O governo sabe bem que está em muitos maus lençóis, mas continua a haver entre a equipa que rodeia o 1º ministro um conjunto de rapazes com ideias e que se acham os melhores estrategas políticos que há à face da terra. Pelo menos da terra lusitana.
A opção política, tomada pelo governo, de roubar descaradamente quem trabalha, para que quem especula não passe a ter menores lucros, vai ter repercussões na paz social e também se reflectirá nas eleições que se antecipam para o próximo ano. Por isso os tais rapazes acham imprescindível começar a preparar o terreno que os faça chegar, de novo, ao coração de alguns grupos que mais têm prejudicado.
Embora todos os trabalhadores vão ser roubados com o aumento de impostos e diminuição de alguns apoios sociais, a verdade é que só aos trabalhadores da administração pública é que o governo mete mesmo a mão no bolso, qual carteirista à entrada dos transportes públicos. E o governo, mais os rapazes que o aconselham, sabe que os professores são o grupo mais numeroso dentro desse vasto molho de votos que terá que reganhar já em 2011.
Vai daí veio-lhes à ideia a possibilidade de contentar “os professores”, em particular os mais conservadores e mais determinados defensores da disciplinarização do ensino e do modelo napoleónico da escola. Ainda por cima quando isso até contribui para mais uma redução (ainda que relativamente pequena) dos custos com pessoal.
Falo do enterro da Área de Projecto, que desde o início andava moribunda, e que grande parte dos professores se encarregou de desvalorizar primeiro, para mais tarde liquidar. Ao mesmo tempo que agrada a quem sempre achou preferível dar mais tempo às disciplinas consideradas “nobres” e sempre achou que a integração de saberes é uma inutilidade, o governo irá poupar uns tostões com a eliminação dos pares pedagógicos que leccionavam a AP no 2º ciclo. De caminho pensa também conquistar o coração dos pais cuja principal preocupação é o diploma.
Quanto à gestão autónoma dos tempos escolares, 45′ ou 90′, trata-se de uma não medida, já que havendo autonomia pedagógica a gestão dos tempos poderia permitir outros formatos, como 60′ ou outra qualquer duração. Também aqui se passa a mão pelo pêlo de uma parte dos professores, reforçando a ideia da escola aos quadradinhos, na esteira do que já tinha sido a medida do governo anterior de impor tempos disciplinares na organização do trabalho dos professores do 1º ciclo.
Maria Fernanda said:
Não sei se a poupança será assim tão reduzida. Na minha escola,serão cerca de 70 horas, 2º e 3º ciclos,só para AP.
Mas deixe que lhe coloque algumas questões:
1) Não acha que o currículo dos alunos é demasiado sobrecarregado? E demasiado uniforme?
2) Estando tantas horas em aulas, como podem ter tempo para o trabalho individual, autónomo,para actividades escolares ou não escolares,que lhes interessem e possam escolher ?
3) Haverá ou não disciplinas nobres? Ou essenciais para a formação do indivíduo? Ou anteriores a outras? Ou mais difíceis, apesar de supostamente essenciais?
4) A escola deve ser a tempo inteiro para todos, mesmo para os que queiram e possam ir para casa depois de uma manhã de aulas? Eu até admito,veja lá, que as escolas venham a ter dormitórios,pois há pais que trabalham por turnos,de dia ou de noite…mas não me parece que a escola tenha de ser igual para todos durante 24 horas por dia…
Obrigada pela sua atenção
fjsantos said:
Maria Fernanda,
coloca-me algumas questões pertinentes, sendo que não tenho resposta para todas.
Porque se trata de um comentário estimulante, do ponto de vista reflexivo, dar-lhe-ei a(s) resposta(s) em forma de um outro post.
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