve ser do conhecimento dos militantes que em cada partido assumem funções nos órgãos de direcção. Claro que a esses dirigentes se tem que exigir o dever de reserva e sigilo que não ponha em causa a eficácia do acordo.
Caro Francisco Santos, gostaria de lhe colocar uma questão que me ocorreu após ter lido os acordos do PS com os restantes partidos.
Por que razão nestes acordos – e mais precisamente no acordo com o PCP – a maioria das medidas para a educação propostas pela FENPROF (falo do documento com as DOZE medidas urgentes) não aparece no acordo? Falo, por exemplo, na proposta de novas regras para a aposentação dos docentes que não vejo referida em nenhum dos acordos, ou mesmo a suspensão da PACC.
Já agora, há notícias sobre a petição sobre o mesmo assunto (aposentação) que já assinei há algum tempo? Nº de assinaturas, previsão de data de agendamento, etc?
Grata, se me puder esclarecer.
Colega,
o acordo centra-se num conjunto de medidas de impacto geral, mas não é (nem podia ser) exaustivo.
O governo do PS, com apoio do BE, do PCP e do PEV terá oportunidade de reunir com os sindicatos e, em seguida, dar resposta a essas reivindicações.
Como certamente perceberá, a FENPROF não participou nas mesas negociais e, sendo assim, só com a posse do futuro ministro da educação poderá negociar a(s) forma(s) de concretizar as medidas.
É da maior importância termos em conta que não teremos um governo de uma coligação de esquerda, mas um governo de um partido com acordos de incidência parlamentar.
Mas mesmo que BE, PCP e PEV fizessem parte do governo, isso não diminuiria, em nada, o papel que os sindicatos (todos) têm de representação dos interesses de classe e dos respectivos associados.
Sobre a petição não estou em condições de dar nenhuma informação, mas procurarei saber mais alguma coisa.
Cumprimentos
Obrigada pela resposta. Entretanto vi que já estão agendadas para a assembleia, ainda neste mês, duas medidas propostas pela FENPROF: os exames do 1º ciclo e a PACC.
E é isto que me faz alguma confusão: atendendo ao que diz no seu comentário, estas iniciativas não deveriam também obedecer aos mesmos trâmites: negociações com sindicatos, com o futuro ministro/a, etc? Se estas já foram agendadas, porque não as restantes?
Peço desculpa pela ignorância, mas faz-me sempre uma certa confusão estes processos legislativos.
E, mais uma vez, obrigada por ter respondido e por se ter disponibilizado em procurar saber mais alguma coisa em relação à petição.
Sabe, Francisco, são quase 40 anos na escola pública e como comecei muito, muito cedo, aos 18 anos, sinto, como deve calcular, uma grande injustiça com o facto de terem alterado as regras a meio do jogo. Pensar que terei de trabalhar ainda até aos 66 anos desgasta e desmotiva.
Quando vi a petição da FENPROF, foi como se me nascesse uma alma nova.
Desculpe este desabafo pessoal. Poderá não o publicar, se assim o entender.