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Por estes dias temos sido confrontados com a ascenção à categoria de “analista político” de umas quantas abencerragens que, por terem andado numa escola de jornalismo, se acham “jornalistas”, “escritores” e até “comentadores políticos”.
Vem isto a propósito de um simples animador de um programa pseudo-cómico, com periodicidade semanal, que se assina João Miguel Tavares. Se já enjoa ler e ouvir uns quantos economistas, jornalistas e políticos encartados da direita a perorar sobre os poderes presidenciais, a legitimidade de o PS governar apoiado à sua esquerda, ou o caos em que viveremos se não formos governados com as regras de Hayek e Friedman, ter que suportar a “ciência política” made in JMT é deveras insuportável.
Hoje, em mais uma crónica inenarrável, este representante do latifúndio alentejano vem, mais uma vez, dissertar sobre o poder de Cavaco “exigir”.
Nesse exercício de “erudição política” JMT remete-nos para o discurso de posse de Passos Coelho, quando o PR sem poderes de dissolução da AR decidiu dirigir-se ao futuro PM que terá que indigitar, dizendo: «Exige-se ao Governo que respeite as regras europeias de disciplina orçamental, nomeadamente o Pacto de Estabilidade e Crescimento, os pacotes legislativos denominados Six Pack e Two Pack e o Tratado Orçamental. Exige-se, igualmente, que o Governo respeite os compromissos assumidos pelo Estado português no âmbito da União Bancária.»
Acontece que para que alguém possa exigir algo a uma terceira pessoa ou entidade, convém que detenha sobre essa pessoa ou entidade algum ascendente, e, de preferência, a capacidade de persuasão imprescindível para que o seu interlocutor se sinta obrigado a obedecer.
Ora, por muito que custe a JMT e a todos os “expertos” da direita, Cavaco Silva não possui essa capacidade, uma vez que se decidir declarar guerra à Assembleia da República será a direita, e, em particular, o seu PSD que mais terão a perder.
Nenhuma lei emanada do governo passará na AR e, no limite, o PR terá que aprovar as leis aprovadas pela AR, mesmo recorrendo a alguns “vetos de gaveta”.
Uma vez que acresce a tudo isto o facto de que os acordos assinados pelo PS com BE, PCP e PEV não propõem o desrespeito pelas regras europeias de disciplina orçamental, ou os compromissos assumidos pelo Estado português no âmbito da União Bancária, pelo que o cumprimento da putativa exigência está formalmente garantido. Não resta à direita e ao seu dilecto presidente senão “a prova do pudim”[1].