O Ramiro continua a sua saga contra alguns dos erros da escola pública que temos, atirando contra um inimigo mítico: a aliança sinistro(*)-eduquêsa.
Para o Ramiro, como para muitos professores que não se libertaram do modelo de escola exclusiva em que foram formados, a escola pública deve funcionar hoje da mesma forma que funcionava no passado. Esquecem, ou omitem, que a “escola de sucesso” de que falam tinha em 1960/61 uma taxa de escolarização de 13% no ensino básico e uma taxa de 1,3% no secundário, tendo evoluído para 30% no básico e 9% em 1974/75.
Comparar os custos com a educação entre a realidade de há cinquenta anos e a de hoje, quando sabemos que em 2006/07 a taxa de escolarização atingia já os 99% no ensino básico e os 60% no secundário, é um exercício que não dignifica o debate e a discordância política.
Como também não dignifica o debate insinuar que as políticas educativas, perseguidas pelos sucessivos governos portugueses nas últimas décadas, têm uma génese de esquerda ou, nas palavras do Ramiro são feitas «à “boa” maneira leninista e estalinista».
Na verdade, a fabricação das políticas públicas de educação tem a sua génese nas instâncias de regulação europeias e mundiais, nas quais têm assento especialistas, governantes e funcionários políticos dos diferentes países europeus e da UE, onde não parece que as influências marxistas-leninistas estejam na moda.
Embora a União Europeia não tenha uma política comum para a Educação, nem possa impor políticas educativas aos países membros, a produção de conhecimento em centros de investigação e a sua circulação em conferências, seminários e outras reuniões em que se encontram peritos e governantes acaba por condicionar a agenda e impor modelos de “boas práticas” (benchmarking).
Para os governantes portugueses (convém não esquecer que desde 1976 têm sido membros e “amigos” do PS, PSD e CDS) interessa estar a par “daquilo que funciona”, o que os leva a colaborar com outros governos europeus na reorganização da pesquisa e investigação sobre educação (vidé a Estratégia de Lisboa).
Tendo em atenção a necessidade de respostas imediatas, a tendência tem sido a de privilegiar a investigação sobre a efectividade da escola e as teorias do capital humano.
Este campo da investigação tem-se desenvolvido desde a década de 80, sobretudo depois do relatório “Uma nação em risco”, a partir do qual os Estados Unidos começaram a definir políticas educativas pressionando os resultados escolares, com vista a melhorar o nível escolar dos seus alunos.
Os trabalhos desenvolvidos por diversas redes de investigadores, no âmbito da OCDE e de outras agências europeias, têm-se traduzido em instrumentos de política pública como os testes PISA ou os relatórios Education at a Glance.
Tendo em atenção os actores envolvidos na géneses das políticas educativas portuguesas, afirmar que elas se fazem à esquerda, como fazem os críticos da escola pública, é pouco sério e é fazer política partidária baixa e enganosa.
(*) de esquerda, à esquerda