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Como já toda a gente minimamente informada percebeu, nesta campanha eleitoral existe um assunto tabu para o PS, o PSD e o CDS – debater o conteúdo e as consequências do MoU (memorando de entendimento com o BCE/UE/FMI).
Seguindo a voz do dono, que neste caso são os accionistas dos grandes grupos de comunicação social, os precários da informação que acompanham os líderes dos partidos do “arco governativo” também nada lhes perguntam sobre o tema.
Na verdade trata-se de assegurar o apoio dos eleitores a quem garante os interesses dos grandes grupos económicos, para de seguida aplicar as medidas políticas que foram convenientemente escondidas, ou deliberadamente anunciadas como as que se queria combater. É esta mistificação, na qual o PS se tem especializado desde os tempos de Mário Soares e atingiu o apogeu com José Sócrates, que é conhecida como política de voodoo.
O termo foi cunhado por John Williamson para se referir à forma como o ex-presidente boliviano Paz Estensoro traiu a plataforma nacionalista pela qual foi eleito para a presidência da Bolívia em 1985, na sequência de um acordo de bastidores com o seu adversário Hugo Banzer. Esse acordo destinava-se a garantir a aplicação de um tratamento de choque económico preconizado por Jeffrey Sachs para assegurar a “ajuda económica” do Banco Mundial e do FMI, em troca da privatização generalizada da economia boliviana e do esmagamento do poder reivindicativo das forças sindicais.
Esta foi a primeira experiência levada a cabo pelos paladinos friedmanitas da economia de mercado num ambiente de aparente escolha democrática.
Aquilo a que assistimos nestas eleições no nosso país é uma versão, revista e apurada, dessa mesma técnica de política voodoo em que se promete o que não se pensa cumprir, para melhor enganar todos aqueles que se contentam com histórias simples, contadas de forma convicta e com um alegado final feliz.
Pelo que aqui leio, tu insinuas (ou afirmas?) que o conteúdo dos orgãos de comunicação social é controlada pelos seus proprietários “Seguindo a voz do dono, que neste caso são os accionistas dos grandes grupos de comunicação social”.
Os jornalistas listados na Wikipedia são precários da informação manietados pelos “accionistas”?
Eles deveriam fazer perguntas sobre as consequências do MOU e não fazem? Era melhor explicitares as questões em falta.
Não entendo a que propósito me envias para a política interna do New South Wales, nem em que é que o uso da expressão “vodoo economics” pelos australianos tem em comum com o de Mário Soares e Sócrates.
Fiquei sem saber o significado de “vodoo economics”, o que é que Williamson designou com essa expressão que parece-me estranho que tenha sido uma traição.
Finalmente, o problema é quais são as alternativas e quais os custos envolvivos em cada uma. É preciso também ponderar os custos de não pedir ajuda ao FMI e à Europa. Será que o meu vencimento estaria garantido sem a ajuda externa?
Luis,
devolvendo-te as interrogações, pergunto:
1. Não achas estranho que durante toda a campanha a comunicação social se tenha conformado à vontade dos partidos da troika não terem querido debater o MoU?
2. Não achas estranho que nenhum jornalista tenha aprofundado a história da carta de intenções assinada pelo governo português, na qual este se compromete a aplicar todas as medidas que o 1º ministro nega ter aceitado?
Se não conseguiste perceber o alcance da expressão voodoo economics, dir-te-ei que tem por base a ideia de manipulação das percepções do cidadão comum, por parte dos políticos que usam um discurso atractivo no sentido de obter apoio popular e de seguida agem de forma totalmente oposta ao discurso enunciado, por se sentirem portadores de uma legitimidade superior que lhes permite fazer o inverso do prometido.
Seja como for dia 5 estaremos a festejar a queda, não de um anjo, mas sim de um verdadeiro demónio que, ao que consta, também veste Prada.