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Tag Archives: profissionalidade docente

Da avaliação de professores

26 Sábado Mar 2011

Posted by fjsantos in acção pública, accountability, administração educacional

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ADD, profissionalidade docente

Embora altamente desprestigiada por muitos professores portugueses, nomeadamente por quem tem mais cobertura mediática, a investigação sobre a escola vem produzindo material qualitativa e quantitativamente relevante sobre a avaliação docente.

Na sua sanha “anti-eduquesa” ignoram que as Ciências da Educação são muito mais do que as didácticas ou as pedagogias, por muito que as adjectivem de “românticas”.

Agora, que finalmente o PSD se juntou aos restantes partidos para repor algum equilíbrio no quotidiano escolar, é tempo de os professores estarem atentos ao debate público em torno de um novo modelo de avaliação. Para que a nossa intervenção ganhe força, e possa ter acolhimento, convém que não se baseie em meras opiniões, no ouvir dizer que, ou nas modas do momento.

Falando agora dos actores a quem atribuir competências estarei contra a ideia peregrina de entregar a avaliação de professores a um qualquer outsorcing, tenha ele uma dimensão mais pública (IGE) ou mais privada (empresa[s] externas).

Num post anterior fiz a distinção entre a avaliação formativa e a classificação profissional, distinguindo também os actores a quem deve ser atribuída a responsabilidade por cada uma das coisas. Mas não me passa pela cabeça que estes actores não façam parte integrante do sistema e não vivam o quotidiano escolar.

Relativamente à classificação profissional, por a considerar intimamente ligada à dimensão organizacional do trabalho do professor, defendo que deve ser da competência da hierarquia – direcção de topo e direcção intermédia. O que implica, desde logo, uma profunda revisão do modelo de administração e gestão da escola pública, regressando às bases democráticas da eleição entre pares.

Relativamente à avaliação formativa, havendo necessidade de conhecer em profundidade a interacção professor-aluno, só pode ser realizada por alguém que também seja professor, tenha formação na área de avaliação e supervisão e conheça o contexto em que se realiza essa interacção. Uma vez que se trata de um trabalho que exige grande rigor e muitas horas de dedicação é difícil ser executado por alguém em regime de acumulação com a sua própria actividade lectiva. No entanto é fundamental que não haja uma quebra total entre o avaliador e as exigências do trabalho quotidiano com alunos. Para alcançar esse desiderato existem várias soluções, entre as quais deixo duas:

  • O avaliador ter uma turma distribuída, sendo o restante horário atribuído às funções de avaliação e supervisão;
  • O avaliador exercer funções em regime de exclusividade durante um máximo de 2/3 anos, tendo obrigatoriamente que regressar à sala de aula por um mínimo de um ano sem funções avaliativas.

 

Um problema evitável

06 Segunda-feira Dez 2010

Posted by fjsantos in administração educacional, avaliação de desempenho, gestão escolar

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profissionalidade docente, regulação da educação

Depois de um ano de aparente acalmia no trabalho das escolas, a ADD promete voltar a transformar-se no vulcão tumultuoso que destrói as relações entre professores e prejudica o ensino, com inevitáveis repercussões nas aprendizagens dos alunos.

Trata-se de um processo que continuará a manifestar-se ciclicamente, enquanto o modelo de avaliação dos professores em vigor não for integralmente substituído por outro que contenha uma diferente racionalidade, utilize critérios justos e adequados e seja aplicado por um corpo profissional preparado, credenciado e reconhecido por todos.

Este modelo padece de um conjunto de males que estão há muito tempo identificados, mas que, teimosamente, são mantidos em vigor pela administração, entre os quais:

  • Os avaliadores não efectuam a observação e a graduação dos avaliados com base num treino comum, o que dá consistência às acusações de preconceitos e de falta de validade da avaliação;
  • O número e a duração das observações de aulas é insuficiente para fazer qualquer generalização sobre a qualidade do trabalho dos avaliados;
  • O foco na performance do professor, considerado individualmente, determina uma avaliação descontextualizada do efeito da escola.

Os principais objectivos de um sistema de avaliação de professores devem incluir o licenciamento(*), a efectivação e o desenvolvimento profissional, tendo em vista a melhoria do desempenho da escola. (*) O licenciamento corresponde ao tempo de estágio e indução profissional, sob tutela de um professor mais experiente e com formação adequada.

O carácter dual perseguido pelo modelo da ADD que temos é inalcançável, porque a necessidade de uma componente formativa na avaliação é incompatível com a valorização excessiva da componente sumativa que tem consequências directas na carreira, ao colocar em competição profissionais que precisam de cooperar para obterem melhores resultados.

Para alcançar esses dois objectivos torna-se necessário separar as duas componentes da avaliação, entregar a sua aplicação a corpos profissionais distintos e estabelecer uma ligação entre as duas que seja clara, transparente e justa.

A avaliação formativa, que necessita de observação da actividade lectiva e de uma reflexão sobre essa prática, tem que ficar a cargo de um corpo de professores cuja experiência profissional não seja questionável e que, cumulativamente, deve ter formação adequada em supervisão e avaliação de professores. Deve ter um carácter qualitativo, destinar-se a promover o desenvolvimento pessoal e profissional e a corrigir deficiências detectadas na formação inicial e/ou contínua. A observação de aulas deve ser comum e recíproca entre avaliados e avaliador. O trabalho de avaliação não deve implicar a redução total da componente lectiva do avaliador, na medida em que este precisa de manter uma ligação efectiva à prática e é importante que os avaliados possam também observar as aulas de alguém mais experiente e treinado.

A avaliação sumativa deve ficar a cargo da administração/gestão da escola, contemplando os objectivos organizacionais e tendo em conta a informação qualitativa resultante da avaliação formativa, nomeadamente no que diz respeito aos aspectos relacionados com a formação contínua e actualização profissional.

Tendo em atenção que a gestão das escolas/agrupamentos já está profissionalizada e, mesmo que venha a ser possível recuperar formas de gestão com alguma democraticidade, a tendência continuará a ser de crescente profissionalização, os directores deverão assumir a responsabilidade efectiva pela gestão do pessoal que dirigem, o que inclui a responsabilização pelas consequências dos seus actos administrativos na progressão da carreira dos professores que dirigem. Também por isso o actual modelo de ADD é iníquo, na medida em que os desresponsabiliza, empurrando para os avaliadores/relatores a responsabilidade pela atribuição de uma nota que tem consequências graves na vida dos avaliados.

Resposta a um comentário interessante

16 Sábado Out 2010

Posted by fjsantos in educação, escola pública

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profissionalidade docente, regulação da educação

Uma leitora do blogue levantou-me algumas questões num comentário.

As perguntas são as seguintes:

  1. Não acha que o currículo dos alunos é demasiado sobrecarregado? E demasiado uniforme?
  2. Estando tantas horas em aulas, como podem ter tempo para o trabalho individual, autónomo,para actividades escolares ou não escolares,que lhes interessem e possam escolher ?
  3. Haverá ou não disciplinas nobres? Ou essenciais para a formação do indivíduo? Ou anteriores a outras? Ou mais difíceis, apesar de supostamente essenciais?
  4. A escola deve ser a tempo inteiro para todos, mesmo para os que queiram e possam ir para casa depois de uma manhã de aulas? Eu até admito,veja lá, que as escolas venham a ter dormitórios,pois há pais que trabalham por turnos,de dia ou de noite…mas não me parece que a escola tenha de ser igual para todos durante 24 horas por dia…

Embora não tenha uma resposta definitiva para estas questões, a sua pertinência leva-me a tecer algumas considerações:

  • 1. Acho que a “extensão” do currículo se deve a uma visão compartimentada e especializada dos saberes disciplinares. Não me parece que haja homogeneização curricular, antes pelo contrário, a disciplinarização dos saberes, ao impedir uma visão holística do mundo, acaba por promover a pulverização de saberes sem que se perceba qualquer interacção entre eles.
  • 2. O número de horas de aulas diárias é excessivo exactamente em função da visão compartimentada e segmentar dos saberes. E isso é fruto da luta política que todos os grupos disciplinares travam em busca de um recurso escasso – o tempo. Se há algum aplauso pelo fim da área de projecto é porque ela não constitui, em si mesma, uma disciplina. Pelo contrário, poderia ser exactamente esse espaço e esse tempo em que, através da síntese entre diferentes saberes, o trabalho individual e autónomo do aluno o conduzisse à visão holística do mundo a que me referi no ponto anterior. Só que isso implicaria o fim da “nobreza”, da “essencialidade” ou da “anterioridade” de algumas disciplinas em relação a outras, o que significa que
  • 3. discordo em absoluto com a categorização das disciplinas que a comentadora Maria Fernanda apresenta. De resto, sobre o assunto, socorro-me de um texto de Mário Sérgio Cortella – A ESCOLA E O CONHECIMENTO, onde se pode ler na página 2:

«Era menos instável viver na Idade Média, quando tudo estava em “ordem”: a Terra no centro do Universo, o Homem no centro da Terra, a Alma no centro do Homem e Deus no centro da Alma. Foram os 500 anos mais recentes que nos “descentralizaram”, com Copérnico, Galileu, Darwin, Freud e outros. Afinal o que é, para nós, a vida, senão o intervalo entre nascer e morrer ? Essa constatação nos torna únicos: o homem é o único animal que sabe que vai morrer e, por isso, não é de estranhar a sensação de angústia de muitos. Albert Camus já explicava que o homem é a única criatura que se recusa a ser o que é. Porque não faz sentido, nós o construímos.»

e mais à frente, na página 3

«Entretanto, valores, conhecimentos e conceitos (e pré-conceitos) devem mudar porque ser humano é ser capaz de ser diferente. O significado dessas referências não é do mesmo modo para todos, sempre, pois é moldado pela cultura, pela sociedade e pela história dessa cultura, ou seja, todo símbolo (conhecimentos e valores) é relativo e não pode ser examinado por si só. Embora a individualidade gere um ponto de vista particular sobre isso tudo, a construção é coletiva, o que implica em uma vida política onde se negocia, produz e conquista significado. Por isso a produção dos valores não é neutra, dependente do poder de quem possui. A posição de predominância social significa, então, ter seus valores e conhecimentos difundidos e aceitos pela maioria como se fossem próprios ou universais, seja por imposição ou convencimento. O canal de conservação e inovação são as instituições sociais, os responsáveis pelos processos educativos da longa infância humana. A educação assim, além de ser basal, divide-se em vivencial/espontânea (vivendo e aprendendo) e intencional/propositada (deliberada, em locais determinados com instrumentos específicos). Por isso, os processos pedagógicos não são neutros, envolvidos que estão na conservação ou na inovação do grupo. Ver além do próprio grupo, história, visão, conceito, significa uma visão de alteridade que permite identificar no outro (e em nós mesmos) o caráter múltiplo da Humanidade. É superar a obsessão evolucionista de que o passado é sinônimo de atraso, a verdade uma conquista inevitável e a ciência a redenção da humanidade…. Não há um produto acabado, mas por construir.»

  • 4. Discordo também do conceito de “escola a tempo inteiro” porque isso significaria a escolarização de toda a aprendizagem, afastando a responsabilidade colectiva da família e da comunidade quanto ao desenvolvimento e aprendizagens das crianças e jovens. O que defendo é uma escola que funcione num único turno, em que haja espaço e tempo para além das disciplinas, dos conteúdos programáticos e do utilitarismo de um conhecimento que é sempre contextualizado e dependente das relações de poder existentes na sociedade.

Em conclusão, penso que a escola precisa de ensinar a ver a árvore, mas não pode deixar de ensinar a perceber a floresta, sob pena de reduzir o aluno a um futuro autómato ao serviço de algo que nunca conseguirá entender, porque se limita a olhar e ver uma colecção de árvores, mais ou menos diferentes de si mesmo.

DIA DO PROFESSOR – 5 de OUTUBRO

05 Terça-feira Out 2010

Posted by fjsantos in Não classificado

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5 de Outubro, profissionalidade docente

Sessão evocativa do

Dia Mundial dos Professores

E não se pode reformá-los antes da idade?

06 Terça-feira Out 2009

Posted by fjsantos in educação, equívocos

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profissionalidade docente

No post anterior procurei dar uma breve notícia do que foi a sessão comemorativa do Dia do Professor, que foi organizada pela FENPROF (e não por nenhum movimento inorgânico de professores, ou por editores de blogues sobre a educação).

Nessa sessão foi possível assistir a duas intervenções de grande qualidade. Uma do reitor da UL, que procurou fazer a análise de um novo tempo a que chamou “O Tempo dos Professores”, a outra do secretário geral da FENPROF, que se debruçou sobre a agenda sindical e as questões de política educativa que mais têm a ver com a agenda reivindicativa dos professores.

Evidentemente que não se pode esperar uma aceitação unânime e acrítica do que foi dito, tanto por António Nóvoa, como por Mário Nogueira. Cada um fez a sua intervenção olhando para a profissão docente e para os tempos que nos esperam, armados com as suas próprias lentes. Isto permite que outras pessoas tenham diferentes entendimentos e expressem o seu desacordo. No entanto é de esperar que a crítica tenha um mínimo de seriedade e de fundamento.

Infelizmente não é nada disso que se constata ao ler o que escrevem (e parece que pensam) algumas pessoas que trabalham nas escolas portuguesas exercendo a função docente.

Passando pela caixa de comentários do Umbigo e do ProfAvaliação é possível constatar a forma pouco séria como se critica um discurso que não se ouviu, não se leu e de que (nalguns casos) se assume que nem sequer se conhece o autor. Esta atitude, de quem afirma ser professor, é de tal forma confrangedora que apenas apetece dizer: e não é possível reformar esta gente mais cedo?

Escrever que alguém  «têm estado no epicentro do romantismo pedagógico e do construtivismo dogmatico que redundou na funesta pedagogia das competências que se espalha como uma mancha de poluição nos documentos oficiais do ME» pode satisfazer a vaidade de quem o faz, mas não contribui em nada para esclarecer os leitores e apenas revela que o crítico é um exímio utilizador da linguagem que critica.

Identificar como «círculos-viciosos, de meias-palavras, de nins» os conceitos de “auto-regulação” e o modelo de avaliação “interpares”, apenas denuncia a iliteracia de quem se atreve a criticar sem ler, sem estudar e sem reflectir sobre o objecto da crítica.

De facto, com professores que têm a ousadia de criticar o que nem sequer conhecem, o futuro da profissão e a defesa da profissionalidade docente ainda vão ter dias muito negros pela frente.

“Para construir o futuro, é preciso investir nos professores. Agora!”

05 Segunda-feira Out 2009

Posted by fjsantos in educação

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dia do professor, profissionalidade docente

DiadoProfessor

Esta foi a ideia central das intervenções do Professor António Nóvoa e de Mário Nogueira, na sessão pública de comemoração do Dia do Professor.

A.Nóvoa

O reitor da Universidade de Lisboa reafirmou, na sua intervenção, um conjunto de ideias que tem vindo a defender sobre a formação de professores, o valor do conhecimento, a cultura profissional, o trabalho em equipa e um compromisso social que favoreça a presença pessoal e pública dos professores.

M.Nogueira

Mário Nogueira, na sua qualidade de secretário geral da FENPROF, teve uma intervenção mais centrada na análise do momento político e sindical, reafirmando a defesa dos aspectos centrais na luta que os professores protagonizaram durante a última legislatura. Congratulando-se com o facto de o próximo governo ter que ser, necessariamente, genuinamente dialogante, MN fez questão de relembrar que a maioria dos deputados eleitos no dia 27 de Setembro assumiu o compromisso de suspender a ADD, de abolir a divisão da carreira e de rever o ECD e as condições de asfixia burocrática a que estão submetidos os professores portugueses.

Foi, sem dúvida, uma sessão que contribuiu para a dignificação da profissão, enquanto objecto central da comemoração do Dia Mundial do Professor.

Formar professores numa escola pública de qualidade

06 Domingo Set 2009

Posted by fjsantos in escola pública

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formação cooperativa, formação inicial, profissionalidade docente

Educar é conseguir que a criança ultrapasse as fronteiras que, tantas vezes, lhe foram
traçadas como destino pelo nascimento, pela família ou pela sociedade. Hoje, a
realidade da escola obriga-nos a ir além da escola. Comunicar com o público, intervir
no espaço público da educação, faz parte do ethos profissional docente.
Educar é conseguir que a criança ultrapasse as fronteiras que, tantas vezes, lhe foram traçadas como destino pelo nascimento, pela família ou pela sociedade. Hoje, a realidade da escola obriga-nos a ir além da escola. Comunicar com o público, intervir no espaço público da educação, faz parte do ethos profissional docente. Nóvoa, A. (2009), Para uma formação de professores construída dentro da profissão, Revista de Educación – Ministerio de Educación, Madrid

Neste ensaio o reitor da Universidade de Lisboa convida-nos a reflectir sobre a formação de professores e sobre as dimensões a que essa formação deve atender, com vista a formar melhores professores para uma escola pública que cumpra de forma mais efectiva as funções que lhe são atribuídas no século XXI.
Para lá de uma formação científica sólida, que permita ao professor o domínio das componentes científicas da(s) disciplina(s) que vai leccionar, Nóvoa sugere que a formação inicial deve ser integrada na escola e devolvida aos professores mais experientes, num modelo que se aproxima do que existe para a formação dos médicos.
Dessa forma  será possível uma formação baseada na prática e no estudo de casos concretos, que tenham como referência o trabalho escolar, permitindo ao mesmo tempo a valorização da reflexão colectiva sob a orientação e aconselhamento dos professores mais experientes.
Uma formação deste tipo, que tem evidentes semelhanças com a formação praticada nas universidades de medicina e nos hospitais universitários, seria indutora de um trabalho reflexivo e de uma prática colaborativa entre os professores, que é essencial ao bom funcionamento da escola pública.

Credibilidade dos professores e intervenção cívica

24 Segunda-feira Ago 2009

Posted by fjsantos in bem público, educação

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credibilidade, intervenção cívica, profissionalidade docente

Na palestra do professor António Nóvoa, a que fiz referência no post anterior, um dos diversos aspectos focados é o da credibilidade da profissão docente.

No texto, que está disponível no scribd, A.Nóvoa aponta várias das causas para o que identifica como “um problema de credibilidade da profissão hoje em dia”: Em primeiro lugar as questões relacionadas com a avaliação e a prestação de contas do trabalho profissional, em segundo a falta de lideranças profissionais e, finalmente, a falta de capacidade de intervenção política.

Relativamente à primeira questão A.Nóvoa alerta-nos para o facto de que “nas sociedades de hoje, seja em que patamar for, não se pode deixar de ter uma dinâmica de abertura das profissões, uma dinâmica de transparência, de rigor, de prestação de contas. E essa dinâmica de avaliação e prestação de contas é, em primeiro lugar, uma dinâmica de prestação de contas para nós mesmos e para os nossos colegas.”

que nas socie-dades de hoje, seja em que patamar for, não se pode deixar de ter uma dinâmica de abertura das profissões, uma dinâmica de transparência, de rigor, de prestação de contas. E essa dinâmica
de avaliação e prestação de contas é, em primeiro lugar, uma dinâmica de prestação de contas para nós mesmos e para os nossos colegas.

É por isso que não é aceitável que não existam mecanismos de controle dos aspectos éticos, assistindo-se a uma incapacidade de auto-regulação da profissão. Numa sociedade democrática, em que o conhecimento e a informação são bens a que todos os cidadãos devem ter acesso, não é possível que os professores “sejam capazes de conviver por anos com colegas em salas ao lado quando sabem que eles são irresponsáveis, medíocres e incompetentes, sem nada fazerem a esse respeito.”

Quanto à segunda questão, A.Nóvoa lamenta que muitas vezes os melhores professores não sejam reconhecidos, nem pelos seus colegas, nem pelas estruturas institucionais, sobretudo porque poderiam e deveriam ter um papel importante na “integração de jovens professores, que tanto precisariam deles, da sua experiência, do bom senso, do seu saber.”

Finalmente, em relação à terceira questão, embora reconheça que existe alguma capacidade de intervenção a nível sindical, A.Nóvoa considera que os professores falam pouco e têm muito pouca visibilidade social, essencialmente porque não têm capacidade de intervenção nos órgãos de comunicação social, onde é possível comunicar com o exterior e não em circuito fechado.

“Fala-se muito de educação, mas em regra geral não são os professores que falam. A nossa voz hoje é muito ausente do debate educativo. E se quisermos criar uma melhor credibilidade profissional, temos que aprender a ter uma voz e uma intervenção pública mais forte, mais crítica, mais decisiva em função da educação. Creio que é essa voz que nos permite em parte ganhar esse espaço público da educação. Ganhar essa dimensão do apoio da sociedade ao trabalho da escola. É preciso ganhar a confiança da sociedade para o nosso trabalho, ganhar maior credibilidade pública. É preciso conquistar a sociedade para o nosso trabalho.

Temos que construir uma nova profissionalidade docente e que esteja também baseada numa forte pessoalidade. Na educação não é possível separar a dimensão da profissionalidade da dimensão de pessoalidade e isso implica em um compromisso pessoal, de valores, do ponto de vista da profissão. É nesse sentido que julgo que nós podemos e devemos caminhar no sentido de celebrar um novo contrato educativo com a sociedade, que passa também pela reformulação da profissão. Pois com certeza, não haverá sociedade do conhecimento sem escolas e sem professores. Não haverá futuro melhor, sem a presença forte dos professores e da nossa profissão.

Podem inventar tecnologias, serviços, programas, máquinas diversas, umas a distância outras menos, mas nada substitui um bom professor. Nada substitui o bom senso, a capacidade de incentivo e de motivação que só os bons professores conseguem despertar. Nada substitui o encontro humano, a importância do diálogo, a vontade de aprender que só os bons professores conseguem promover. É necessário que tenhamos professores reconhecidos e prestigiados; competentes, e que sejam apoiados no seu trabalho, o apoio da aldeia toda. Isto é, o apoio de toda a sociedade. São esses professores que fazem a diferença. É necessário que eles sejam pessoas de corpo inteiro, que sejam profissionais de corpo inteiro, capazes de se mobilizarem, de mobilizarem seus colegas e mobilizarem a sociedade, apesar de todas as dificuldades.”

Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo – Palestra de António Nóvoa ao SINPRO-SP, Outubro de 2006

Que professor? Que escola? Ensinar & Educar!

28 Domingo Set 2008

Posted by fjsantos in educação, escola pública

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profissionalidade docente

Usei umas quantas horas da minha tarde de sábado para reflectir com umas dezenas de pessoas sobre a Escola Pública em defesa da Igualdade e da Democracia.

Tal como em mais algumas iniciativas deste movimento, pareceu-me tratar-se de um espaço de reflexão aberta em que, apesar de haver um conjunto significativo de activistas (ou ex-activistas) políticos e sindicais, existe um espaço genuíno de participação, independente de cores partidárias. E onde cada um dos presentes tem tido (pelo menos nas iniciativas a que assisti) a possibilidade de expressar livremente os seus pontos de vista, por mais heterodoxos que possam ser e parecer.

Um dos tópicos aflorados foi o da necessidade de uma reflexão sobre a profissionalidade docente e sobre o(s) modelo(s) de escola e de professor para que nos convoca o ECD, o modelo de gestão das escolas e o modelo de avaliação de desempenho docente.

Sobre o assunto houve algumas intervenções com as quais me identifico mas, exactamente porque naquele espaço não foi imposto um pensamento único, também houve intervenções que me chocaram. Nomeadamente a de uma professora de Filosofia que acha que os professores, para serem profissionais, só devem ensinar e não têm que educar. Para as pessoas que pensam desta forma (e estavam na sala mais umas quantas), a escola é um local de instrução e o papel do professor esgota-se na transmissão do conhecimento e da ciência, cabendo à família o papel de educar, isto é, transmitir os valores e princípios consensualmente aceites pela sociedade (como se esse “consenso” não fosse uma imposição das classes social e economicamente dominantes).

Por mim prefiro seguir o exemplo que o JMA nos indica, em forma de pequena história, mas com uma beleza singular: Há professores educadores…

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