Há mais de duas décadas travou-se um combate pela privatização dos órgãos de comunicação social, que tinham passado a ser controlados pelo Estado na sequência das nacionalizações de 1975.
Quem tem memória desse tempo recorda-se das rádio-piratas, e de uma ou outra emissão clandestina de televisão, com especial destaque para a saga da TSF como exemplo de combate contra a “informação controlada”, que manipulava as consciência do bom povo português.
Passadas duas décadas, um alienígena que aterre em Portugal terá sérias dúvidas em saber se a Antena Um é mais pró-governamental do que a estação privada que o Baldaia dirige.
A situação miserável a que chegou a comunicação social deste país, em particular no que se refere aos órgãos de comunicação que se especializam na informação e opinião, tem a ver com a falta de qualidade dos seus “titulares”, que são gente que soube encostar-se aos donos do dinheiro, que comprou a alforria, e hoje vai vivendo de fazer fretes a quem governa.
Este desencanto que aqui deixo expresso é algo que me incomoda há muito tempo e que tem constituído matéria de divergência com alguns companheiros blogosféricos, que se deixam deslumbrar pela aceitação mediática de que disfrutam em momentos convenientes para os “donos do jogo” viciado.
Um exemplo da falta de qualidade de quem tem direito a tempo de antena (sonegado a quem teria muito mais a dizer aos portugueses, para o seu esclarecimento) foi o comentário realizado esta noite, no canal de Balsemão/Ricardo Costa, protagonizado pelos “comentadeiros políticos” Henrique Monteiro, Helena Garrido e Filipe Luís. A indigência política é tanta que estes “expertos” ficaram genuinamente impressionados com um gráfico apresentado por Passos Coelho, em que este neoliberal assumido e confesso mostrou que o PS de Sócrates, Santos Silva, Silva Pereira, Ferro Rodrigues, Manuel Alegre e tutti quainti privatizou muito mais empresas e encaixou muito mais milhões de euros nessa privatizações do que os partidos que tradicionalmente são conotados com a direita.
Há agora três luminárias com direito a ser ouvidas que descobrem o que é óbvio, quando há três décadas o PCP anda a dizer que o PS de Soares (que pôs o socialismo na gaveta) é um partido de direita sem que isso tenha o mínimo destaque nos órgãos de comunicação “plural” (porque já há concorrência privada).
Vão-se catar, que é a única coisa que apetece dizer.