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Nos comentários ao meu post sobre como continuar a luta, que incomodou sobejamente os “independentes” de quem o DN e o JN gostam, há uns quantos a quem me recuso a responder por uma questão de sanidade mental, e porque não me interessa andar a “medir tamanhos”.
No entanto, no meio da “barragem de fogo” que uns quantos colegas resolveram fazer, aparecem algumas perguntas a que vale a pena responder, não porque revelem uma especial sagacidade de quem as produz, mas porque continuo a acreditar que o papel dos professores é levarem a luz a quem não a consegue ver.
Dando de barato que não tenho um umbigo tão grande que mereça a atenção e o esforço de tantos, para me elegerem como seu inimigo principal, devo dizer que sei por onde vou e por onde quero ir, não aceito que me obriguem a caminhar por onde não quero e não escondo as minhas opções só para agradar a terceiros e ter muitos amigos.
Dito isto tentarei dar uma resposta, tão clara quanto possível, à Reb e a tod@s @s “rebeldes” que gritam: «segurem-me senão eu vou-me a eles».
Agora mais a sério, sobre a questão da ADD, dos OI’s e da auto-avaliação, vou explicar o que fiz até hoje e o que vou fazer no final do ano (que, não por acaso, é o que penso desde sempre, o que defendi em todas as reuniões que se realizaram na minha escola e que coincide com a posição oficial da Plataforma Sindical e da FENPROF):
- Não entreguei OI’s porque a lei em vigor não me obrigava a fazê-lo. Apenas me dava o direito a participar na definição de uma parte desses objectivos, em parceria com o conselho executivo. Como na data em que me foi pedida essa colaboração já os OI’s estavam decididos pela minha PCE (havia mais de ano e meio), prescindi desse direito;
- Não vou entregar OI’s, não só porque não faria sentido entregá-los como expliquei no ponto anterior, mas também porque quero deixar claro à administração (PCE, DRE, SE’s, ME e 1º Ministro) que a lei não me obriga a fazê-lo;
- Exactamente pelos motivos expressos nos pontos anteriores, vou entregar a minha ficha de auto-avaliação (acompanhada de um relatório circunstanciado de toda a minha actividade docente e não docente, desde Setembro de 2007, mais um documento a expressar o meu repúdio pelo simplex e a exigir uma avaliação séria, credível e formativa);
Para quem tiver mais dificuldade, passo a explicar a ligação entre os pontos anteriores:
- Não tendo entregue (nem pretendendo entregar) nenhum documento com os OI’s, mas exigindo o meu direito a ver avaliado o trabalh0 que desenvolvi ao longo destes dois anos, só entregando a minha auto-avaliação posso fazer valer esse meu direito;
- Não entregar a ficha de auto-avaliação é, não só não cumprir a lei, como também afirmar que não se quer ser avaliado;
- Só quem entregar a ficha de auto-avaliação pode obrigar o PCE a atribuir uma classificação pelo serviço desempenhado;
- Só entregando a ficha de auto-avaliação, e dando cumprimento à lei, se pode contestar uma decisão de não avaliação e não progressão na carreira, que venha a ser determinada pela administração;
- Só tendo na mão o recibo de entrega da ficha de auto-avaliação se pode desencadear um processo de recurso hierárquico, e posterior procedimento de contestação jurídica da não avaliação e não progressão na carreira.
A colega Reb e todos os “rebeldes” que acham que a luta se ganha apenas com voluntarismos heróicos que me desculpem, mas heróis mortos era o que mais dava jeito a Pinto de Sousa e ao seu trio deseducativo.
Quando tanto gritam por unidade dos professores, talvez fosse sensato perceberem que aqueles que vocês chamam de “traidores”, por terem entregue os OI’s, apenas o fizeram porque quiseram preservar o seu direito a progredir na carreira. Pedir agora que não se cumpra a lei, e com isso que cada um se auto-penalize, é que é aprofundar divisões desnecessárias.
Para além de não nos podermos esquecer que o ponto fundamental de toda a luta é a exigência de que todos tenham direito a progredir na carreira, e que pedir para dar tiros nos pés é a forma mais rápida de afastar de nós todos os que não querem “ficar com um pé ao peito“.
Ana, professora said:
Pedia-lhe um esclarecimento para não fazer juízos de valor apressados e apriorísticos: a ficha de auto-avaliação que vai entregar é a do ME e que decorre da aplicação do SIMPLEX 2?
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Mário Machaqueiro said:
Gostaria de discutir este “post” do Francisco Santos sem entrar em ataques pessoais e evitando os processos de intenção. O que está em jogo é demasiado importante para nos perdermos em jogos florais e conversas de escárnio e maldizer. Deter-me-ei apenas nos argumentos e o que disser sobre a posição pessoal do Francisco decorrerá somente do que se pode inferir das suas premissas, procurando que a discussão se afaste do nível do solo (sem, ao mesmo tempo, deixar de ter os pés assentes na terra). Aqui, porém, tenho uma dificuldade, porque o Francisco mistura argumentos com declarações que exprimem intenções pessoais, as quais, em princípio, não são debatíveis na medida em que não pretendem apontar um caminho válido para todos, mas um caminho que apenas vincula quem as enuncia. Ainda assim, há terreno para alguma discussão. Diz o Francisco que não entregou os OI porque a lei não o obrigava a fazê-lo. Acrescenta que foi sempre sua intenção ver avaliado o trabalho que desenvolveu ao longo destes dois anos e que, portanto, o seu acto de não entrega dos OI não significava que pretendia não ser avaliado. Ora, como o único modelo de avaliação do desempenho em vigor é o que o Ministério impôs e que os professores têm vindo a contestar ao longo de 2008-2009, temos de depreender que o Francisco tencionou, desde o início, ser avaliado dentro desse modelo e ver a sua progressão na carreira assegurada à luz desse modelo. É que não existe outro modelo em vigor. Por conseguinte, quem queira ser efectivamente avaliado, com efeitos na progressão da carreira, só o pode fazer no quadro deste modelo, agora “modificado” numa versão que acentua ainda mais o seu carácter de farsa. E aqui deparamo-nos com uma primeira grande contradição no discurso do Francisco Santos: por um lado, afirma estar contra o modelo, mas, por outro, quer ser avaliado à luz do mesmo (visto não existir outro), com todas as consequências daí decorrentes. Não sei francamente como conciliar estas duas posições.
De repente o direito a progredir na carreira surge como o grande objectivo dos professores, e o Francisco vai mesmo ao ponto de manifestar a sua compreensão pelos colegas que entregaram os OI: afinal, eles quiseram apenas «preservar o seu direito a progredir na carreira». Mas foi por esse direito que nós nos estamos a bater desde Fevereiro de 2008? A resposta só pode ser um rotundo «não». Nós estamos a bater-nos, entre outros fins, contra este modelo de avaliação do desempenho. E quando nos recusámos a entregar os OI, não o fizemos apenas para mostrar que a sua entrega não era obrigatória por lei e que a avaliação podia decorrer perfeitamente sem essa entrega. Nós não entregámos os OI porque pretendíamos, com esse gesto, a suspensão deste modelo de avaliação. E era essa a palavra de ordem (justa) da Plataforma dos Sindicatos dos professores. Ao não entregar os OI, os professores queriam precisamente assinalar a sua indisponibilidade para participar em qualquer momento do processo de avaliação do desempenho, em conformidade com o conteúdo de tantas moções aprovadas nas mais diferentes escolas. Era esse o objectivo, e convém lembrá-lo. O que o Francisco Santos nos está agora a dizer é que esse nunca foi o seu objectivo. Ok, está no seu direito, e não vou julgá-lo por isso.
Que fique, portanto, muito claro que a luta do Francisco não é contra o modelo de avaliação em vigor. A sua luta é outra: é mostrar que quem não entregou os OI tem também o direito a ser avaliado, tem também o direito a entregar a ficha de auto-avaliação. Só assim se explicam os pontos finais de esclarecimento da sua argumentação. Por isso, esses pontos são também irrefutáveis por parte de quem se basear noutros pressupostos. Quando o Francisco afirma que «não entregar a ficha de auto-avaliação é, não só não cumprir a lei, como também afirmar que não se quer ser avaliado», tal premissa poderia ser rebatida se ele estivesse a falar da avaliação em abstracto. Poderíamos então replicar que há muitas maneiras, fora deste modelo de avaliação, de dizer que se quer ser avaliado, ao mesmo tempo que, não entregando a ficha de auto-avaliação, se faz valer a posição de quem não admite ser avaliado à luz de um modelo que repudia. Não é isso, aliás, que muitos professores disseram ao longo de 2008 e no início de 2009? Esses professores deixaram claro que queriam ser avaliados, mas por outro modelo que não este. Entretanto, o Francisco tem razão na afirmação acima citada, tendo em conta que ela se refere ao modelo de avaliação em vigor. De facto, os professores que não entregarem a ficha de auto-avaliação estão a dizer que não querem ser avaliados à luz do modelo vigente, não significando isso, naturalmente, que eles não queiram ser avaliados em circunstância alguma e dentro de qualquer modelo, seja ele qual for. Pois uma tal inferência seria reproduzir o discurso do Ministério em relação aos professores que contestam o modelo em vigor, e não acredito que o Francisco pretenda estar em semelhante companhia.
Pois é, Francisco. Os professores que não tencionam entregar a ficha de auto-avaliação não querem ser avaliados à luz deste modelo. Tu, pelos vistos, queres. É essa a principal diferença entre nós.
O resto da conversa – se os professores que não entregarem a ficha vão ser “mártires” ou Quixotes inconsequentes – já é extra-argumentativo, embora não despiciendo. Também te digo que não pretendo apelar a um qualquer martírio colectivo em nome de uma sacrossanta coerência. Mas se a não entrega da ficha de auto-avaliação implicar apenas a não progressão na carreira, podes ter a certeza de que eu e outros colegas estamos dispostos a manter essa posição, pois não nos parece que possamos trocar a progressão na carreira pela caução (prática, ainda que não teórica) deste modelo de avaliação do desempenho.
Lúcio Peixe said:
Não vá a Roma pedir as moedas.
Ricardo Silva said:
Por mim, sublinho apenas que o Francisco não foi capaz de responder ao que escrevi em
Provavelmente devo ser um “dos quantos” a quem não quer responder por questões de sanidade mental (não percebi ainda se dele se da minha) e por não querer “medir tamanhos” (bela forma de escapar ao debate!). Pobres, paupérrimas justificações para não responder à crítica que fiz a esta frase :
“Reentrei no SPGL porque, não concordando com algumas das posições dos dirigentes (como tu e muitos outros professores não concordam), só sendo parte tenho legitimidade para propor novos caminhos ao sindicato.”
Quanto ao exposto neste post, relativamente à entrega da ficha de auto-avaliação, não me apetece alongar demais. Acho que fica tudo dito pelas palavras do próprio. Fiquei a saber que ele, afinal, quer mesmo é tratar da vidinha! Luta sim, mas desde que haja PROGRESSÃO GARANTIDA! E para isso, há que entregar a ficha oficial do ME, devidamente preenchida, com as alíneas e pontos e tudo e tudo e tudo, tal qual exigem e fazem os mais furiosos adesivos a esta ADD! AHHH Leão!!!É assim mesmo! Afinal, este modelo de avaliação está PORREIRO PAH!!! Siga para bingo!
Ricardo Silva said:
Pois está bem, vai haver um salva consciências, tipo aqueles pregos “amigos do senhorio”, que não estragam a parede. Prega-se a bula crítica à ficha de auto-avaliação e a indulgência está garantida! Mainada!
fjsantos said:
Ana,
Vou entregar a ficha de auto-avaliação que estiver em vigor no meu agrupamento, um relatório crítico de avaliação (idêntico aos que entreguei no anterior modelo de avaliação, em que descreverei de forma detalhada o trabalho que realizei durante o biénio 2007/09) e um documento de protesto contra o DR 2/2008 e simplex subsequentes.
Mário,
Logo com mais tempo contra-argumentarei. Agora tenho que almoçar e voltar às aulas.
Celia said:
Mário Machaqueiro, muito obrigada por me ter devolvido o meu equilíbrio mental. Não entendo, repito, não entendo, como sendo a ficha de auto-avaliação um documento final para a avaliação e tendo em conta que a lei aos OI’s diz nada, alguém possa defender a entrega da dita ficha sem que a mesma deixe de ser entendida à luz DESTA avaliação.
Sinto tonturas, enjoos ao saber que os sindicatos ( nem sei se todos) estão a aconselhar a entrega da malfadada ficha e um textículo anexo de protesto, tipo chapa 10, feito pelos sindicatos.
Não! Basta! Onde começa o ME e acaba esta proposta?!
É como dizer: olhe, vou a caminho do matadouro mas acreditem que vou contrariado”!
Que é feito da dignidade? A velha parábola dos 30 dinheiros…
reb said:
Começo por dizer que não compreendo pq razão o Rui fala de mim neste post como uma “rebelde”. Nunca o ataquei nem venho aqui para arranjar conflitos.
Vamos à questão em si.
Tal como a colega Célia, apreciei muito o texto do Mário Machaqueiro pela coerência! O seu raciocínio é claro como água.
Nem entendo como é que, numa altura destas, se vem buscar o argumento ( que já foi do ME e até da opinião pública) que não queremos ser avaliados!! Eu julgo que o que rejeitamos é ESTE modelo de avaliação! Penso que muitas vozes de docentes se têm manifestado nesse sentido, desde que tudo isto começou.
Sempre entendi que não entregar os OI era negarmos-nos a iniciar este processo que contestamos.
Levanto aqui uma questão: se 90 % dos professores não tivesse entregue os OI, que posição se iria tomar aquando do prazo de entrega da AA?
. said:
Mas não foi reb. Infelizmente.
Fernanda 1 said:
“Mas se a não entrega da ficha de auto-avaliação implicar apenas a não progressão na carreira, podes ter a certeza de que eu e outros colegas estamos dispostos a manter essa posição, pois não nos parece que possamos trocar a progressão na carreira pela caução (prática, ainda que não teórica) deste modelo de avaliação do desempenho.”
(Mário Machaqueiro)
Mário,
Se for mais do que ” implicar apenas”, continuará a manter essa posição?
Sem qualquer juízo de valor, estou curiosa em saber a resposta.
Obrigada.
Mário Machaqueiro said:
Fernanda,
Não fica sem resposta. Se a não entrega da ficha de auto-avaliação implicar penalizações mais graves, nomeadamente no domínio de procedimentos disciplinares que possam pôr em causa o meu emprego, é óbvio que terei de repensar a minha actuação. Quero ser coerente, mas não tenciono levar a coerência até ao ponto de um sacrifício pessoal do qual não resultaria qualquer dado positivo, nem para mim, nem para os outros. Se não quero simplesmente tratar da minha “vidinha” (isto é, se, quando me olho no espelho, gosto de sentir que tenho uma vida e não somente uma vidinha), também não tenho jeito para mártir S. Sebastião. Até porque já passei pelas dificuldades de quem está à beira do desemprego, quando, nos idos de 1991-92, os professores de Filosofia e de História licenciados entre 1983 e 1985 estavam a ser ultrapassados nos concursos de colocação por quem vinha com o estágio integrado, sem quaisquer possibilidades de se profissionalizarem e cada vez mais empurrados dos concursos nacionais para os mini-concursos. Nessa altura também não me dispus a ser mártir e vi-me obrigado a criar, com mais alguns colegas, uma associação que procurou fazer-nos sair dessa situação e repor uma justiça elementar. Conseguimos, e só por isso não fomos atirados para um desemprego definitivo (pelo menos no que toca ao ensino). Por conseguinte, entre o martírio e o oportunismo há certamente um meio-termo no qual a coerência se pode afirmar, com riscos e consequências inerentes que, no entanto, não têm de significar auto-imolações na praça pública. A menos que aqueles que estão na disposição de entregar tudo no final do ano lectivo tenham a supina lata de exigir dos que os criticam que levem a coerência até ao sacrifício total. Mas isso é só para rir.
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