… quando li no 5 Dias que os bebés vão ser obrigados a tirar o cartão do cidadão, para poderem ser considerados dependentes dos pais, para efeitos de declaração de rendimentos, como se pode confirmar aqui.
7,50 € juntos a muitos outros 7,50 € também ajudarão a diminuir o défice
O principal alvo do ataque do governo são os trabalhadores da Administração Pública.
Isso acontece porque o neoliberalismo quer destruir os serviços públicos e caminhar para a instauração de um Estado mínimo, que se limite a garantir a paz social ao serviço da burguesia e das grandes empresas internacionais.
Voltaire, o filósofo da revolução liberal burguesa, postulou que teriam que existir sempre duas classes – uma dos detentores do capital, destinada a dirigir a sociedade e para quem a procura do lucro é legítima e outra, constituída pelos trabalhadores, destituída de todos os direitos sociais e económicos. Os herdeiros deste pensamento liberal burguês, que no panorama político português estão bem representados pelos partidos do “arco do poder”, apenas se limitam a executar esse plano original.
Face ao enorme retrocesso dos direitos sociais, que se tem vindo a agravar à medida que o capital sente que a organização dos trabalhadores é enfraquecida, a única possibilidade de contenção dos ataques de que os trabalhadores são alvo é manterem-se unidos e determinados na luta.
Com o pacote de medidas que o governo começou a aplicar, apoiado pela direita parlamentar e pelos banqueiros, na prática foi denunciado o acordo que conseguimos obter em Janeiro, eliminando o aspecto positivo que era o acesso de todos ao topo da carreira e deixando ficar o único ponto que sempre criticámos – a ADD modelo prestação de contas.
Mas este não é o único motivo de descontentamento e é preciso não esquecer que:
Além do corte de salários que não se destina a uma duração limitada no tempo mas é permanente porque passa a definir novos patamares salariais, o governo anunciou-nos novo congelamento de todas as progressões e promoções na carreira.
O seu início vai ser imediato já que está em preparação o decreto-lei que estabelece a metodologia de concretização de mais este roubo de tempo de serviço, que se junta ao anterior de 28 meses, que previsivelmente se prolongará por alguns anos, havendo já quem aponte para mais do que uma legislatura.
A situação de precariedade de todos os contratados vai piorar face ao congelamento das admissões na função pública e vai traduzir-se num agravamento do desemprego, provocando a degradação das condições de trabalho e da qualidade de todos os serviços públicos.
Também as condições de trabalho nas escolas, por diminuição de pessoal (docente, administrativo e auxiliar), vão ser agravadas com o encerramento e a fusão de estabelecimentos de ensino, a ausência de apoio especializado a milhares de alunos com Necessidades Educativas Especiais, o abaixamento dos níveis de financiamento do sistema educativo público e o avanço de dinâmicas privatizadoras, ao serviço dos interesses do capital que olha para a educação como um negócio com futuro.
É por isso que os professores têm que lutar ao lado de todos quantos são atingidos pelo ataque do capital e contra os defensores do neoliberalismo instalado.
É por isso que os professores e educadores têm que estar disponíveis para prosseguirem a luta, quer no âmbito sectorial, quer no plano mais geral de novas acções de luta convergentes com outros trabalhadores, porque a participação na manifestação de 6 de Novembro, convocada pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública e na Greve Geral, convocada pela CGTP, são parte da longa luta que temos pela frente e que exige a mobilização e o empenho de todos.
O governo sabe bem que está em muitos maus lençóis, mas continua a haver entre a equipa que rodeia o 1º ministro um conjunto de rapazes com ideias e que se acham os melhores estrategas políticos que há à face da terra. Pelo menos da terra lusitana.
A opção política, tomada pelo governo, de roubar descaradamente quem trabalha, para que quem especula não passe a ter menores lucros, vai ter repercussões na paz social e também se reflectirá nas eleições que se antecipam para o próximo ano. Por isso os tais rapazes acham imprescindível começar a preparar o terreno que os faça chegar, de novo, ao coração de alguns grupos que mais têm prejudicado.
Embora todos os trabalhadores vão ser roubados com o aumento de impostos e diminuição de alguns apoios sociais, a verdade é que só aos trabalhadores da administração pública é que o governo mete mesmo a mão no bolso, qual carteirista à entrada dos transportes públicos. E o governo, mais os rapazes que o aconselham, sabe que os professores são o grupo mais numeroso dentro desse vasto molho de votos que terá que reganhar já em 2011.
Quanto à gestão autónoma dos tempos escolares, 45′ ou 90′, trata-se de uma não medida, já que havendo autonomia pedagógica a gestão dos tempos poderia permitir outros formatos, como 60′ ou outra qualquer duração. Também aqui se passa a mão pelo pêlo de uma parte dos professores, reforçando a ideia da escola aos quadradinhos, na esteira do que já tinha sido a medida do governo anterior de impor tempos disciplinares na organização do trabalho dos professores do 1º ciclo.
Num tempo em que a luta política é sistematicamente desvalorizada por quem detém o poder económico e subjuga o poder político, corremos o risco de que a vaidade de uns quantos, que pretensamente sabem tudo e cujo saber nos é apresentado como essencialmente técnico e apolítico, sejam os melhores aliados da manutenção do pântano e do status quo instalado no país há 34 anos.
Nassehi e Hagen-Demszky (2007)* consideram que o conhecimento se transformou num recurso central e numa forma de capital das sociedades modernas surgindo como uma forma de regulação e de solução de problemas. Sugerem mesmo que o acesso a um conhecimento livre e objectivo, assente numa informação confiável é a melhor protecção contra os perigos dos extremismos e das paixões das massas.
Importa, pois, diferenciar entre conhecimento, informação e dados, uma vez que são conceitos que habitualmente são considerados objectivos e não envolvem opções políticas ou ideológicas dos actores. Nassehi e Hagen-Demszky fazem a distinção recorrendo a Wilke e a Bateson e consideram que os dados são criados pelos observadores, utilizando variados instrumentos e de acordo com esquemas conceptuais de que fazem parte teorias, preconceitos, experiência e conhecimento prévio. Por outro lado a informação é criada a partir dos dados que são submetidos ao crivo de filtros que evidenciam a sua relevância para o observador. Finalmente, o conhecimento é apresentado como tendo a sua génese na informação disponível, a qual é analisada de acordo com padrões significativos e assentes em experiência acumulada num sistema específico de memória.
O conhecimento surge-nos como um conceito não homogéneo, podendo ser classificado como explícito ou implícito, individual ou organizacional, teórico ou prático. Este último aparece normalmente associado ao que identificamos como o senso comum. O senso comum é um conceito polissémico, que entendemos como um tipo de conhecimento que resulta do armazenamento de modelos de acção e interpretação no cérebro e que é partilhado por um público (portanto não é individual) e retratado como natural (Sponholz, 2007)**.
Surgindo normalmente associado ao saber quotidiano, o senso comum permite a criação de rotinas que resolvem os problemas do dia-a-dia e dispensa qualquer tipo de justificação porque é entendido como um saber natural, a tal ponto que as novas experiências são integradas e não o contradizem.
Trata-se também de um conhecimento que é constituído por frases que têm um valor universal, já que é um conhecimento adquirido através da experiência e pode ser partilhado com os actores que pertencem ao mesmo mundo do sujeito que conhece, adquirindo assim um valor colectivo. O senso comum, não admitindo opiniões dissidentes, pode colocar problemas políticos e sociais na medida em que cria noções falsas sobre o ambiente natural e social em que se movem os actores. Sendo um conhecimento que tem em comum com a ciência o facto de se apoiar na experiência empírica, afasta-se dela porque não procura aproximar-se da verdade, bastando-lhe saber o necessário à sobrevivência. É com base nesta relação distinta e ambígua com a verdade que Besnier (1996)*** sugere a metáfora da diferença entre Einstein e uma amiba, esclarecendo que ambos fazem uso do método das tentativas, mas enquanto a amiba procura a todo o custo eliminar o erro, Einstein cultiva-o, na esperança de aprender qualquer coisa sobre o mundo, graças a ele.
* Nassehi, A.; Hagen-Demszky, A.(2007). The Structures of Knowledge and of Knowledge Production. Know&Pol – Literature Review, pp. 157-190
** Sponholz, L. (2007). Entre senso comum e ciência: o conhecimento híbrido do jornalismo. Ciências & Cognição, Vol. 10, pp. 2-14
*** Besnier, J.-M. (1996). As Teorias do Conhecimento. Lisboa: Instituto Piaget.