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O discurso conservador, usado pelas gentes de direita, assenta muitas vezes em dois conceitos manipulatórios das consciências – a “tradição” e a “natureza das coisas“, ou “o que é natural“.
Mais uma vez, a propósito da indigitação do futuro 1º ministro e da formação do XX governo constitucional, os arautos da direita enchem o espaço público mediático com “resmas” de artigos de opinião que resumem o argumentário à “tradição constitucional” e, dessa forma, concluem que “o natural” é que Passos Coelho e Paulo Portas governem e, “naturalmente”, o PS seja uma oposição “responsável”, para que, de acordo com “a tradição”, PCP e BE façam a oposição “irresponsável” que “naturalmente” estão habituados a fazer.
Acontece que, desta vez, os órgãos dirigentes do PS demonstraram a vontade suficiente de alterar a “natureza” do compromisso histórico que tinha sido tacitamente assumido pela facção soarista em 1975, e “responsavelmente” mantida durante 40 anos, recuperando o ADN de esquerda que, depois do marxismo, tinha sido enterrado na gaveta por Guterres e deixado ao abandono por Sócrates.
Se isto vai inaugurar uma outra “tradição” que se consubstancie na deslocação da clivagem entre a esquerda e a direita parlamentar para a fronteira entre o PS e o PSD, é coisa para analisar em função da prática futura do PS.
Agora o que é “natural” é que, face aos resultados de dia 4 e ao acordo que ontem foi anunciado por António Costa e por Catarina Martins, que provavelmente será confirmado hoje por Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónio, o “natural”, digo eu, é que Passos Coelho, Paulo Portas e toda a sua trupe radical de direita se confinem ao papel de oposição “responsável” quanto baste, embora não seja de esperar grande coisa dessa rapaziada.