Etiquetas
Da lição do Professor Roberto Carneiro, a que assisti ontem, retive uma ideia que, sendo simples, é extremamente poderosa:
O Bom Professor é aquele que te leva a lugares onde nunca foste, mas o Excelente Professor é o que muda o lugar onde estás.
O incrível nesta ideia é que o seu poder e simplicidade se baseiam num princípio de dádiva, de entrega, de gratuitidade e não numa relação mercantil de compra e venda, ou até de troca de algum bem. Porque assenta no princípio de criação de riqueza social, que se contrói com a introdução de um terceiro beneficiado da dádiva e não numa relação biunívoca, em que o dador de hoje será quem recebe amanhã, como paga pelo serviço prestado.
Essa ideia de dádiva (independentemente de haver sempre lugar ao pagamento pelo serviço prestado) é algo que é intrínseco às profissões que prestam serviços sociais, como são as ligadas à saúde e à educação. O paciente a quem o médico salva a vida não poderá nunca “pagar-lhe” essa dádiva, mas por estar vivo poderá eventualmente tornar-se “a salvação” de uma outra pessoa. Do mesmo modo nenhum professor conseguirá devolver aos seus mestres tudo o que estes lhe ensinaram, a menos que seja capaz de tornar-se ele próprio um mestre para os seus alunos.
Estes são alguns dos aspectos intangíveis da actividade docente, que nenhum instrumento, parâmetro ou descritor de avaliação conseguirá “captar”. E no entanto são os que fazem a diferença entre o professor que se limita a debitar o programa, o que nos leva a lugares onde nunca estivemos e os que mudam os lugares onde estamos.
JMA said:
Excelente registo. Poderosa observação. Abç
maria said:
Parabéns FSantos, gostei muito de ler!
Fernanda Carvalhal said:
Excelente.
Poderei colocar no meu blogue, com indicação do autor, evidentemente?
Parabéns
fjsantos said:
Obrigado Fernanda,
Claro que pode usar como entender.
Jad said:
Boa tarde. Cheguei ao (re)flexões através do Terrear e, tendo-me sido completamente impossível estar na UCP, esta leitura do “bom professor e do “excelente” contribui para o alargamento do seu sentido. Creio, contudo, valer a pena associar um ou outro aspecto que me parecem importantes sobre este assunto.
Desde há muito (talvez desde que o marquês expulsou os jesuitas) que a actividade educativa se tem confrontado com dois modelos,entendidos como antagónicos:
1. o professor missionário pobre, voluntarioso, dedicado, não reivindicador, mobilizador dos meios (poucos) à sua disposição para levar a bom porto a sua missão: ensinar, acima de tudo ensinar. Num mundo analfabeto a escola era um processo de libertação e dignificação e o “missionário” assumia- como um dever ético, portanto, como um deveer vital;
2. o professor proletário, reivindicativo, lutador em igualdade de circunstâncias de todos os proletários, ou com outro termo mas com idêntico significado, de todos os trabalhadores e, de forma mais especializada, de todos os trabalhadores “funcionários públicos”. Ganhou-se poder reivindicativo, melhoraram-se as condições de vida e de trabalho, importantes, claro, mas incapazes de manter o sentido de dádiva, incapazes de dar sem receber. Daí que o discurso se tenha centrado nos direitos e não nos deveres. Consequentemente esvaziámos o sentido do dever ético de missão educativa (sentimento reaccionário, lembram-se?!…) e ficámos com o resultado das contingências do poder negocial.
Felizmente, como professores (não como proletários, nem como funcionários públicos) fomo-nos dando conta que os pais dos nossos alunos tinham sido nossos alunos também. E redescobrimos que somos professores, acima de tudo somos profissinais da educação e, consequentemente, ajudamos os alunos a crescer. Essa é anossa missão, a nossa razão de ser profissional. E essa é a nossa dádiva, a nossa disponibilidade.
Peço desculpa pelo atrevimento.
Parabéns pela sua análise
Jad