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Nota prévia
Independentemente do número de manifestantes ter sido de 7.000 como anunciado pela polícia ou entre 10.000 a 20.000, conforme indicado pela organização, há duas conclusões a tirar da manifestação de dia 15 de Novembro:
- Em primeiro lugar, que o descontentamento nas escolas, entre os professores que quotidianamente se confrontam com as políticas públicas de educação deste ministério PS, é enorme e vai crescendo à medida que as pessoas se apercebem dos seus efeitos perversos;
- Em segundo lugar, que os organizadores da manifestação estiveram à altura do compromisso assumido (pelo que pessoalmente me sinto obrigado a realçar o facto, uma vez que até ontem tive sérias dúvidas que o conseguissem).
Dito isto, que é um imperativo de consciência, tenho ainda a declarar que não estive presente na manifestação de ontem, porque os meus sentimentos em relação ao acontecimento eram demasiado ambíguos e porque acabou por prevalecer a análise que tenho vindo a fazer em relação aos protagonistas da sua organização, sobre os eventuais ganhos que a mesma pudesse trazer para a luta contra o ministério.
Quero com isto dizer que por, um lado esperava que a manifestação tivesse uma dimensão suficientemente grande e que não expusesse os professores presentes ao ridículo nem permitisse a leitura de que, tanto em Março, como no passado dia 8, tudo se teria resumido à organização sindical. Confesso que, quando ao início da tarde, ouvi um primeiro comentário de um jornalista falando em poucas centenas de manifestantes, cheguei a temer o pior.
Felizmente, de acordo com todos os relatos, tratou-se de um protesto com a dignidade e a dimensão suficientemente significativa, para mostrar que o que se passa no interior das escolas está muito para além das leituras redutoras, que procuram ver este combate como um enfrentamento entre sindicatos e ministério, ou como uma captura dos professores e das escolas para fins eleitorais.
Mas havia o outro lado de mim, aquele lado que me levou a fazer muitas críticas a algum amadorismo e inconsequência e que me levou a incluir, durante algum tempo, um conjunto de citações de Sun Tzu, na esperança de que os oficiais desta tropa tomassem consciência dos perigos que existiam. Felizmente nenhum desses meus receios teve fundamento.
A questão que se coloca em seguida é a de saber o que fazer daqui para a frente. Haverá ou não forma de capitalizar este acontecimento, no sentido do que o João Paulo Videira afirma. Tal como ele, sempre achei que o Todo é muito mais importante do que a Soma das Partes. Por isso me insurgi contra muitos textos e comentários que estão por aí espalhados nos blogues, em que se sugeria uma diabolização dos sindicatos e dos seus dirigentes. Essa foi a questão de fundo que me afastou dos movimentos, no pós 8 de Março.
Aparentemente, esse discurso foi contido por quem tomou em mãos a organização da manifestação e parece que ficaram de pé as pontes suficientemente sólidas para garantir a unidade no essencial.
Olhando para o conjunto de críticas que muitos professores (sindicalizados ou não) fazem às direcções sindicais, pode parecer impossível restabelecer a ligação entre os sindicatos e os professores que não participam da sua vida.
Mas, por outro lado, ao olhar para a mobilização que levou a que uns milhares (indeterminados) de professores respondessem ao apelo para estarem ontem presentes, seria completamente tolo e destituído de lucidez, não procurar canalizar essas energias para modificar o que nos parece estar mal.
Já ontem de manhã, ainda sem saber qual a dimensão que viria a ter a manifestação, sugeri a possibilidade de assistirmos à refundação do movimento sindical docente. Olhando para o percurso dos últimos anos, com um progressivo afastamento dos professores em relação aos sindicatos que os representam, e olhando para o passado recente, com a mobilização nas escolas a induzir a alteração de muitos comportamentos dos dirigentes sindicais, talvez a sugestão não seja assim tão tola.
A entrada de muitos dos professores (que mais animaram o debate nos últimos meses) para os sindicatos existentes, poderia criar as condições de sucesso para os que há muito lutam (no interior dos sindicatos) pela modificação das estruturas, dos actores e das políticas.
Evidentemente que ninguém é obrigado a filiar-se em nenhum sindicato e que as condições de luta, para mudar por dentro estruturas consolidadas ao longo de muitos anos exigem um combate difícil e moroso. Mas existe uma alternativa, que é a de dar corpo a esse querer manifestado ontem, e fundar uma outra estrutura que, de acordo com a lei vigente, possa dar resposta aos anseios de quem deposita esperança em entidades diversas dos sindicatos que existem.
Pela minha parte a opção está tomada. Amanhã mesmo voltarei a inscrever-me num sindicato, e lá dentro procurarei contribuir para derrotar estas políticas, este ministério e este governo.