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Aparentemente, Portugal tem um problema enorme: a escola não serve para nada, os alunos não aprendem nada e a solução mais acertada é voltarmos ao tempo em que, apesar de obrigatória, a escola era frequentada por menos de 20% da população em idade escolar. Ah, claro! Também podemos privatizar já o ensino e fica tudo resolvido ainda mais depressa.

Pelos menos é essa a opinião de distintos e doutos especialistas, desde os opinadores residentes dum programa que se inclina, mas nunca mais cai, até ao especialista em gestão educativa que opina sem produzir a menor evidência do que afirma.

Como não podia deixar de ser, estes gurus mediáticos encontram sempre quem lhes reproduza as ideias, patéticas e infundadas que sejam, porque isso rende “reconhecimento interpares”.  Em tempos, houve até quem quisesse fazer do especialista em ESE’s o ministro da educação.

Depois há os que se balançam em voos mais ousados e ensaiam também a produção de uma opinião, baseada no mesmo fundamento dos seus ídolos – o “acho que” e o “ouvi dizer que”.

É o caso do senhor reitor, que anda agora numa cruzada em defesa da privatização do ensino e da gestão escolar. Talvez esteja a preparar alguma candidatura, dando uso ao título que ostenta, ou rentabilizando algum curso de verão em gestão escolar.

Este novo especialista afirma, num post publicado hoje, que os portugueses escolhem, cada vez mais, as escolas privadas para educarem os filhos. O número de alunos nas escolas privadas aumenta ao mesmo tempo que diminui a taxa de natalidade e o número de alunos que frequentam as escolas públicas.

Deve ser um daqueles casos de alguém que tem informação privilegiada, a que mais ninguém tem acesso. Ou então é porque ele acha que é isso que se passa.

Mas não é o que se constata, quando se consultam os dados disponíveis no GEPE, que é o organismo responsável pela produção das estatísticas na educação. Goste-se ou não.

Ao contrário do que diz o reitor, o que se verifica é que previsivelmente terá aumentado o número de alunos matriculados em 2006-07, relativamente a 2005-06, tanto no ensino público como no privado. E o aumento no ensino público foi maior do que no privado, com excepção do ensino pré-escolar, onde a oferta pública é manifestamente insuficiente.

No caso do biénio 2003-05, sobre o qual os dados já são definitivos, o que se verifica é que houve perda de alunos em todos os níveis de ensino, tanto no público como no privado. A excepção é, mais uma vez, o ensino pré-escolar, em que houve aumento de alunos em ambos os sub-sistemas.

O que isto demonstra é que, ao contrário do “achamento” do reitor, o privado não está a “capitalizar” qualquer perda de alunos do público. Não quero dizer com isto que o senhor esteja a mentir, para melhor vender o seu produto. É um caso, digamos, de “wishful thinking” e nada mais.

Sobre o resto do argumentário que o sujeito produz, o fundamento é exactamente o mesmo… toca de ouvido.

Para quem queira conhecer os pormenores, a consulta aos dados do GEPE pode ser feita aqui, mas também pode consultar o resumo que coloquei no scribd