Andam para aí uns arautos a proclamar a excelência do ensino privado, por contraponto às enormes deficiências do ensino público.
Entre outras pérolas que usam em defesa da sua dama, resolveram agora descobrir que os médicos fogem do SNS para os hospitais privados, porque podem exigir melhores condições salariais devido ao facto de serem muito competentes, enquanto que os professores não conseguem sair do ensino público porque os colégios “já estão a abarrotar com os professores excelentes”. Desta forma dão a entender que “os malandros” dos professores que estão contra a D. Lurdes e o Sr. Pinto de Sousa só não mudam para o ensino privado porque não têm capacidade para lá trabalhar e, como tal, têm que se sujeitar a ganhar menos do que ganhariam se dessem aulas num colégio.
Se os aldrabões que vendem esta história fossem apenas uns ignorantes que escrevem por ouvir dizer ainda poderia perdoar-lhes e assobiar para o ar, porque “vozes de burro não chegam ao céu”. No entanto, uma vez que este discurso obedece a uma clara estratégia delineada pelos “spin-doctors” do costume, torna-se necessário denunciar as mentiras em que baseiam a sua propaganda. Se não vejamos:
- Durante décadas (até há meia dúzia de anos) quase todos os colégios privados, mesmo os de maior prestígio como os pertencentes ou ligados à ICAR, recorreram ao serviço de professores do ensino oficial em regime de acumulação, com um objectivo claro e inequívoco: apresentar a quota de professores com estágio pedagógico necessários para garantir o reconhecimento do “Paralelismo Pedagógico”, sem o qual os seus alunos não veriam reconhecidos os respectivos diplomas.
- São raríssimos (contam-se pelos dedos) os colégios em que o salário dos professores é superior ao salário dos professores do ensino público. O que acontece desde sempre é serem os professores que iniciam a sua carreira no ensino privado a procurarem anualmente obter um horário numa escola pública. E só não acontece mais porque desde há alguns anos que o número de horários nas escolas pública tem vindo a diminuir.
Evidentemente que, ao contrário dos lacaios que aceitam como tarefa denegrir a imagem dos professores, eu sei bem do que falo, uma vez que sou professor do ensino público há 30 anos e também lecciono no ensino privado há mais de 20. A minha acumulação de funções (devidamente autorizada pelas entidades competentes e de acordo com a legislação em vigor) acontece desde há 17 anos num dos colégios que fica sempre no top dos rankings dos exames nacionais e à porta do qual se fazem filas para matricular as crianças no Jardim de Infância. Os outros 4 anos foram passados num dos estabelecimentos de ensino militar de grande prestígio, donde saí por não me agradar a ideia de trabalhar lá em regime de exclusividade.