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Ontem, vendo a “Quadratura do Círculo”, reparei na insistência com que A.Costa reclamava contra os seus parceiros do “arco governativo” por estarem a comentar o programa do PS sem o terem lido.
Ontem, também, foi o dia do “fait-divers” sobre uma alegada campanha dos movimentos de professores contra o PS.
Não valendo a pena valorizar em demasia a visibilidade que foi dada ao repasto em que estiveram presentes alguns professores do ensino básico e secundário, e em que o convidado de honra foi um professor universitário e cronista/comentador de educação, com assento regular num jornal e numa televisão, será interessante olhar para as propostas partidárias na área da educação.
Quanto ao “compromisso educação” que os movimentos terão negociado com os partidos da oposição, aguardo para ver que tradução terá nas respectivas propostas eleitorais.
Já do discurso de A.Costa fixei a hipervalorização da aposta na educação, em particular no alargamento da escolaridade, segundo as suas palavras, ao 12º ano.
Como não quero ser injusto (embora tenha a declarar que o meu voto e a campanha que farei, junto de familiares e amigos, será à esquerda do PS), fui espreitar o que diz o programa do PS na área da educação. Aí, entre as páginas 47 e 51, estão indicados os objectivos para a próxima legislatura.
A ambiguidade e o uso de formulações generalistas são a imagem de marca. Todos os compromissos ali enunciados permitem a continuação das orientações neo-liberais, emanadas das instâncias de regulação do capitalismo globalizado, apesar de permitirem leituras benevolentes de alguma preocupação social mitigada.
Sobre a magna questão do alargamento da escolaridade obrigatória nada permite afirmar que a meta seja o 12º ano para todos. O que fica claro é que todos os jovens deverão frequentar o sistema de ensino/formação entre os 5 e os 18 anos de idade.
Pretender que todas as crinaças que entram no sistema escolar aos 6 anos terão concluído o 12º ano aos 18, significa que não haja nunca retenções.
Enquanto grande desígnio do sistema educativo português, parece-me ser de aplaudir essa iniciativa. Só que para a tornar exequível terá que se proceder a uma verdadeira revolução, não só na escola, como em todas as estruturas sociais que concorrem e são determinantes para o sucesso e a efectividade da escola – família, autarquia, serviços de saúde, segurança social/emprego.
Torres Santomé, J. DIVERSIDAD CULTURAL Y CONTENIDOS ESCOLARES
De facto, no que às propostas apresentadas pelo PS diz respeito, não encontrei nem uma linha sobre como pretender garantir que todos as crianças que entram na escola ao 6 anos vão conseguir concluir com êxito o 12º ano aos 18.
Eu só vejo dois caminhos: ou se decreta administrativamente a transição durante toda a escolaridade obrigatória, ou se altera radicalmente a organização escolar e se lhe atribuem recursos humanos e financeiros muito mais significativos, de modo a permitir a individualização do ensino que garanta a aquisição de competências e saberes a todos os alunos.
É esta a clarificação que falta.
Cristina Ribas said:
Concordo, Francisco!
A minha não concordância com o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, prende-se exactamente com o facto de não haver investimento nos reais problemas da educação para que as crianças e os jovens possam ter efectivamente o Direito à Educação. E é uma falácia que os jovens concluam o 12º ano, têm é que andar na escola até aos 18… E juntos com colegas bastante mais novos, a quem muitas vezes dão maus exemplos…
Jad said:
Também acho que há muitas pontas por atar, que há fissuras que parece não haver desejo de consertar, que continua a alimentar-se a educação com equívocos tanto no que se refere ao ensinar como ao aprender, que, como é nossa tradição, começamos pelo imediato e obcessivo resultado ou prestação de contas esquecendo a busca das razões que os justificam. Acho igualmente que a defesa do ensino diferenciado comporta perigos que poderão traduzir-se na pior das clivagens sociais: aquela que reforça a desigualdade sob o manto do ensino de acordo com as capacidades individuais.
Jad
Jorge Machado said:
“… o meu voto e a campanha que farei, junto de familiares e amigos, será à esquerda do PS”
Cada um vota onde quer, mas será que um voto no BE ou o PCP não continuará a dar a vitória ao PS?
E se o PS ganhar quem serão os PRIMEIROS a serem CILINDRADOS? Quem são?
Os Professores … zecos !!!!
Não aproveitem os votos e depois queixem-se. Eu não estou para andar mais 4 anos nesta pouca vergonha que foi a “Inducação”.
Eu votarei útil, ou PSD ou CDS.
E sempre votei PS desde a tal manif. da Alameda
fjsantos said:
Cristina e Jad,
A educação e a formação são factores inquestionáveis de equidade. Desse ponto de vista compete à escola educar e formar os cidadãos que a ela acedem.
A questão é que, para responder a esta demanda, a escola tem que organizar-se de forma diferente da escola que nos educou e formou. Para isso tem que ter o apoio de todas as outras estruturas que fazem parte do seu envolvimento.
O discurso de não inclusão dos menos “preparados”, ou da sua culpabilização pelo fracasso, já não é aceitável.
Claro que a organização da escola e do currículo que deve emergir não pode continuar a ser a da desculpabilização e do empobrecimento cultural e social dos jovens, mas sim o da promoção do conhecimento e das competências úteis à vida em comunidade.
fjsantos said:
Jorge Machado,
como bem diz «cada um vota onde quer».
Haverá até algumas centenas de milhar de portugueses que votarão no PS porque admiram Pinto de Sousa.
É o preço que temos que pagar pela democracia e, por mim, pago-o com todo o gosto.
Acontece que, do meu ponto de vista, para que haja alguma esperança de que a contaminação e o empréstimo de políticas, que nem nos países de origem tiveram resultados positivos (como p.ex. a “accountability” no RU e EEUU), não se instalem definitivamente no nosso país é preciso que o voto somado à esquerda do PS o impeça de governar sozinho, mas também de se aliar à direita “neocon” e “neolib”, para quem o mercado e o empreendedorismo [suportado com dinheiros públicos (é claro)] são o fim da História.
O Jorge pode achar que a solução é mais liberalismo (neo ou não). Mas essa é a sua escolha, da qual é tão responsável como eu pela escolha de uma valorização dos partidos que obriguem o PS a recuperar o socialismo, indo buscá-lo à gaveta para onde Mário Soares o atirou há mais de 30 anos.
Jad said:
Claro que sim. Não poderia ser de outro modo se pensarmos a escola como a instituição e a organização que pode equilibrar, de algum modo, o desacerto dos outros agentes educativos e modeladores, como os pais/encarregados de educação, a TV e, num outro grau, a Web. O meu problema, enquanto professor que quer ser educador e que se pensa como tal e que quer pensar o educar e o aprender não é a descriminação ou a não inclusão manifestas. Essas são suficientemente “protegidas” pelos media, pelos comentadores e “opinadores” e pelos “bem-pensantes”. O meu problema são a desriminação e a não integração subliminares, preversas, resultantes da crença segundo a qual se dermos a cada um aquilo que lhe corresponde estaremos a atingir o nível maior da educação: todos são felizes porque todos têm a parte que lhe cabe. Por mim, não há maneira mais preversa de manter a descriminação e a desigualdade social, cultural e, evidentemente, económica porque, exactamente, inibe a libertação social e cultural ao fixar-se nas características individuais.
Subscrevo o seu post e o comentário mas acrescento-lhe este reparo.
Gonçalo Araújo said:
Julgo que é erro de palmatória no Programa do PS.
A obrigatoriedade do 12º ano é de uma impossibilidade total. De salientar que a recente obrigatoriedade de 12 anos de frequência escolar/formativa irá, talvez, assegurar que 90% dos portugueses possam concluir o 9º ano.
Daí que o objectivo inscrito no Programa do PS é uma falha. Pergunte-se a um qualquer responsàvel na área sobre o que significa o 12º anoobrigatório (só pode ser a sua conclusão) e ficarão gagos…
Não tem qualquer sentido.
Estarão a referir-se (ou a querer referir-se) à aplicação no terreno da medida recente: 12 anos de escolaridade (6-18 idade) e não a outra coisa.
Mas, é um equívoco gigantesco. O que demonstra a impreparação e desconhecimento da matéria por quem fez o programa.