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Tag Archives: eleições

O arrependimento no ocaso da vida

24 Sexta-feira Maio 2013

Posted by fjsantos in a mim não me enganas tu

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Combate político, eleições

Mário Soares está a promover um encontro entre as forças de esquerda, para discutir como libertar Portugal da austeridade.

Trata-se de uma tentativa de se penitenciar perante a história, quando sente que o fim se aproxima, pelo trabalho consciente e denodado que teve para entregar o Portugal de Abril nos braços da contra-revolução.

Trata-se, também, de uma tentativa vã de branquear o papel que teve na entrega de Portugal à “Europa Connosco”, com que procurou criar as condições para impedir que o nosso país fosse governado à esquerda. Desiderato que logrou alcançar e que nos colocou onde estamos hoje: um país pobre, com muitos milhares de cidadãos tão pobres como nos tempos da ditadura; um país de emigrantes, que já não vão a salto mas que fogem à miséria e à forma obscena como são tratados pelos governantes; um país dependente do exterior e nas mãos das mesmas famílias monopolistas que detém o poder desde os tempos da monarquia liberal.

Tudo isto se passa num tempo em que se torna ainda mais claro que o PS é o Seguro da direita. Basta ver o que repetem, em coro, dirigentes de topo do PS, desde responsáveis da bancada parlamentar, até aos novos membros do secretariado eleito no recente congresso.

Correia de Campos aposta na facilidade de uma aliança com o CDS; Paulo Pedroso diz que acha improvável uma aliança à esquerda; Francisco Assis afirma que será mais fácil fazer uma aliança com a direita e aprecia o esforço de Portas para recentrar o CDS; Ricardo Gonçalves defende que se deve dar prioridade ao CDS para uma coligação; o vice-presidente do grupo parlamentar Fernando Jesus concorda com aqueles que dizem que o diálogo com o CDS é mais fácil; Manuel Alegre decreta, do alto da sua autoridade de socialista anti-fascista, que a esquerda não serve para nada, porque o PCP não quer entendimentos, o Bloco diz que sim mas não quer e o PS a mesma coisa.

Todo este arrazoado serve para esconder o facto, indesmentível, de que o PS sempre teve como objectivo supremo da sua intervenção política impedir que o PCP chegue ao governo do país: Desde a manifestação da Fonte Luminosa, até à aliança Soares/Freitas do Amaral; desde a adesão à CEE, até às alianças com o PSD e o CDS para derrubar os executivos municipais comunistas no Alentejo; desde as revisões da CRP até à aprovação do tratado orçamental.

É por tudo isto que a iniciativa de Mário Soares para o próximo dia 30 me faz lembrar o arrependimento tardio daquele ateu que, à beira da morte, pede insistentemente que lhe levem um padre para receber a extrema-unção.

Eleições no SPGL – Mudar os protagonista, para mudar a prática sindical

17 Quinta-feira Maio 2012

Posted by fjsantos in acção pública, spgl

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eleições, sindicalismo docente

A candidatura da LISTA B propõe uma mudança na forma de encarar o sindicalismo docente que só pode ser concretizada com professores que conheçam profundamente a realidade das escolas e as necessidades e anseios da classe docente, porque o seu quotidiano sempre esteve intimamente ligado à sala de aula e à relação com os alunos e os seus colegas.

Entre os oito candidatos à chamada “área da presidência” há cinco atuais delegados sindicais e apenas a candidata indicada para a coordenação regional de Santarém já foi dirigente sindical do SPGL num anterior mandato;

Nenhum dos candidatos à presidência da Mesa da Assembleia Geral, Conselho Fiscal e Conselho Geral exerceu alguma vez cargos dirigentes no SPGL, embora sejam pessoas com larga experiência em funções idênticas àquelas para que se propõem.

Esta escolha criteriosa dos candidatos releva de um entendimento do que deve ser a organização e intervenção sindical, que para a LISTA B tem que assentar numa rede de delegados sindicais que façam uma ligação permanente entre os professores e os dirigentes.

É esta organização em rede, em que cada delegado constitui um nó que a fortalece, que pode permitir um conhecimento mais profundo das necessidades dos professores, dos problemas com que se confrontam e das formas concretas para os resolver.

O nosso lema encerra em si um programa de ação ambicioso porque, mais do que simples retórica, se trata de um compromisso individual, que assumimos solidariamente:

Tempo de Lutar, Tempo de Mudar
Um Sindicato Presente nas Escolas
Professores Unidos em Defesa da Escola Pública

Dia 31 há eleições no SPGL…

11 Sexta-feira Maio 2012

Posted by fjsantos in acção pública, cidadania, educação

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eleições, luta sindical, sindicalismo docente

… e os Professores Unidos concorrem enquanto LISTA B, tendo como objetivos renovar por completo os dirigentes que se perpetuam há longos anos no sindicato e, dessa forma, conseguir que volte a ser dado aos delegados sindicais o papel insubstituível que já tiveram de ligação entre as necessidades e anseios dos professores e a direção do sindicato.

Para isso apresentamos o nosso programa e candidatos:

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Democracia representativa e limitação de mandatos

27 Sexta-feira Abr 2012

Posted by fjsantos in cidadania

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eleições, sindicalismo docente, spgl

Os sócios do SPGL vão escolher os seus dirigentes para o triénio 2012/2015 no próximo dia 31 de maio

eleições SPGL 2012

A lista a que pertenço é a única lista de oposição que se apresenta a todos os órgãos sociais do sindicato. Há mais duas listas que concorrem apenas a alguns dos órgãos, uma vez que a blindagem dos estatutos os impede de concorrer à direção central.

Durante várias semanas participei em conversações com elementos da atual direção, tendo a colaboração permanente e imprescindível de outros professores que se identificam com as nossas propostas. Foram conversações em que se procurou encontrar a convergência imprescindível para formar uma lista de unidade que desse resposta aos anseios e necessidades da luta em que os professores estão envolvidos, em defesa da Escola Pública e em defesa dos seus direitos profissionais. Infelizmente, contra as expectativas de muita gente, tal não foi possível.

Vemo-nos agora envolvidos numa disputa eleitoral em que irão ser apresentadas propostas que, no essencial, pouco divergem entre si. O que coloca uma dificuldade adicional a quem é, neste momento, oposição. Sabemos que a inércia tende a favorecer o poder que está, em confronto com a determinação de quem se apresenta como a alternativa a esse poder. Sobretudo quando, no discurso, se defendem opções idênticas.

Ao contrário da lista patrocinada pela direção a lista dos Professores Unidos, que concorrerá como lista B às eleições de 31 de maio, é constituída por professores com horários completos nas escolas. A esmagadora maioria não exerce qualquer função dirigente no sindicato (há apenas três ou quatro dirigentes regionais actuais). Os membros da lista que constituem a “àrea da presidência” nunca foram dirigentes do SPGL, embora tenham exercido funções de responsabilidade nas suas escolas, em autarquias e até em CAE’s (no tempo em que estes existiam).

Sabendo que muitos professores defendem a limitação dos mandatos dos dirigentes, propondo-se até a inscrição de tal preceito nos estatutos, quer-nos parecer que o ato eleitoral de dia 31 de maio pode (e deve) ser o momento adequado a por em prática esse preceito.

É por isso que aqui deixo um apelo a que, nas eleições para o triénio 2012/2015, os sócios do SPGL utilizem o seu voto como forma de limitar o prolongamento do mandato de um conjunto de dirigentes que se eternizam no sindicato (sem que com isso os professores percecionem qualquer melhoria nas respetivas carreiras), e elejam uma nova direção, dando a vez e a voz a colegas que se propõem recuperar as práticas originais do SPGL: um sindicato dos professores, para os professores e com uma rede de delegados sindicais que lhe permita conhecer permanentemente os problemas de quem vive o dia-a-dia da escola.

Soluções Barreto para mudar Portugal

11 Sábado Jun 2011

Posted by fjsantos in cidadania, discussão pública, governança

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democracia, eleições

O sociólogo António Barreto, ministro de um governo PS que foi responsável pela início da aniquilação da reforma agrária e da reconstrução do latifúndio a sul do Tejo, fez ontem um discurso considerado de extrema argúcia e importância ao apontar as suas soluções para a crise em que o país se vem afundando.

Trata-se de um discurso estruturalmente muito bem construído, apontando caminhos desejados por um sector bem identificado da sociedade, a partir de um diagnóstico fundamentado nos pressupostos políticos que constituem o modelo de governação preconizado por esse sector da vida pública.

No meio de um conjunto de generalidades, como a indispensabilidade de sintonia entre os cidadãos e os governantes, ou a necessidade de entendimento entre trabalhadores e patrões (omitindo a natureza de classe das relações entre esses actores), o discurso de Barreto vai conduzindo os seus leitores/ouvintes para a inevitabilidade de se proceder a uma revisão da constituição e uma revolução no sistema eleitoral. O que não deixa de ser curioso e interessante numa altura em que os especialistas se dividem sobre a necessidade de alterar a constituição, para cumprir as exigências da agiotagem internacional como contrapartida ao empréstimo que nos prometeu.

O argumento de Barreto, para justificar essas alterações à lei fundamental e ao processo de escolha dos representantes do povo, é bem construído mas distorce completamente os factos, de modo a levar a água ao seu (deles) moinho.

Barreto afirma que é preciso alterar a lei eleitoral para que os portugueses, em particular os jovens, se sintam mais representados nos órgãos de soberania. Para isso defende a aproximação entre eleitos e eleitores, numa clara alusão a círculos uninominais e no mesmo passo defende a importância de governos de maioria, sem esclarecer se essa maioria é mono-partidária ou se admite a possibilidade de coligações inter-partidárias.

Com tudo isto Barreto escamoteia o facto de que a crise de representatividade, denunciada por uma abstenção crescente e pelo aumento dos votos brancos e nulos, não se resolve com a exclusão de mais partidos da Assembleia da República. E no entanto esse será o resultado esperado, se assistirmos a uma transformação do sistema de representação proporcional para o de maioria simples em círculos uninominais.

Se algum caminho deve ser feito para corrigir o desfasamento da representação partidária no parlamento penso que será exactamente no sentido inverso, isto é, através da eliminação dos múltiplos círculos eleitorais e da sua substituição por um círculo único, em que se deverá manter a representação proporcional. Essa é a única solução que poderá dar voz às centenas de milhar de portugueses que ainda não desistiram de participar em eleições, mas cujos votos não elegem nenhum deputado, muitas vezes por escassas centenas de votos. E isso é verdade para os pequenos partidos extra-parlamentares, mas também para os que tendo representação no parlamento, vêem condenados à ineficácia os votos obtidos nos círculos em que são eleitos pouco deputados.

No domingo não te enganes para não teres que te arrepender na segunda-feira

03 Sexta-feira Jun 2011

Posted by fjsantos in esquerda

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Combate político, eleições, Rigor

daqui

Um comentário, uma dúvida e a resposta que sou capaz de dar

03 Sexta-feira Jun 2011

Posted by fjsantos in esquerda

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Combate político, eleições, Resistência

A Isabel Campeão, autora do blogue Memórias Soltas de Prof, enviou-me um comentário em que afirma a sua determinação de continuar a votar na CDU mas coloca uma dúvida que a atormenta, como é provável que aconteça com muitos outros portugueses que se reconhecem nas posições defendidas pela CDU e têm consciência da necessidade de fortalecer o voto de esquerda.

Francisco, venho aqui não tanto por este teu último post, mas porque já é 6ª feira, último dia em que é permitido fazer campanha pública. Eu sei que o PCP tem toda a razão em rejeitar o acordo e apoiei totalmente que tenha recusado participar em encontros com a troika. Também não tenho qualquer dúvida em votar onde sempre votei (somos camaradas). Mas pego na notícia: “Jerónimo salienta que o PCP não tem uma postura de «quanto pior, melhor» para capitalizar os sentimentos de descontentamento das pessoas” (eu sei que não tem essa postura) para te dizer uma coisa que não tenho compreendido bem por parte do Jerónimo de Sousa e talvez me possas responder. O ataque cerrado a Sócrates, por toda a razão que tenha (tem), tem prevalecido em prejuízo da denúncia do ainda pior Passos Coelho. Este, para mim, é aterrador, de um neoliberalismo extremo, e, se dependesse dele, destruiria a nossa Constituição (agora não o diz, mas percebeu-se bem quando começou a aparecer), além de nem competência/preparação ter. Ora, o realismo leva-nos a saber que a CDU, mesmo que suba, nunca, infelizmente subirá muito. E confesso-te que, apesar de tudo o que tenho contra Sócrates, se eu fosse das pessoas que optam por “voto útil” (mas não na CDU), até engoliria o sapo de votar PS porque Passos Coelho é ainda mais assustador.
Em suma: O PS até é mais à esquerda (ou menos à direita) quando está na oposição, mas está a acentuar-se o perigo de uma maioria absoluta PSD+CDS, o que deixará a oposição sem nada poder impedir. Além de que não acredito que se possa contar com Cavaco para obrigar, nesse caso, a uma participação bem mais alargada no Governo.
Desculpa este testamento, mas és a única pessoa dos blogues que conheço/acompanho a quem pôr esta minha… digamos, perplexidade perante o alvo maior do Jerónimo ao PS do que ao PSD. Não é crítica, pois o que me acontece é que não tenho compreendido.
Se não tiveres tempo de me ler e comentar… fica o desejo de que, no domingo, se verifiquem exageros nas sondagens, quer nas mais altas, quer, ao contrário, na CDU, isto é, que haja a boa surpresa de estarem a errar consideravelmente para baixo nos resultados da nossa CDU.
Um abraço.

O que posso dizer sobre o assunto é o que penso e sintetiza-se da seguinte forma:

  • Os dirigentes do PS são, em Portugal, a encarnação dos políticos voodoo desde que o I governo constitucional de Mário Soares tomou posse.
  • A categoria “político voodoo” aplica-se àqueles políticos que, através da manipulação das percepções e imagens, levam os seus apoiantes a acreditar que são aquilo que dizem nos seus discursos, e não o que as suas práticas efectivamente demonstram.
  • Ao longo de 35 anos o PS vem enganando os seus eleitores e apoiantes, ao utilizar um discurso de esquerda e de defesa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos, ao mesmo tempo que elabora e apoia legislação que beneficia inequivocamente o capital e os accionistas das grandes multinacionais.
  • O enorme esforço que foi feito nas últimas semanas, pela generalidade dos comentadores e órgãos de comunicação social, para evitar que o PS tenha uma derrota estrondosa e humilhante, deve-se ao receio que o capital tem de que um PS pouco acima dos 20% se transforme numa verdadeira força de esquerda, e passe a inviabilizar as alterações constitucionais de que o neoliberalismo necessita para manter a sua fachada democrática.
  • Essa é a ameaça velada que foi feita por alguns dirigentes do PS, nomeadamente por António Costa, quando alertaram para o perigo de o afastamento do PS do governo se poder traduzir num aumento da contestação na rua. Evidentemente que estes dirigentes do PS nunca dirão que só viabilizam as alterações da legislação que carecer do seu apoio se fizerem parte do pântano central, mas é com esse risco que ameaçam os seus parceiros de negócios em que transformaram o estado central e o estado local, onde partilham os lugares de administração de empresas públicas e municipais.
  • É por isso que para quem queira vir a ter um governo de esquerda em Portugal, demore o tempo que demorar, o voto no PS é a maior inutilidade que se possa imaginar. Porque servirá, como sempre serviu, para viabilizar as políticas que os dois partidos à sua direita nunca conseguiram aplicar sozinhos.
  • É também por isso que estou convencido que só quando a diferença entre o PS e os partidos à sua esquerda for substancialmente diminuída é que poderemos aspirar a ter um governo amigo dos portugueses que mais necessitam de justiça, equidade e segurança nas suas vidas.
  • Finalmente, sobre a questão da eventual maioria do PSD com o CDS, cada voto que ajude a eleger mais um deputado da CDU (e também do BE) é um voto a menos nos dois partidos da direita. Desse ponto de vista é preciso não esquecer que os deputados que o PS vier a eleger são potenciais votantes das leis que PSD e CDS vão apresentar na AR, para dar cumprimento às propostas da troika estrangeira e, como tal, em nada fazem perigar os objectivos de Passos Coelho.
Isabel, espero com isto ter-te ajudado a resolver essa dúvida. Aproveito para te agradecer a oportunidade de expressar este ponto de vista, acreditando que isso possa ajudar alguns indecisos a perceber que o único voto útil é o que expressa as nossas convicções profundas. No nosso caso é o voto na CDU.

Entrevista publicada no Profblog

12 Quinta-feira Maio 2011

Posted by fjsantos in esquerda

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acção pública, eleições

O Ramiro Marques convidou-me a responder a algumas perguntas relacionadas com as eleições de 5 de Junho.

Porque as questões me parecem bastante pertinentes e permitiram esclarecer a minha opinião sobre a utilidade e pertinência do voto dos professores na CDU, sem qualquer tipo de constrangimento, deixo também aqui as respostas dadas e por ele publicadas:

Indica-me 3 razões válidas para os professores votarem na CDU.

Existe uma razão que é prévia a qualquer outra e que é determinada pela fiabilidade do PCP. Trata-se de um partido que honra os seus compromissos e cuja prática é coerente com o seu discurso, não escondendo dos portugueses as orientações políticas que determinam a sua acção.

  1. Dito isto, responderei que a primeira razão para que os professores votem na CDU decorre do entendimento que o PCP tem sobre o valor da educação como instrumento de valorização do ser humano e de factor de reconhecimento do papel do indivíduo na sociedade.  A centralidade da educação como factor de promoção do indivíduo é assumida até a nível estatutário, sendo o PCP o único partido que inclui nos deveres dos militantes  o de procurar elevar o seu nível cultural, político e ideológico (art. 14º i);
  2. É com base nessa forma de olhar a educação que a CDU propõe que um governo em que participe aposte determinadamente na Escola Pública de Qualidade para todos os portugueses, porque essa é uma condição imprescindível para elevar o nível cultural, científico, moral e cívico de todos os cidadãos;
  3. Uma terceira razão prende-se com o reconhecimento de que a dignificação do trabalho dos professores é um dos pilares essenciais para a realização de uma Escola Pública de Qualidade. Essa dignificação do trabalho e da carreira docente passa pela valorização da carreira que, no caso do ensino básico e secundário que corresponde à escolaridade obrigatória, passará necessariamente por uma carreira única, com a possibilidade de acesso aos escalões mais elevados num tempo razoável. Por outro lado a dignificação da carreira passa também por um nível de exigência profissional, com implicações no cumprimento de um plano de formação e actualização contínua de conhecimentos, quer no plano científico, quer pedagógico e didáctico, associado a um modelo de avaliação que, pelo seu carácter formativo, constitua factor de orientação e melhoria do desempenho do professor.

Do vasto leque de medidas propostas pela CDU, qual é a que pode ter maior impacto na melhoria da condição docente?

É difícil destacar uma medida com mais impacto de que as outras, uma vez que o trabalho e a vida dos professores são realidades complexas e não compartimentáveis. Se por um lado a valorização da carreira nas dimensões referidas na questão anterior – estatuto, carreira única, avaliação formativa, formação inicial e contínua exigente – podem parecer aspectos centrais, o regresso a formas de gestão mais democráticas e com o primado do pedagógico sobre o administrativo, ou a efectiva melhoria dos espaços físicos das escolas, são também essenciais para a melhoria da condição docente.

De notar que, quando falo de melhoria dos espaços físicos das escolas, considero que a criação da Parque Escolar EP., e a falta de transparência associada às obras que esta empresa tem realizado nas escolas, é tudo menos um “investimento na educação”. Essa é a propaganda do governo e do PS, que canaliza milhões de euros para o sector da construção a coberto de uma alegada “paixão pela educação” que manifestamente não existe.

Por que razão, os professores não devem votar nos outros partidos?

Relativamente a esta pergunta só encontro uma resposta possível. Porque cada professor só tem um voto e, do meu ponto de vista, deve usá-lo para ajudar a eleger mais deputados da CDU que, de certeza, defenderão na AR os interesses da Escola Pública de Qualidade e os interesses de todos quantos trabalham e estudam nessa escola para elevar o nível de vida dos portugueses.

Como compatibilizas as propostas da CDU com as exigências colocadas pelo FMI/BCE/UE para o resgate financeiro de Portugal (empréstimo de 78 mil milhões de euros)?

A intervenção do FMI/BCE/EU decorre de uma necessidade de financiamento dos bancos, alegadamente para financiar a economia. No entanto basta fazer algumas contas para perceber que o montante que irá ser usado para o investimento produtivo é mínimo.

De acordo com o memorando negociado no final deste processo os portugueses, que contribuem com o seu trabalho e impostos, vão pagar a estes alegados beneméritos cerca de 113 mil milhões de euros, correspondentes à amortização dos 78 mil milhões e mais 35 mil milhões de juros. Depois de entregar directamente à caixa dos bancos portugueses – CGD, BCP, BPI, etc. cerca de 12 mil milhões e depois de cativar mais uns quantos milhares de milhões para o fundo de garantia do sistema financeiro português, sobrarão pouco mais de 20 mil milhões para emprestar às empresas e para “reanimar” a economia. Convenhamos que é um negócio ruinoso.

Mas para lá da ruína efectiva e imediata do acordo importa perceber porque é que chegámos aqui, e se o caminho que nos é proposto nos pode tirar deste enorme buraco para onde fomos empurrados.

A história do nosso desastre começou há mais de 25 anos quando, para obter a garantia de que Portugal se afastaria definitivamente da órbita comunista, Mário Soares se lançou de cabeça nos braços da CEE. Não sendo o nosso país uma potência económica de relevo e, muito menos, não tendo os portugueses um nível de qualificação académica próximo dos valores dos países centrais da comunidade, a opção que então foi feita de desmantelar o sector primário e secundário, fazendo uma aposta alucinada e suicida no sector dos serviços, só podia ter tido o resultado que agora constatamos. No entanto quem tem memória desses tempos recordará que o PCP bem avisou que as condições que nos eram exigidas (e os nossos governos aceitaram de bom grado) iriam levar o país à ruína.

Bem nos podemos esforçar por aumentar a capacidade das nossas empresas exportadoras, mas enquanto precisarmos de importar o que comemos estaremos sempre à mercê de qualquer troika que aterre na Portela ou em Alcochete.

É por isso que a proposta do PCP passa por concertar, com os outros países que estão com dificuldades semelhantes, uma estratégia de actuação comum. Dessa estratégia deverá fazer parte uma proposta de renegociação conjunta das condições de pagamento das dívidas soberanas, nomeadamente quanto a prazos, juros e montantes. A questão dos montantes a pagar prende-se com a necessidade de uma auditoria que revele se todo o valor em dívida corresponde a responsabilidades efectivas do(s) Estado(s), ou se existem valores decorrentes de gestão danosa ou corrupção, apurando nesses casos os responsáveis pelo respectivo pagamento.

Finalmente, este plano terá que ser articulado com o reinvestimento nos sectores primário e secundário da economia e na renegociação das condições de produção acordadas com a UE, como é o caso das quotas de produção agrícola ou das pescas.

E m resumo, trata-se de aumentar a produção nacional de modo a ter que importar cada vez menos bens de primeira necessidade, ao mesmo tempo que devemos continuar a apostar na especialização de alguns sectores exportadores que têm tido sucesso nos mercados externos.

Sobre as eleições presidenciais

24 Segunda-feira Jan 2011

Posted by fjsantos in accountability

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eleições

Este post não se destina a reflectir sobre vitórias e derrotas da noite de ontem. Também não pretendo discutir se a estratégia de cada um dos candidatos (e seus apoiantes), que se reclamaram representantes de um pensamento de esquerda, foi a melhor tendo em vista o objectivo de derrotar o candidato da “direita unida”.

Limitar-me-ei, por isso, a contar a experiência de um presidente de mesa de voto, num concelho onde Cavaco Silva não conseguiu atingir os 50% de votos, mas onde aumentou significativamente os resultados obtidos, em eleições anteriores, pelos partidos que o apoiaram.

Um primeiro ponto para referir o inacreditável da situação vivida por causa do “must” tecnológico, que é o cartão do cidadão.

O que aconteceu é o resultado de uma soma explosiva:

  1. voluntarismo tecnologicamente balofo dos governantes, que se deslumbram com os gadgets que os vendedores de modernidade lhes apresentam, sem cuidar de criar todas as condições logísticas para a sua utilização;
  2. crónica iliteracia e analfabetismo das populações que, habituadas à tutela dos homens providenciais (que tudo sabem e resolvem) acham que não é preciso informar-se sobre o que vai mudando no mundo.

Foi assim que umas quantas centenas de milhar de cidadãos se dirigiram ontem à sua mesa de voto habitual, não estando munidos dos instrumentos habituais para o exercício do direito de voto. Em larga medida por culpa da administração que não cuidou de lhes prestar a devida informação, em tempo útil. Mas também por culpa própria, por não procurarem informar-se nos locais apropriados, e em data anterior, se a sua secção de voto era ou não a habitual.

Foi assim que muitos cidadãos descobriram, na mesa em que votavam há muitos anos, que o cartão do cidadão os tinha mandado votar noutra assembleia de voto, ou mesmo noutra freguesia. Com a agravante de que lhes tinha sido dito, pelo funcionário que o atendeu nos serviços de identificação, que o número de eleitor estava lá no cartãozinho.

Não sei que influência este disparate teve nos números da abstenção. Não tenho dúvidas que contribuiu para o seu aumento, porque vi vários cidadãos a abandonar a assembleia de voto sem exercerem o seu direito e justamente indignados com o que lhes estava a suceder.

Quanto à mesa de voto a que presidi foi atípica, quanto aos números da abstenção, uma vez que votaram 63,53% dos eleitores inscritos. Esse acréscimo na votação, que se cifrou em mais 16% de votantes do que a média nacional, traduziu-se nos seguintes resultados por candidatura: Cavaco Silva 46,52%, Manuel Alegre 23,34%, Fernando Nobre 16,55%, Francisco Lopes 8, 27% José M. Coelho 3,47% e Defensor de Moura 1,82%.

Isto vale o que vale, mas num concelho em que nas últimas legislativas o PS, o BE e o MRPP somaram 51,3%, a soma dos três candidatos que colheram apoios nessas áreas políticas foi apenas de 41,47%. Já Cavaco atingiu na Amadora 45,04%, enquanto a soma de PSD e CDS/PP foi em 2009 de 31,14%.

Admitindo não ter havido transferências directas de voto, podemos imaginar a quem beneficiou e a quem prejudicou o aumento da abstenção.

No dia 23 de Janeiro é possível começar a mudança. É preciso saber usar o voto.

16 Domingo Jan 2011

Posted by fjsantos in a bem da nação

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democracia, eleições, luta política

Ao contrário da narrativa que nos é imposta, cada português maior de 18 anos tem direito a usar o seu voto de acordo com o que pensa e com os seus próprios interesses.

Tendo absoluta consciência de que a luta não se resume (não pode de todo resumir-se) ao voto ritualizado nas eleições para os diferentes órgãos de governo da república, é fundamental perceber que o voto também é uma das armas que os trabalhadores têm no seu combate contra a investida do capital e dos que o representam.

Campo Pequeno - 16/1/2011

Se as sondagens e as primeiras páginas dos jornais fossem os donos dos votos de cada português não seria preciso realizar eleições. Fazia-se um concurso, escolhia-se uma das várias empresas que vendem sondagens de acordo com os resultados desse concurso e entregava-se a governação do país ao(s) candidato(s) por ela indicado(s) como vencedor(es). Além de rápido era muito mais barato.

Acontece que mesmo esta espécie de democracia em que vivemos exige um pouco mais de seriedade e, como tal, é preciso que no próximo domingo haja portugueses que se decidam a ir votar, e outros que cumpram o dever cívico de escrutinar esses votos, para sabermos de há um vencedor à 1ª volta ou se temos que votar numa segunda volta para escolher o presidente para os próximos 5 anos.

E, por muito que as sondagens sejam fiáveis, não sabemos hoje quem serão os dois candidatos a essa 2ª volta (mesmo se a “intuição” de cada um já determinou o futuro).

A comunicação social, financeiramente dependente dos grupos económicos que são “os donos de Portugal”, tem andado a vender-nos a narrativa de que há um candidato de “centro-direita” e cinco candidatos de esquerda que o querem derrotar. No entanto, um alienígena que aterrasse hoje em Portugal e analisasse os discursos e os percursos políticos dos 6 candidatos presidenciais chegaria a uma outra conclusão. Na verdade há um candidato da direita, um candidato da esquerda, três candidatos alegadamente do “centro-esquerda” (insuflados por Sócrates de forma a garantir a vitória rápida do seu candidato) e um “outsider” ultramontano que apenas pretende ganhar notoriedade no seu combate político regional.

Face a este cenário a disputa pode vir a assumir contornos inesperados, como aconteceu há três anos no Chipre.

E se o exemplo se repetisse, muitos dos desgostos e desencantos dos portugueses com a política e os políticos poderiam começar a ser superados. Porque há quem esteja na política para servir o povo a que pertence e não para se servir dos cargos que desempenha em benefício próprio e do seu círculo de amigos.

É por isso que deixo aqui o apelo para que no dia 23 votem na única candidatura que, por ser de esquerda, é patriótica e defende quem vive da força do seu trabalho e não à custa da exploração do trabalho alheio.

Comício de Francisco Lopes - Campo Pequeno - 16/1/2011

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