(Re)Flexões

~ Defendendo a Cidadania

(Re)Flexões

Tag Archives: aprendizagem

Que escola queremos?

23 Domingo Ago 2009

Posted by fjsantos in bem público, educação

≈ 6 comentários

Etiquetas

aluno, aprendizagem, conhecimento, pessoa

Graças às dificuldades de acesso à rede, que descrevi no post anterior, tenho aproveitado para entrecortar a praia com algumas leituras.

Entre as coisas com que me tenho entretido está o texto de uma comunicação do Professor António Nóvoa, feita em Outubro de 2006, aos professores do SINPRO SP [sindicato de professores de São Paulo – Brasil].

Nela o reitor da UL fala-nos de uma escola “centrada nas aprendizagens”, por contraposição à escola “centrada no aluno” e à escola “centrada nos conhecimentos” :

A pedagogia tradicional era baseada nos conhecimentos e na transmissão dos conhecimentos. A grande ruptura provocada pela pedagogia moderna foi colocar os alunos no centro do sistema.
Mas a pedagogia moderna precisa ser reinventada na sociedade contemporânea. Não se trata de centrar na escola nem nos conhecimentos, como advogava a pedagogia tradicional, nem nos alunos, como advogava a pedagogia moderna, mas, sim, na aprendizagem.

A pedagogia tradicional era baseada nos conhecimentos e na transmissão dos conhecimentos. A grande ruptura provocada pela pedagogia moderna foi colocar os alunos no centro do sistema. Mas a pedagogia moderna precisa ser reinventada na sociedade contemporânea. Não se trata de centrar na escola nem nos conhecimentos, como advogava a pedagogia tradicional, nem nos alunos, como advogava a pedagogia moderna, mas, sim, na aprendizagem.

De uma forma muito clara, e por isso muito cativante e esclarecedora, A.Nóvoa leva-nos a reflectir sobre as práticas de uma escola velha e mítica (que nunca existiu, mas que muitos glorificam), mas também sobre algumas práticas da “pedagogia moderna”, que poucos contributos trazem para a resolução dos “problemas da escola ” no século XXI:

Durante muito tempo nas escolas normais foi ensinado que numa turma há sempre um terço de crianças boas, um terço de crianças “assim assim” e um terço de crianças más. Portanto, um terço estava condenado ao insucesso inevitavelmente. Isto é impossível de aceitar dentro de um processo de inclusão. A idéia de que se pode alcançar um patamar comum de conhecimentos, que se pode atingir verdadeiramente sucesso, deve ser uma exigência dos docentes, é uma exigência civilizatória conseguir isso. Não se consegue isso por várias razões históricas, de resignação ou por questões de identidade da profissão. Falar de um patamar comum de conhecimentos é também falar de um compromisso ético dos professores, compromisso ético com esse sucesso. E os professores muitas vezes, infelizmente, não tiveram esse compromisso ético. Ainda hoje em Portugal, a profissão de professor muitas vezes reconhece como os melhores aqueles que reprovam mais alunos. Cabe falar também da importância dos resultados escolares. Não há patamar comum de conhecimento se não houver a avaliação dos resultados escolares. Uma escola centrada na aprendizagem é aquela que o professor dá a melhor atenção aos resultados escolares dos alunos. É também uma escola capaz de colocar em prática mecanismos de diferenciação pedagógica, a descoberta mais importante da pedagogia moderna, feita no princípio do século XX, quando se saiu da idéia da pedagogia simultânea, que era a pedagogia tradicional mais básica, isto é, tratar todos os alunos como se fossem um só, como uma massa uniforme, e passar a dizer que é preciso que cada aluno receba um tratamento diferenciado, específico. Mas as práticas dos professores continuam a ser excessivamente homogêneas e uniformes, e a considerarem pouco a capacidade de diferenciação pedagógica. Isso porque muitas vezes os professores têm dificuldade em recorrer ao elemento central da diferenciação pedagógica: a possibilidade do trabalho em cooperação dos alunos dentro da sala de aula. Se não houver o trabalho de cooperação entre os alunos mais e menos avançados, entre os alunos que têm maior predisposição para certas disciplinas e os que têm para outras, enfim, se não houver a possibilidade do professor não ser o único ensinante dentro da sala de aula, é impossível conseguir práticas de diferenciação pedagógica. A experiência da Escola da Ponte, em Portugal, que tem sido muito divulgada no Brasil, é um exemplo do trabalho de diferenciação pedagógica. Na sala de aula, o professor é mais um organizador das diversas situações de aprendizagem. Trata-se de uma escola extraordinariamente focada na aprendizagem.

Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo – Palestra de António Nóvoa ao SINPRO-SP, Outubro de 2006

Liderança, Compromisso, Responsabilidade

24 Sexta-feira Jul 2009

Posted by fjsantos in educação, escola pública

≈ 2 comentários

Etiquetas

aprendizagem, Formação, reflexão

Acabo de chegar do Porto.

É uma cidade onde sempre “me senti em casa”. Fosse quando lá estudei, seja agora nas curtas e poucas visitas que fiz nos últimos anos.

Desta vez fui lá devido a um convite e um desafio do José Matias Alves, organizador de um dos muitos Cursos de Verão da Universidade Católica.

Foi um dia e meio de grande intensidade e de muita aprendizagem, quer pela extraordinária capacidade de comunicação dos conferencistas – Giovanna Barzanò e Antonio Bolívar -, quer pela enorme  qualidade dos comentários às suas conferências, a cargo de Maria do Carmo Clímaco e de Roberto Carneiro, quer ainda pelo interessantíssimo painel que teve a participação de José Maria Azevedo, José Matias Alves, Ana Rio e João Trigo e que foi moderado por Natércio Afonso.

No primeiro dia o tema central foi a Liderança, olhada à luz das Lógicas de Responsabilidade, tendo por base o estudo comparativo que Giovanna Barzanò realizou sobre os modos de reponsabilização e de prestação de contas das lideranças escolares em Inglaterra, Itália e Portugal.

Depois da conferência da manhã, o painel da tarde e o debate subsequente completaram um dia em que se afirmaram algumas ideias-chave, das quais achei mais significativas duas afirmações de JMAzevedo – Inspector Geral da Educação

  • A liderança deve ser entendida como a capacidade de dar sentido à escola (cada escola como uma entidade única, com um contexto, uma história, um projecto)
  • A Administração deve confiar sem abandonar (realizando um compromisso entre a pressão externa  da prestação de contas e a capacidade de auto-regulação profissional dos professores)

A conferência de hoje, a cargo de Antonio Bolívar e com os comentários de Roberto Carneiro, foi o complemento perfeito para os trabalhos de ontem.

O factor crítico identificado por A.Bolívar como o compromisso dos professores, embora não permita abandonar as preocupações com o controlo hierárquico que permite reduzir as incertezas, aponta claramente no sentido do que foram as palavras de JMAzevedo quanto à necessidade de se confiar nos professores, em vez de estes serem “os culpados de serviço”.

Esta pequena crónica não ficaria completa sem uma referência às magníficas intervenções de Roberto Carneiro. Confesso que nunca o tinha ouvido em intervenções deste tipo. E confesso que fiquei deslumbrado. Foi uma lição que não esquecerei e pela qual teria valido a pena a ida ao Porto, mesmo que fosse a única intervenção que eu tivesse ouvido.

O Professor Roberto Carneiro falou-nos da necessidade de termos líderes que saibam ser servidores, i.e., que sejam capazes de

  1. Ouvir o outro
  2. Entender os problemas e as necessidades do outro
  3. Transformar o outro
  4. Estar atento ao outro
  5. Inspirar o outro
  6. Sonhar e fazer sonhar o outro
  7. Intuir as coisas que vão acontecer
  8. Dar a orientação que crie confiança
  9. Comprometer-se com o crescimento do outro, em todas as dimensões
  10. Construir comunidades e criar riqueza social

Todo um programa que explica, de forma definitiva, porque falhou a perspectiva de Maria de Lurdes Rodrigues, Jorge Pedreira e Valter Lemos. Três pessoas que, porque eventualmente não conseguiram nunca um compromisso efectivo com o profissionalismo docente, só conseguem imaginar os professores como uns malandros e os maus da fita. No fundo, como diz a sabedoria popular, o bom julgador a si se julga.

Não fiquei para assistir ao painel que se realizou hoje à tarde. De facto, depois da apoteose que foi a lição magistral de Roberto Carneiro, não me seria possível ficar para ouvir o “pai dos pais” e o “presidente dos presidentes” (ou o “director dos directores”) a falarem sobre escolas e saída de labirintos. Seria o completo anti-climax.

Nota 1: a declaração de princípio enunciada por Roberto Carneiro, ao afirmar que a Escola não é um Mercado e que a Relação Pedagógica não é uma Relação Comercial, é algo de enorme importância que deve ficar para as actas.

Nota 2: penso que dentro de algum tempo o JMAlves disponibilizará no Scribd alguns dos textos das conferências, que recomendo vivamente a quem não teve a oportunidade de estar presente.

Correio Electrónico!

25A – SEMPRE

Março 2023
S T Q Q S S D
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  
« Abr    

Artigos Recentes

  • da ignorância atrevida, da demagogia com cobertura mediática e da não ingerência na soberania de outros povos
  • do presidente-monarca
  • da democracia nos partidos
  • do “andar a dormir” e do tratamento desigual dispensado pela comunicação social
  • da escola como ocupação do tempo dos jovens

Comentários Recentes

Professsora em do tempo e forma das negociaçõ…
fjsantos em do tempo e forma das negociaçõ…
Professsora em do tempo e forma das negociaçõ…
Mina em Nuno Crato anunciou nova alter…
fjsantos em O PS e a unidade da esque…

Arquivos

  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Outubro 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009
  • Junho 2009
  • Maio 2009
  • Abril 2009
  • Março 2009
  • Fevereiro 2009
  • Janeiro 2009
  • Dezembro 2008
  • Novembro 2008
  • Outubro 2008
  • Setembro 2008
  • Agosto 2008
  • Julho 2008
  • Junho 2008
  • Maio 2008
  • Abril 2008
  • Março 2008
  • Fevereiro 2008
  • Janeiro 2008
  • Dezembro 2007
  • Novembro 2007
  • Outubro 2007
  • Setembro 2007
  • Agosto 2007
  • Julho 2007

Twitter Updates

    follow me on Twitter

    Twingly BlogRank

    Twingly BlogRank

    Indique o seu endereço de email para subscrever este blog e receber notificações de novos posts por email.

    Junte-se a 1.841 outros subscritores

    Site no WordPress.com.

    Privacy & Cookies: This site uses cookies. By continuing to use this website, you agree to their use.
    To find out more, including how to control cookies, see here: Cookie Policy
    • Seguir A seguir
      • (Re)Flexões
      • Junte-se a 34 outros seguidores
      • Already have a WordPress.com account? Log in now.
      • (Re)Flexões
      • Personalizar
      • Seguir A seguir
      • Registar
      • Iniciar sessão
      • Denunciar este conteúdo
      • Ver Site no Leitor
      • Manage subscriptions
      • Minimizar esta barra