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Daily Archives: Junho 30, 2009

Escola como espaço de vida e não apenas de aprendizagem

30 Terça-feira Jun 2009

Posted by fjsantos in cidadania, educação

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educação para a vida

O espaço de formação específico é a escola, essa escola que é um espaço de viver e não apenas de aprender, e por isso cuja organização deve fazer-se em função dos educandos. Não por eles, porque a instituição permanece, embora mudando, ao longo de sucessivas gerações que a frequentam, e sobretudo porque, não tendo atingido as metas de formação, carecem de competência para escolher os caminhos para as atingir; mas nela devem ter a possibilidade de se ir preparando para organizarem por si próprios. É essencial principalmente que a escola não seja, para eles, um lugar de passagem, onde estão algumas horas por dia sempre ocupados em tarefas que lhes marcam; mas sim um lugar de que se apropriam durante os anos que a frequentam, onde permanecem diariamente para actividades múltiplas e não só para a assimilação de conhecimentos – incluindo as actividades lúdicas. Actualmente, a falta de edifícios tende a transformar as escolas como que em lavagens automáticas de carros, a um turno sucede outro turno, de modo que não se vive na escola, não se vive a escola, está-se em trânsito.

Ora, na emergência e desenvolvimento da personalidade, como na tessitura das relações inter-pessoais, os sucessivos e simultâneos papéis sociais que o eu vá desempenhando, sendo por eles esculpido enquanto lhes imprime a coloração individualizadora, inscrevem-se em configurações da extensão de que algumas marcam o sujeito duradouramente – o lar, a escola, o local de trabalho, o templo ou o clube.

A escola, assim, individualiza do mesmo passo que sociabiliza, na exterioridade do seu espaço apropriado tem como outra face a interiorização. E isso, se nela se vive, e portanto se é activo – Sérgio bem sublinhava que se educa na acção, pela acção. É-se levado a compreender o universo, o ambiente, e a compreendermo-nos, a explicá-lo e a explicar o que somos; como se aprende o ofício, ou melhor, nos formamos para a polivalência do saber-fazer; vamo-nos iniciando, construindo na cidadania, o que implica a solidariedade social mas igualmente que na escola o educando seja tratado por medida, como pessoa, e não massificado. Trata-se de trabalhar (e de estudo como forma de trabalho e textura mental a elaborar a compreensão-explicação), como se trata de praticar desporto (formativo da personalidade e da sociabilidade), de usufruir o deleite estético. Mas a escola tem de ser sobretudo um espaço de formação ética – não de discursos moralizadores, mas de prática reflexiva, com opções criticamente assumidas. Sérgio acentuava repetidamente a vacuidade da pregação moral, mas para ele, centrando tudo na emergência da personalidade, no centro de tudo colocava os múltiplos feixes de acções socialmente situados em que o sujeito assume por si os valores e auto-dita as normas.

Vitorino Magalhães Godinho – prefácio da edição de 1984 de EDUCAÇÃO CÍVICA de António Sérgio

Aprendendo com os mestres

30 Terça-feira Jun 2009

Posted by fjsantos in bem público, cidadania, educação

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auto-governo, autonomia responsável

Confesso que, sobre António Sérgio sei muito menos do que deveria saber, sobretudo quando tenho a veleidade de opinar sobre a Escola Pública e a Escola Para Tod@s.

Um pouco por acaso, no passado sábado, tropecei numa edição de 1984 de uma obra que A. Sérgio escreveu em 1915 – «Educação Cívica». Foi numa incursão à livraria Sá da Costa, no Chiado.

Aconselh0 vivamente a leitura deste texto brilhante de A. Sérgio e, como incentivo, deixo aqui um pequeno excerto:

… a importação de instituições inglesas por todos os povos não engendrou por toda a parte uma administração como a inglesa, e menos ainda improvisou nos países importadores outras tantas Inglaterras. «O grande erro – declama agora a crítica fácil – o grande erro foi importar; e eu rogo licença aos preopinantes para lhes dizer que o grande erro foi não importar suficientemente. Somos como um cavalheiro que mandou vir um certo automóvel sem motor, ou uma aperfeiçoada ventoinha eléctrica sem ter instalado a energia eléctrica. Despachou os caixotes, abriu, montou o carro, deu-lhe de volante, tocou a buzina, bateu o pé, gesticulou, rugiu, estralejou: «Eh, home! Arreda, arreda, que a coisa agora vai marchar! – e a traquitana, apesar de tudo, não buliu; acomodou a ventoinha, e ventoinha parada. Depois arrancorou, gemeu, carpiu-se, e concluiu redondamente: «O automóvel é incompatível com o meu Génio; a ventoinha é inadaptável à minha Raça!»

Voltemos pois aos coches de D. João V, às caravelas de Gil Eanes, às mulas de Afonso Henriques, e resignemo-nos às soalheiras que apanhou, sem ventoinha, o seu neto venerável, D. Afonso II, o Gordo…

Ora, nós imitámos como toda gente a maquineta da Inglaterra, «a civilizadora do mundo», «o país modelo», como lhe chamou Herculano; avezamos constituição, avezamos câmaras, ministérios saídos dessas câmaras, e uns catitinhas de uns pais da pátria que não são como os ingleses, mas enfim, são pais da pátria; e não são – nem somos – como os ingleses, porque copiámos a maquineta mas esquecemo-nos do motor…

O motor, neste caso, é a educação dos Ingleses.

Sabeis que a mola do sistema britânico consiste numa coisa que por ser deles lhe chamaremos como eles lhe chamam: o self-government. Sem dúvida a sociedade, a família, o ambiente educam o Inglês no self-government, mas lá está também a escola a infundi-los nesse molde.

E a nossa escola? Sabe ela ao menos o que isso é? Não, não faz a mínima ideia: eis aí uma das razões por que a maquineta não marcha.

Correio Electrónico!

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