A Drª Maria José Nogueira Pinto é uma pessoa de direita.
Tem todo o direito à sua opção ideológica e a expressar livremente o seu pensamento.
Tem, pela notoriedade alcançada na vida política, um acesso aos media que não têm os comuns mortais, mesmo quando fala ou escreve sobre assuntos de que alguns comuns mortais sabem muito mais do que ela (ou pelo menos do que o que ela revela saber).
Na sua crónica, no DN de hoje, MJNP disserta sobre a Liberdade de Aprender e Ensinar.
Ao longo do texto (em cerca de 3000 caracteres) MJNP ataca o sistema de ensino português e a sua alegada «desvalorização do esforço e do mérito, a facilitação como norma, a infantilização das crianças e dos jovens e a falta de autoridade dos professores, a que se soma a permeabilidade da escola à sua envolvente externa e à circunstância concreta de cada aluno», para atacar a Escola Pública Republicana e Laica, que acusa de estar presa a «velhos preconceitos [que] continuam a veicular um modelo “rouseauniano” e igualitarista que transformou a educação numa área sujeita a uma constante experimentação, palco de mudanças inconsequentes e rupturas periódicas e a triunfante ditadura das estatísticas».
A esta parte, que classifico de discurso redondo e apenas fundamentado no senso comum, MJNP acrescenta uma solução – esperar que Sócrates siga a inspiração do seu amigo Zapatero e se disponha a fazer um pacto “de regime” para a educação. E qual o ponto central desse pacto? Evidentemente que só poderá ser um modelo em que se avaliem «as vantagens do financiamento público seguir o aluno em vez de cair na confusão do sistema.»
Trata-se de legitimar os “vouchers” (cheque-ensino), com base numa experiência estrangeira de que se fala apenas em termos superficiais e sem explicar de quê e de quem se fala.
Na verdade, ao ler a crónica de MJNP veio-me imediatamente à memória um texto publicado no Xornal de Galicia de 10 de Agosto deste ano.
Nele, Miguel Anxo Fernán Vello falava-nos de como a Xunta de Galicia (liderada pelo PP) tinha acabado de aprovar «axudas millonarias a colexios privados que ofrecen educación segregada por xénero, apoiando así unha “formación diferenciada” por sexos».
MAFV também nos explicava, nesse artigo, que a poderosa Federación Española de Religiosos de Enseñanza (FERE), que aglutina 2.400 centros católicos, tal como a Confederación Católica de Federaciones de Asociaciones de Padres de Alumnos y Familias (Confapa) vêem «a educación diferenciada como “unha opción de liberdade e un modelo de futuro”, e outórgalle a esta amplas bases científicas, entre elas a existencia demostrada dun “dimorfismo sexual cerebral” —os cerebros feminino e masculino son “notabelmente diferentes”—, razón esta que require “unha resposta adecuada no ámbito da aprendizaxe e a educación”.»
Será que a proposta da Drª Maria José Nogueira Pinto também admite a possibilidade de o financiamento público servir para diferenciar os alunos por sexo? e já agora por raça, por religião ou por capacidade económica?
Convinha ser um pouco mais explícita, sobretudo quando se tem o privilégio – e a responsabilidade – de ter acesso a órgãos de comunicação com circulação nacional.