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“Em relação a Sócrates há uma tentativa de o difamarem sem provas, numa espécie de julgamento na praça pública, esquecendo a justiça e contra a opinião do próprio Procurador Geral da República”. Mário Soares, “Diário Económico”, 4-4-2009
Como qualquer cidadão medianamente informado, e sem acesso a qualquer tipo de dados classificados, não me sinto capaz de julgar que o primeiro ministro seja culpado de ter cometido qualquer acto ilegal ao longo da sua vida. Nem no caso da licenciatura, nem no das casas na Guarda, nem no de um aterro sanitário não sei bem onde, nem no mais mediático caso FreePort.
Desse ponto de vista acho que o ex-primeiro ministro, ex-presidente da República e ex-presidente da Internacional Socialista Mário Soares tem razão quando se insurge contra quem tenta difamar o primeiro ministro, sem provas, esquecendo a justiça e contra a opinião do Procurador Geral da República. Se bem que, em termos de aplicação da justiça, eu seja tentado a achar que a opinião de um procurador da República (mesmo que seja o procurador geral) não é uma sentença transitada em julgado.
Claro que não me esqueço que em matéria de solidariedades políticas os “socialistas democráticos”, a começar pelo ex-presidente da Internacional Socialista Mário Soares, são extremamente generosos para com os seus pares e são capazes de jurar a pés juntos a inocência de camaradas, mesmo que exilados e perseguidos pela justiça, como foi o caso de Bettino Craxi.
Mas o caso de Pinto de Sousa e da alegada “perseguição” que lhe é feita não se confunde, pelo menos na minha modesta opinião, com difamações ou julgamentos em praça pública.
Do ponto de vista de um professor, que é a forma como olho para quem me (des)governa há mais de quatro anos, não me atrevo a achar que a justiça vá condenar o primeiro ministro, pelo simples facto de que penso que ele sempre foi suficientemente inteligente para evitar cometer qualquer acto ilegal ou ilícito.
Pelo contrário, arrogo-me o direito de fazer sobre ele e sobre muitos dos seus camaradas de partido um juízo moral, acreditando que “a benefício” da congregação em que militam foram capazes de “fintar” de forma criativa alguns princípios legais. É com base neste juízo moral que acredito que algumas campanhas partidárias (nomeadamente as do centrão) têm sido financiadas de forma, não direi opaca, mas pelos menos translúcida, trocando poder por dinheiro.
Dir-me-ão que se trata de preconceito e que isso não justifica a repulsa que sinto pelos entes que (des)governam o país. Poderá até haver muita gente que, na senda de Mário Soares, ache injusto que essa repulsa se generalize e venha a traduzir-se numa derrota eleitoral.
Por mim acho que se trata apenas da aplicação do aforismo popular: QUEM COM FERROS MATA COM FERROS MORRE. E em defesa desta minha argumentação relembro que, desde que chegou ao poder, o primeiro ministro Pinto de Sousa (e o partido que lidera) não parou de fazer julgamentos de carácter na praça pública, esquecendo a justiça e a lei, contra os professores, mas também contra os funcionários públicos, contra os médicos e contra os enfermeiros, contra os magistrados e contra os polícias, contra os militares e contra todo e qualquer português que discorde dele e dos seus apaniguados.
É por isso que espero que o verdadeiro “julgamento popular” (apenas com linchamento simbólico) se faça no dia das eleições legislativas. Porque quanto ao julgamento dos tribunais, lamento ter que o dizer, não tenho a mínima esperança de que chegue a bom porto.