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Tag Archives: associativismo docente

Lições sobre a construção de utopias

03 Domingo Fev 2013

Posted by fjsantos in acção pública

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associativismo docente, conhecimento

Um pequeno núcleo dos Professores Unidos de Lisboa e concelhos próximos deslocou-se, neste sábado, à zona sindical de Santarém-Oeste, pertencente à Direção Regional de Santarém do SPGL.

O grande promotor e dinamizador desta jornada cultural, recreativa, gastronómica e de trabalho sindical foi o professor-sindicalista-autarca Augusto Figueiredo que, apesar das inúmeras tarefas em que se desdobra o seu dia-a-dia, conseguiu reservar um dia para nos explicar como é que se transforma em possível aquilo que à partida damos como impossível e completamente perdido.

O dia começou com uma visita a um dos muitos exemplos de como o capital esbanja o património natural e os recursos do país, como é o caso de um empreendimento turístico-urbanístico-desportivo – o Clube de Golfe Golden Eagle.

Portariagoldeneagle-entrada

Trata-se de um projeto que nasceu com a perspetiva de lucros prometida pela implantação do aeroporto da Ota e do TGV Lisboa-Porto, mas do qual apenas ficou um campo de golfe de 18 buracos (onde se disputou o Portugal Ladies Open de 2009).

Golden Eagle Coursegoldeneagle-campo

Do sonho de lucros fantásticos para o setor financeiro e imobiliário ficaram as maquetes que ainda estão disponíveis no stand de vendas do empreendimento.

Sonho

goldeneagle-desenho

Realidade

goldeneagle-imobiliário

Mas como há outros sonhos e utopias que, pela força da sua razão, acabam por se impor e tornar-se realidade, o Presidente da Junta da Asseiceira-Rio Maior fez questão de nos lembrar que a luta da população da sua freguesia foi capaz de impor a mudança de trajeto da Estrada Nacional n.º 1 e obrigou os decisores políticos a fazerem o que o povo lhes exigiu. Da mesma maneira que o esforço, a determinação e o trabalho de um punhado de sonhadores foi capaz de construir no alto de uma serra, pobre e esquecida pelo poder central, uma cooperativa pujante e que é um exemplo de economia e desenvolvimento social, não só no país como no estrangeiro.

A paragem no cruzamento em que a antiga EN1 passou a IC e onde no próximo 25 de Abril será inaugurado um monumento à resistência e determinação das populações, em defesa da vida e contra os atropelamentos mortais que ali ocorriam, a visita à Cooperativa Terra Chã, o almoço e a sessão de trabalho ali realizados, o passeio pela serra com visita às dolinas na estrada entre Mosteiros e Porto de Mós, constituíram momentos marcantes de um dia cheio de aprendizagens significativas, quer do ponto de vista cultural, quer político, que ficará sempre na nossa memória.

O dia terminou com uma breve visita ao Centro de Alto Rendimento de Rio Maior e com uma paragem frente à Escola Superior de Desporto de Rio Maior, que constitui mais um exemplo de esbanjamento de dinheiros públicos por motivos exclusivamente partidários.

A história conta-se em meia-dúzia de pinceladas: umas instalações e um projeto exemplares, uma escola que em três anos consecutivos esgota as vagas de acesso na primeira candidatura ao ensino superior, a inveja e o preconceito das gentes instaladas no politécnico da capital de distrito e um ministério que asfixia financeiramente a escola, traduzem-se na degradação rápida e galopante do edificado, obrigando a autarquia a assumir as responsabilidades financeiras do poder central e a recorrer à justiça para tomar posse administrativa das instalações, na tentativa de evitar a destruição de uma iniciativa de grande interesse nacional.

No final a certeza de que o Possível é apenas o Futuro do Impossível e só depende da determinação, da persistência e do trabalho que estivermos decididos a realizar para o concretizar.

Coreógrafos e coreografias

28 Sábado Jul 2012

Posted by fjsantos in a mim não me enganas tu, ambiguidade

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associativismo docente, sindicalismo docente

O conceito de “coreografia(s)” aplicado aos processos de tomada de decisão política, que decorrem após negociações entre governantes e sindicatos, entrou no léxico da blogosfera docente pela pena do Guinote, tendo sido amplamente reproduzida por outros crentes no poder da rede, quer sejam comentadores encartados, quer sejam também autores dos seus próprios blogues de professores.

A ideia, de fácil digestão para o senso comum, é de que todo o processo político está controlado pelo institucionalismo vigente, tendo havido uma usurpação da representação dos interesses profissionais por parte de entidades historicamente situadas – os sindicatos – e que, alegadamente, estariam agora sitiadas pelos irredutíveis professores independentes.

É em torno desta narrativa que se trava uma espécie de guerra virtual, em que os “novos heróis” da classe docente conseguem sempre encontrar ganhos imorais para “os sindicatos” branqueando, em simultâneo, os ataques brutais que os governantes que tanto incensaram fazem a toda a classe docente.

Esta guerrilha sem sentido, que se prolonga há mais de quatro anos e já produziu mais uma “estrela da pantalha”, tem sido magistralmente dirigida por um dos “passageiros clandestinos” mais conhecido e mais ganhador na luta dos professores.

Esta “persona”, e os amigos que o rodeiam mais de perto, assenta o argumento na acusação (infundada) de que a anomia, o desinteresse e a falta de mobilização para a contestação às políticas cráticas se deve ao facto de “os sindicatos” terem desbaratado o potencial agregador das “marchas das avenidas” ocorridas em 2008.

Esquecem-se, o coreógrafo-mor e seus adjuntos, que já em 1965 Mancur Olson explicou de forma detalhada porque é que a existência de interesses comuns conduz à inação coletiva, em vez de potenciar essa mesma ação. É que, partindo da hipótese do ator racional, Olson mostrou que o fenómeno do bilhete gratuito ou do passageiro clandestino se aplica a cada tentativa de ação coletiva: cada indivíduo descarrega sobre os outros os custos da ação coletiva. Para minimizar este fenómeno a melhor solução seria, sem dúvida, estabelecer incitações – positivas e negativas – que sejam compreendidas como custos impostos aos atores em caso de não-ação coletiva (p. ex.: aplicar os ganhos obtidos em negociações dos sindicatos com o ministério apenas aos sócios; não estender a todos as decisões dos tribunais obtidas em processos contra o Estado, interpostas pelos sindicatos em defesa dos seus sócios).

Talvez se houvesse essa diferenciação o discurso coreográfico utilizado por alguns bloguers ficasse reduzido ao que efetivamente vale. No entanto as almas inquietas podem descansar , porque os valores da solidariedade e responsabilidade cívica sobrepõem-se a uma certa vontade de praticar a justiça de talião, quando se leem os dislates que estes coreógrafos continuam a escrevinhar na rede.

Educação Física, Desporto Escolar & AEC’s – o debate possível

07 Terça-feira Jun 2011

Posted by fjsantos in Desporto Escolar, Educação Física

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acção pública, associativismo docente

Tal como tinha sido anunciado aqui, no passado sábado dia 4, um pequeno grupo de professores de Educação Física juntou-se na Voz do Operário, para debater algumas questões relacionadas com o exercício da profissão na escola pública que existe.

Por razões que são do domínio pessoal de quem disse que estaria presente e depois acabou por não comparecer, juntámo-nos oito professores e acabámos por passar um sábado gratificante pela conversa, pela troca de ideias e pontos de vista nem todos coincidentes, pelo belo almoço e, sobretudo, porque ficámos com vontade de repetir a experiência, aproveitando para corrigir o que considerámos que pode ter condicionado uma menor participação.

Sobre a longa conversa, que decorreu de um modo completamente informal, o que ficou de mais importante foi o consenso sobre a importância fulcral das actividades de Expressão e Educação Física e Motora no desenvolvimento da gramática motora das crianças.

A partir desta constatação ficou claro para os presentes que é necessário fazer pressão junto das associações da classe – SPEF e CNAPEF -, bem como junto dos sindicatos de que cada professor é membro, no sentido de exigir que o tempo de prática de actividades físicas sob orientação e supervisão de profissionais habilitados seja igual desde o 1º ciclo até ao final do ensino secundário. Um dos aspectos que sobressaiu como negativo foi o facto de o tempo curricular previsto no 1º ciclo ser metade do que está previsto no ensino secundário e ser também inferior ao previsto no 2º e 3º ciclo.

Outro dos aspectos considerados como extremamente negativos para o desenvolvimento da Educação Física Escolar prende-se com a aplicação prática do conceito de escola a tempo inteiro, conjugado com as condições em que se desenrolam as AEC’s, em particular com o facto de estas actividades estarem a servir para substituir a componente curricular de Expressão e Educação Físico-Motora que está consagrada nos programas do 1º ciclo.

De resto foi referido por alguns dos participantes neste encontro que este ano, quando começaram a chegar ao 5º ano os primeiros alunos que tiveram AEC’s com a componente de actividades físicas e desportivas desde o 1º ano, se nota um grave abaixamento das competências motoras das crianças e, ainda mais grave, uma tendência alarmante para o desrespeito pela norma e pelas regras de funcionamento da disciplina de Educação Física, sendo frequentes casos de alunos que se recusam a obedecer às ordens do professor porque querem brincar e transformar o ginásio num espaço de recreio e o tempo de aula num tempo de jogos com os amigos.

Relativamente ao Desporto Escolar constatou-se que o despacho que regula esta actividade foi concebido com a intenção clara de induzir uma diminuição do número de horas a atribuir e o número de horários necessários, o que se traduzirá numa redução de professores contratados. De acordo com um dos colegas que nos últimos anos tem tido responsabilidades no sector ao nível de uma DRE haverá no mínimo uma redução de 100 horários. Esta contas são feitas apenas pela aplicação da redução de uma hora para cada grupo equipa com quadro competitivo. No entanto é possível que a diminuição venha a ser muito maior, uma vez que não é líquido que todos os professores aceitem essa redução, o que poderá fazer diminuir muito o número de grupos equipa inscritos.

Acresce que o facto de ter sido dado um prazo muito curto para que as escolas apresentassem os seus projectos para o ano de 2011/12 pode levar a que nem todas o tenham feito a tempo, correndo o risco de virem a ficar sem crédito horário a partir de Setembro.

Falou-se também das questões ligadas com os cursos técnico-profissionais, tendo ficado clara a ideia de que se verifica a tendência de retirar às escolas as condições para a manutenção desta via, procurando-se um maior protagonismo do Instituto de Emprego e Formação Profissional no sentido de privilegiar iniciativas de carácter privado.

No final do dia o sentimento que sobressaiu foi de que se tratou de uma conversa útil para todos os participantes e acordámos agendar novo encontro para Setembro/Outubro, procurando a partir desta iniciativa promover uma espécie de “Tertúlia da Educação Física e Desportiva” em que aos poucos se possam encontrar mais amigos e colegas preocupados com a disciplina, mas sobretudo com a educação motora e desportiva da juventude.

Três anos depois

08 Terça-feira Mar 2011

Posted by fjsantos in educação, equívocos, escola pública

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associativismo docente, Combate político, festa e luta = manifestação

Faz hoje três anos que se realizou a Marcha da Indignação.

Desse dia guardo dois sentimentos contraditórios. O primeiro, talvez o mais forte, a enorme sensação de alegria e satisfação por participar numa manifestação que ultrapassou tudo o que era expectável, sobretudo quando parecia que nada havia a fazer. O segundo, um pouco mais amargo, que foi a clara percepção de que muitos daqueles rostos que ali encontrei (e que também desceram a Avenida da Liberdade com entusiasmo) não estavam ali exactamente pelos mesmos motivos que eu.

Daí que sempre tenha tido consciência (e sempre tenha afirmado) que os 100.000 só lá estiveram por “ser contra Maria de Lurdes Rodrigues”, porque no dia em que fosse indispensável ser a favor de qualquer coisa, aquela aparente unidade iria esfumar-se como veio a acontecer.

É certo que ainda foi possível acrescentar mais uns milhares, a todo aquele mar de gente, quando se realizou a manifestação de 8 de Novembro, mas a verdade é que bastou que o ministério anunciasse o fim da obrigatoriedade das aulas assistidas e foi um ver se te avias de professores a entregarem Objectivos Individuais. Apesar de estes nunca terem sido obrigatórios.

Infelizmente, nesse altura, muitos dos 100.000 que tinham descido duas vezes a avenida acabaram por dar razão a um secretário de estado, que tinha tido o despudor de afirmar que «os professores são como os ratos, se se lhes dá uma bolacha querem um copo de leite.» (Auditório da Estalagem do Sado, 16/11/2008)

É tudo isto que mina a alegria que deveria ser a comemoração do 8 de Março como um grande dia na luta dos professores. É um facto que foi um dia de grande importância, mas na verdade esta luta é muito mais do que um momento para viver, recordar e contar aos vindouros. A luta dos professores não começou no dia 8 de Março de 2008 e não acabou a 8 de Novembro. Ela mantém-se e precisa de todos os que se recusam a ser tratados como ratos, mas, pelo contrário, estão dispostos a fazer valer a sua dignidade pessoal e profissional.

É também isso que iremos mostrar no próximo sábado no Campo Pequeno.

Ouvir os professores

22 Quarta-feira Abr 2009

Posted by fjsantos in ambiguidade, cidadania

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associativismo docente, sindicalismo docente

O Ramiro Marques, procurando fazer uma síntese das posições que se podem ler na blogosfera docente, afirma que se nota uma divergência entre as propostas da plataforma sindical e as dos movimentos “independentes” de professores. É uma constatação inatacável.

Mas depois, fazendo um apelo a que “sindicatos e movimentos” oiçam os professores, comete um erro de análise, segundo a minha opinião.

De facto, parece-me haver uma pequena inexactidão no seu raciocínio quando pergunta se os sindicatos e os movimentos serão capazes de ouvir os professores, porque tanto as pessoas que são sindicalizadas como as que se reclamam dos movimentos são professores. Donde se pode concluir que se há professores que não fazem ouvir a sua voz é porque não a levantam.

  • A participação nas reuniões sindicais é aberta a qualquer professor e não existe nenhum limite à intervenção de não sindicalizados;
  • A participação em reuniões promovidas pelos movimentos também é aberta a quem queira comparecer;
  • A inscrição em qualquer sindicato é livre e o exercício dos direitos reservados aos associados apenas exige o cumprimento das obrigações estatutárias. Só não se inscreve quem não quer;
  • Do mesmo modo, a adesão a qualquer movimento é livre e nem sequer exige o cumprimento de exigências estatutárias (penso que a excepção seja a Apede, que julgo ter estatutos aprovados e publicados em DR);

Dito isto, afirmar que “os sindicatos” não ouvem os professores é revelador de grande injustiça. Não se pode ouvir quem não quer falar.

E quem não quer falar tem tanta legitimidade para reclamar das decisões tomadas, como os abstencionistas têm de exigir que os governos que sejam eleitos, em eleições livres e democráticas, não deviam ser constituídos pelos partidos vencedores.

Se assim for, aplaudirei sem a menor dificuldade e reconhecerei que estava enganado

23 Quinta-feira Out 2008

Posted by fjsantos in cidadania, cooperação

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associativismo docente, entendimento

Há dois dias escrevi neste blogue que estou convencido de que haverá mesmo duas manifestações.

Os pressupostos em que me baseio para sustentar esta convicção estão expressos aqui.

Acabo de ler há minutos um email, a partir do qual encontrei uma declaração da Apede que aponta para a possibilidade de um entendimento e para a união das manifestações.

Até ver escrito em letra de forma que houve de facto resultados positivos dessa reunião, continuo a pensar que haverá uma manifestação no dia 8 e outra no dia 15. Oxalá me engane.

Se estiver de facto enganado, será com todo o prazer que virei reconhecer a minha incapacidade de previsão e dar os parabéns a todos os professores que forem capazes de passar por cima de divergências e ataques pouco dignos, em favor da unidade necessária contra um adversário poderoso e com aliados fortíssimos.

As duas manifs. vistas da 5 de Outubro

18 Sábado Out 2008

Posted by fjsantos in cidadania, cooperação

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associativismo docente, luta política

Desde que foi formada esta equipa ministerial, uma das primeiras preocupações que teve foi amordaçar os sindicatos, procurando impedi-los de defender e representar os professores.

A escolha de Jorge Pedreira, um ex-sindicalista, para liderar a maior parte dos processos negociais entre o ministério e os sindicatos inseriu-se nessa lógica.

Em simultâneo, todo o discurso de MLR e dos secretários de estado se centrava na premissa de que existe um enorme afastamento dos professores em relação aos sindicatos. Foi assim que surgiu o famoso Conselho de Escolas, alegadamente para representar os professores que trabalham nas escolas e que passou a ser parceiro da ministra, na discussão dos diplomas que legalmente deviam ser objecto de negociação com os sindicatos (Gestão Escolar, Avaliação de Desempenho, etc.). Não há, no entanto, notícia de que o ministério se prepare para reconhecer os movimentos autónomos como parceiros de negociação, apesar do interesse mediático que suscitam, sempre que se avizinham tempos difícieis para os inquilinos da 5 de Outubro.

Talvez este interesse mediático seja só coincidência, ou corresponda a um interesse genuinamente jornalístico. Mas, sabendo todos nós como a central de informação do PS é eficaz, talvez fosse avisado reflectir sobre o entusiasmo com que são noticiadas as acções dos movimentos, em alturas críticas e por jornais tão idóneos como o Correio da Manhã, o Diário de Notícias ou o Jornal de Notícias, por contraponto aos longos períodos em que batem a torto e a direito nos professores, a quem os seus comentaristas não se coibem de chamar de madraços para baixo.

E que leituras haverá na 5 de Outubro e que virá o ministro Santos Silva dizer no dia 8 de Novembro ao telejornal, se a manifestação tiver apenas 10 ou 15 mil manifestantes?

Aposto, singelo contra dobrado, em como o discurso não andará longe de: «Fica provado que os 100 mil que se manifestaram em Março estão agora convencidos da bondade das políticas deste governo e não apoiam os sindicatos dominados pelo PCP»

Cada cavadela, sua minhoca

17 Sexta-feira Out 2008

Posted by fjsantos in cidadania, cooperação

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associativismo docente, luta política

Como sou um professor pouco informado e muito desatento em relação às questões profissionais e às problemáticas que envolvem a escola pública, não consigo entender porque é que de repente há duas manifestações de professores e uma é “mais legítima” do que a outra. Vai daí pus-me a procurar as razões para tal distinção.

Procurei, procurei e descobri o seguinte:

  • A Apede e o MUP, a primeira enquanto organização com existência legal, o segundo enquanto detentor de um blogue muito lido entre os professores que frequentam blogues, disponibilizaram-se para oficializar junto do governo civil de Lisboa um pedido de realização de uma manifestação, no dia 15 de Novembro.
  • A Apede não teve a ideia de fazer uma manifestação no dia 15 de Novembro, como está escrito no seu blogue oficial. Quanto ao MUP não me foi possível saber se teve ou não a ideia (mas deve ter sido incompetência minha nos procedimentos de pesquisa da informação).
  • A reunião do dia 15 foi convocada após ampla discussão democrática e participada no seio da classe a de dia 8 não ! 

Aqui chegado comecei a ficar baralhado.

Ao que parece, e após leitura atenta, embora não exaustiva de blogues e foruns de professores ou ligados à educação e à escola, terá havido um amplo debate democrático, uma espécie de consulta ao povo docente, o qual se terá pronunciado maioritariamente pela marcação da manifestação para dia 15 de Novembro.

Sem dúvida que ando desatento porque não dei conta que tenha havido milhares de professores (afinal sempre somos mais de 100 mil, mesmo com as aposentações que não param de ser pedidas) a serem consultados e a dizerem que queriam ir manifestar-se a Lisboa, exactamente no dia 15 e não noutro dia qualquer.

Vai daí continuei à procura e encontrei mais um pedaço do puzzle que me faltava:

  • A reunião de Leiria não precedeu a discussão e a fixação da data. A discussão foi anterior, fixou-se a data nos comentários do umbigo, uma de entre muitas que apareciam.

Pois claro, está resolvido o mistério. A decisão “amplamente debatida” e tomada “de forma eminentemente democrática” teve o seu espaço de discussão nas caixas de comentários de um blogue.

Não um blogue qualquer. Afinal de contas o Umbigo do Guinote tem em média 15.000 hits diários, o que se assemelha a 15% dos famosos 100 mil de Março. E só em dois posts em que se discutiu o que fazer a 15 de Novembro, houve 991 comentários (ups, já baixámos de 15% para 9.91% a participação no amplo e democrático debate).

Bem, se continuar a fazer estas contas ainda encontro mais minhocas, até porque às tantas ainda há algum comentador que comentou duas vezes e descubro que 991 comentários afinal só correspondem a 990 participantes.

E ainda bem que não tenho acesso aos IP’s dos comentários, não fosse descobrir que alguns dos comentadores usaram computadores instalados nalgum prédio da Av. 5 de Outubro e lá se iam mais alguns pontos percentuais.

O melhor é ficar por aqui, porque para o meu frágil entendimento, ter ficado a saber que os comentadores mais ou menos anónimos de um blogue têm mais legitimidade para marcar uma manifestação do que outras organizações, mesmo que estas se sentem à mesa com o governo para decidir da minha vida profissional, é demais para um professor que não está habituado a emoções tão fortes.

Adenda:

No Umbigo, às 18:50 de dia 17 de Outubro a votação entre dia 15, dia 8, ambos, ou nenhum tem o amplíssimo e alargadíssimo número de 1174 votantes, dos quais 665 garantem que só vão dia 15 de Novembro e 195 que vão nos dois dias. Este resultado, como se percebe muito significativo, informa-me que 860 votantes concordam com a manifestação no dia 15. Além de amplamente participada, esta votação é também genuinamente democrática, uma vez que qualquer pessoa pode votar, mesmo que não seja docente e, além disso, pode votar mais do que uma vez desde que o faça com IP’s diferentes.

Quando Vamos?
Dia 8? 18% (209 votes)
Dia 15? 57% (665 votes)
Dia 8 e 15? 17% (195 votes)
Vou ficar em casa a fazer grelhas4% (45 votes)
Vamos Onde? 5% (60 votes)
TOTAL VOTES: 1174
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Mais algumas questões a propósito de legitimidades e legalidades

16 Quinta-feira Out 2008

Posted by fjsantos in cidadania, cooperação

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associativismo docente, luta política

Uma das acusações que é feita à plataforma sindical e em particular à Fenprof, a propósito da marcação da manifestação nacional de professores para o dia 8 de Novembro é a de que a mesma careceria de legitimidade, uma vez que os dirigentes sindicais fizeram a sua marcação sem se reunirem com os professores.

Os fazedores de opinião bloguística acrescentam, para dar maior relevo a essa falta de legitimidade, que a Apede como associação com existência legal apenas deu cumprimento a um mandato votado e aprovado em reunião convocada pela mesma Apede para dia 11/10 nas Caldas da Rainha. É isso mesmo que se pode ler em dezenas de comentários e também em posts assinados (este, este, este, este ou este).

Convém no entanto, a propósito de saber o que é ou não legítimo e o que é ou não legal, se o “mandato” que obrigou um dirigente da Apede a ir ao governo civil em representação de uma associação com existência legal, tem ele mesmo legitimidade e foi ou não ilegal a decisão que obrigou os dirigentes da associação a deslocarem-se a Lisboa.

Sendo a Apede uma associação com existência legal deve ter estutos publicados em DR, após o aval do ministério público (essa publicação em DR é até exigida às associações de estudantes e associações de pais, quanto mais a uma associação que quer representar todos os professores).

Sendo assim, convém saber quem pode participar nas assembleias da Apede e quem tem capacidade de voto nas deliberações dessas assembleias.

A ser verdade que havia na reunião das Caldas da Rainha muitas pessoas que não são associadas na Apede convém saber a que título participaram da reunião. Como importa saber se participaram na discussão da ordem de trabalhos e se votaram as deliberações. E em caso de o terem feito, é fundamental saber se os estatutos da Apede permitem que elementos exteriores à associação tomem parte nas deliberações das suas assembleias (o que seria muito estranho). Isso permitirá aferir da ilegalidade ou não das decisões tomadas.

Já quanto à legitimidade de algumas dezenas (ou centenas) de pessoas marcarem uma manifestação nada a dizer. Excepto se essas dezenas (ou centenas) de pessoas quiserem com a sua decisão obrigar outras pessoas a participar nessa manifestação.

A legislação portuguesa permite que três pessoas comuniquem à autoridade administrativa a sua intenção de se manifestarem em local público. Não exige que essas pessoas produzam prova de serem uma associação legal. Assim sendo é indiferente quem foram os três professores que entraram pelo governo civil na passada terça feira.

O que importa saber é se esses três professores estão imbuídos de uma especial qualidade, que torna mais legitima a sua intenção de se manifestar do que a da plataforma sindical, que representa uns milhares de professores que são sindicalizados e que tem assento negocial em nome de todos os professores (incluindo esses três, mesmo que eles não queiram).

Quando se levantam lebres a propósito de legitimidades, convém saber se aqueles que defendemos não estão fora da lei.

Procurando desmontar ideias feitas e pouco rigorosas, para não lhes chamar desonestas

16 Quinta-feira Out 2008

Posted by fjsantos in cidadania, cooperação

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associativismo docente, luta política

A espécie de birra em que ameaça transformar-se a questão da marcação de uma manifestação nacional de professores, no mês de Novembro, tem a envolvê-la um conjunto de ideias que não resitem a um questionamento um pouco mais rigoroso, a saber:

  1. Os sindicatos não fazem nada em defesa dos professores e não os representam;
  2. Os professores impuseram uma data para a manifestação e dois movimentos independentes foram mandatados para desencadear os mecanismos legais para a respectiva autorização;
  3. Os sindicatos (plataforma), sem qualquer legitimidade e sem mandato expresso, marcaram uma reunião para a semana anterior apenas por despeito e estão a dividir os professores.

Vejamos então, ponto por ponto, porque é que esta argumentação é pouco rigorosa e assenta em pressupostos falsos.

 

  • Desde o segundo período do ano lectivo passado que os sindicatos (plataforma) têm mantido uma voz única, tendo obtido a simplificação do processo avaliativo, a possibilidade da sua renegociação, melhores condições de trabalho em termos de horários (não apenas para os avaliadores mas também para os restantes professores). O despacho com instruções para a elaboração de horários continha ganhos importantes para muitos professores, na maior parte das escolas. Se esses ganhos não foram efectivados, porque os PCE’s e as comissões de horários não cumpriram o despacho, isso não é imputável aos sindicatos, mas aos professores que estão no terreno.
  • Um dos argumentos mais usados, que inclusive aparece estampado no blogue da Apede, é que os movimentos não marcaram a data: Como toda a gente sabe, a ideia da manifestação do dia 15 de Novembro não partiu da APEDE. Ela surgiu por iniciativa de alguns professores isolados e foi fazendo o seu caminho até se tornar quase incontornável.
  • Deixando de lado a questão de saber porque é que a reunião nas Caldas foi marcada para dia 11 de Outubro, três dias antes da reunião entre a plataforma e o ministério, e não para dia 18, apenas quatro dias depois da citada reunião (altura em que todos saberíamos se tinha havido algum resultado e qual) fica a saber-se que um grupo de professores isolados, que não fica claro mas parece nem pertencerem aos movimentos que encabeçam a manifestação, têm a legitimidade necessária e suficiente para decidir quando, onde e sob que bandeiras devem (todos) os professores portugueses manifestar-se .
  • Segundo se pode ler num dos muitos comentários espalhados em blogues (e até em posts assinados por gente geralmente reconhecida como séria e bem (in)formada): «É de facto surpreendente que quem esteja a dividir a luta dos professores sejam os sindicatos. Por que motivo não convocaram a manifestação para dia 15, uma vez que esta já estava a ser falada há tanto tempo? Em que assembleia/reunião foi decidido pelos professores que deveria haver uma manifestação dia 8 de Nov.? Andam a brincar com quem???»
  • Isto é, para algumas pessoas os sindicatos não podiam marcar nenhuma manifestação, nem nenhuma data, sem fazerem uma (ou muitas, não fica claro) reunião (ões) com os professores. Tendo-o feito nessas condições são eles os divisionistas. Já um grupo de professores isolados pode ir a uma reunião que ninguém sabe ao certo quantos professores tinha presentes, e decidir que a manifestação legítima só pode ser dia 15 de Novembro.
  • Alguém nos pode informar quantas pessoas estavam presentes na sala? Alguém pode garantir que na sala apenas estavam professores? É possível saber qual foi a forma de manifestação da vontade dessa assembleia? Houve votação? Qual o seu resultado? O voto foi secreto, ou usaram o método do braço no ar, que se for usado noutros locais e por outras pessoas é de imediato classificado como método stalinista, controleiro e intimidador?

De facto é lamentável e triste o que se está a passar. Sobretudo porque não contribui em nada para derrotar Maria de Lurdes Rodrigues e Pinto de Sousa, nem para acabar com as políticas erradas e destruidoras da escola pública que eles perseguem.

E ainda é mais lamentável porque bastaria um pouco de bom senso e de humildade para atalhar caminho enquanto ainda é tempo.

Afinal faltam três semanas até ao dia 8 de Novembro e as últimas notícias dão conta de uma tentativa de “estender a mão” por parte da plataforma sindical.

«”Há, certamente, legitimidade para organizar manifestações e outras acções, estamos num país democrático. Mas, pensamos também, as acções devem servir para unir, para acrescentar algo, para construir.”

“Em nome da Plataforma e da unidade construída, especialmente nestes momentos difíceis, apelamos à participação de todos os educadores e professores para que se juntem a esta iniciativa no dia 8 de Novembro, sem sectarismos, sem divisões. Os Sindicatos, numa sociedade democrática, são parceiros de negociação fundamentais; sem eles, a unidade não se constrói, não se concretiza. O tempo é de unidade. Não é de facilidades ao ME e ao Governo, que baterá palmas aos que apostam na divisão dos professores”.»

Será que os “movimentos independentes” e algumas eminências pardas e anónimas vão persistir na birra e no suicídio, tentando arrastar consigo todos os outros professores?

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