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Na entrada anterior, ao fazer o balanço entre as coisas de que o governo abdicou e aquelas de que não abriu mão, penso ter deixado claro que não existe qualquer preocupação com a demonstração do mérito e muito menos com a procura da excelência do ensinar e do aprender.

Tudo se reduz a uma preocupação de fazer conformar a organização do sistema educativo e das escolas à distribuição estatística normal de Gauss.

Sobre o assunto escrevi no dia 8 de Março (na manhã em que ainda não se adivinhavam 100 mil professores na rua), uma entrada com o título: «Escola Pública, Ensino e Meritocracia», que reganhou actualidade, após o anuncio da “avaliação simplex”:

A introdução do conceito de meritocracia no discurso sobre a escola pública constitui uma forma de clarificação das águas indispensável à definição do que se entende por Escola Pública.

Quando esse discurso meritocrático provém de quem se diz defensor de uma escola de massas, como é o caso de MLR e do seu guru João Freire, é que a porca começa a torcer o rabo.

É que a escola de massas foi criada e existe para garantir que ninguém é descriminado negativamente e todos têm acesso, em condições tendencialmente de igualdade, à mesma formação e ao mesmo conhecimento. Nesta escola de massas não se pretende privilegiar a distinção entre pares e a atribuição de prémios e castigos, mas sim a possibilidade de todos acederem aos mais altos níveis de qualificação.

Se para a sociologia das empresas é aceitável a análise produzida pela curva normal de Gauss, já para a educação é fundamental promover a pedagogia da curva em J.

Quer isto dizer que, se podemos aceitar que na generalidade das organizações a maior parte das pessoas podem manter um perfil de desempenho normal, com uns poucos muito bons e ainda menos excelentes, já quando se fala da qualificação das pessoas, da qualificação da massa cinzenta de um país, o objectivo deve ser, tem que ser a Excelência e tudo quanto ficar abaixo é pouco ambicioso.

Então, se de facto quisermos elevar a qualificação das populações, não nos podemos conformar em ter uma pequena percentagem de professores muito bons e/ou excelentes. Temos que lhes dar e exigir maior formação e condições para o exercício da sua missão, para que o maior número possível atinja também a excelência.

A menos que em vez de defender uma Escola Pública de Massas se esteja encapotadamente a promover o regresso à Escola de Elites. Será isto que defendem os sociólogos Maria de Lurdes Rodrigues e João Freire?