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A “reb” (Rebeca, que não achou piada à ideia de eu a ter confundido um dia com rebelde), umbiguista militante, deixou um deste dias uma pergunta-comentário (ou um comentário-pergunta) a que só hoje me apetece responder (porque não me apeteceu alimentar a polémica que ela queria, na altura que lhe dava jeito).

A resposta à questão que ela colocou [e que mais alguns reb(eldes) queriam ver respondida, mas não fizeram] é – sim, depois da manifestação contra as políticas educativas de Pinto de Sousa (mas também dos governos que o antecederam) vou entregar a ficha de auto-avaliação acompanhada de um relatório crítico de todo o trabalho que realizei, desde Setembro de 2007 até Agosto de 2009, mais uma declaração de protesto contra a ADD em vigor, e aconselho todos os professores a fazerem o mesmo.

Dito isto de forma clara e sucinta, importa agora explicar porque vou agir deste modo e acho que todos os professores que se manifestaram contra a ADD socratina devem fazer como eu.

É que eu estou contra o ECD desde que conheci o anteprojecto que deu origem ao DL 15/2007. Também estou contra o modelo de avaliação que lá está inscrito e que foi plasmado no DR 2/2008. Não fui convencido com as simplificações que lhe foram introduzidas, com carácter temporário, de que o DR 1-A 2009 é o último exemplo (até ao dia em que escrevo este post). Mas sempre disse, de forma convicta, que a avaliação do trabalho docente tem que ser feita de forma séria, com profissionalismo e com carácter formativo.

E para que esse carácter formativo, de que não abdico, possa ter concretização é imprescindível um processo auto-reflexivo, isto é, uma auto-avaliação que tenha como consequência o reforço das práticas positivas, o trabalho formativo que permita corrigir as práticas menos correctas, e a promoção de um trabalho cooperativo de hetero-formação entre pares.

Porque tenho consciência de que o modelo imposto pelo governo de Pinto de Sousa não tem nenhuma das preocupações que enunciei, estou em total desacordo com ele e tudo farei para o combater e promover a sua revogação.

Porque defendo que o trabalho e a promoção da profissionalidade docente passam necessariamente pela capacidade de reflexão crítica do professor em relação à sua prática, exijo a consagração do exercício ao direito de auto-avaliação, como forma de garantir a melhoria da escola pública ao serviço de tod@s @s cidadãos.

É por isso que considero um absurdo qualquer tipo de apelo a um boicote à entrega da ficha de auto-avaliação, mesmo considerando que essa ficha faz parte de um modelo de que discordo frontalmente. E como considero que essa ficha nem sequer permite traduzir fielmente as múltiplas áreas de intervenção dos professores que garantem o regular funcionamento da escola pública e um nível de qualidade que respeite os direitos dos alunos, considero que todos os professores devem acrescentar ao modelo burocrático do ME um relatório que espelhe tudo o que realizaram ao longo do período em avaliação.

Quanto às questões de ordem legal, cada um deve saber exactamente quais as consequências dos actos que pratica. Nada me move contra quem quiser desobedecer à lei. Acho até uma atitude nobre que alguns colegas queiram emular o despojo, a convicção e a determinação da desobediência civil de Thoreau ou de Gandhi. O que acho pouco sério, para não dizer mesmo desonesto, é que alguns promovam essa desobediência sem alertar quem os segue para as consequências desse acto (já para nem sequer imaginar que os instigadores possam vir a quebrar o compromisso para que empurram os incautos).