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Depois do sucedido no dia 7 de Junho é pacífico, para qualquer português medianamente informado, que o PS construído e governado por Pinto de Sousa se encontra em maus lençóis.
Quando se olha para a história do PS da última década pode perceber-se que a frustração da quase maioria absoluta falhada por Guterres, que conduziu ao episódio do queijo limiano, foi a janela de oportunidade que permitiu que uma pessoa, com a esperteza e determinação que se reconhece ao actual secretário geral, tivesse metido o que restava da alma socialista no fundo do baú, aproveitando para meter no bolso a quase totalidade do que se convencionou chamar a ala esquerda do partido.
Foi este o caldo de cultura que permitiu que sob a bandeira do “socialismo democrático”, e da 3ª via já em falência no seu país de origem, Pinto de Sousa tivesse ganho, primeiro o partido e depois o país.
Uma vez chegado ao poder o “novo homem socialista” assumiu em definitivo a pele do líder determinado, por oposição à do homem dialogante e “indeciso” que tinha sido colada a Guterres. Claro que Pinto de Sousa sabia (e sabe) que o português “profundo” é também o português suave, mas que gosta de ter alguém que mande. Basta ler os manuais de história de Portugal e ver quem foram os líderes que deixaram marca e “obra feita”. E qual o seu perfil psicológico, desde o Marquês até Cavaco, passando pelo inevitável tio António de Stª Comba – autoritário, determinado e inflexível.
Dentro deste quadro como olhar o homem que nos faz regressar, quatro anos depois, às Novas Fronteiras? O que se pode esperar que aconteça daqui até Setembro? Como poderão reagir os portugueses ao discurso, que podendo parecer novo na forma, será necessariamente velho e repetitivo no conteúdo?
Tomando como exemplo as políticas educativas, que são o assunto principal deste blogue, parece-me que a primeira coisa a fazer é descodificar o ruído que ainda possa ser feito a partir da 5 de Outubro.
Nesta altura do ano, e com as matérias ainda em agenda, não será fácil esconder toda a equipa do ME. Mesmo que Pinto de Sousa decida colocar a ministra atrás de um biombo (ou mandá-la de férias prolongadas mais cedo), haverá sempre necessidade de tomar algumas decisões relativamente a matérias tão explosivas como a da avaliação/classificação dos professores.
Tomando como boa a ideia de que a educação deixou de ser uma prioridade de campanha para o PS, que sob a batuta de Vitorino tentará produzir um relatório de auto-avaliação pouco menos do que excepcional, a verdade é que a educação continua a ser uma prioridade para o desenvolvimento do país.
Cabe aos professores, e aos partidos que querem propor uma alternativa de políticas e de governo, manter a educação, a escola pública e os seus problemas na agenda mediática e política.
É por isso que importa ir registando, e denunciando, as contradições entre forma e conteúdo no discurso dos responsáveis rosinhas. Como, por exemplo, as seguintes afirmações:
- de Pinto de Sousa dizendo que está muito satisfeito com o trabalho realizado nestes quatro anos, conseguindo não elevar o tom de voz nem apontar o dedo em riste;
- de Pinto de Sousa dizendo que está arrependido de ter “aplicado” uma avaliação demasiado exigente aos professores, quando sabe que de exigente e formativa ela nada teve nem tem;
- de Maria de Lurdes Rodrigues afirmando que pode “retornar” à avaliação complex, ao mesmo tempo que pede a uma comissão científica (que tem um mero poder consultivo) que tome a decisão política sobre qual a versão a aplicar nos próximos dois anos, por um governo que há-de sair das eleições gerais e depois de contados “os votozinhos”;
O que isto indicia é que a máquina eleitoral socialista está perante uma verdadeira quadratura do círculo. Na educação como nas restantes políticas. Por um lado precisa desesperadamente de convencer os votantes fiéis ao ideário de um PS que já não existe (que são cada vez em menor número) de que não devem mudar de voto. Por outro precisa de convencer os nostálgicos do autoritarismo e do homem providencial de que nada de essencial vai mudar, depois de retirada a cosmética indispensável para ficar bem nas fotografias da campanha.
Os exemplos de alguns dos representates desta última categoria passeiam-se pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais.
Ainda ontem João Marcelino, no DN, dava o mote: «Se este Governo deixar cair algumas das suas bandeiras, com a das escolas à cabeça (e ver-se-á o que sai do programa de Vitorino e da campanha que se seguirá ao texto), muito mais depressa perderá a confiança de quem nele ainda confia do que retomará o apoio de quem dele já se afastou.»
E hoje, em editorial do mesmo jornal, Alberto Gonçalves acrescentava: «A José Sócrates exige-se que mantenha a determinação e que seja coerente com aquilo que tem dito, em vez de ceder a interesses eleitoralistas como parece estar a acontecer nos últimos dias. Será congelar em três meses reformas e projectos pelos quais foram pedidos sacrifícios nos últimos quatro anos. Adiar decisões que são irreversíveis só contribuem para adiar o País.»