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O conceito de “coreografia(s)” aplicado aos processos de tomada de decisão política, que decorrem após negociações entre governantes e sindicatos, entrou no léxico da blogosfera docente pela pena do Guinote, tendo sido amplamente reproduzida por outros crentes no poder da rede, quer sejam comentadores encartados, quer sejam também autores dos seus próprios blogues de professores.
A ideia, de fácil digestão para o senso comum, é de que todo o processo político está controlado pelo institucionalismo vigente, tendo havido uma usurpação da representação dos interesses profissionais por parte de entidades historicamente situadas – os sindicatos – e que, alegadamente, estariam agora sitiadas pelos irredutíveis professores independentes.
É em torno desta narrativa que se trava uma espécie de guerra virtual, em que os “novos heróis” da classe docente conseguem sempre encontrar ganhos imorais para “os sindicatos” branqueando, em simultâneo, os ataques brutais que os governantes que tanto incensaram fazem a toda a classe docente.
Esta guerrilha sem sentido, que se prolonga há mais de quatro anos e já produziu mais uma “estrela da pantalha”, tem sido magistralmente dirigida por um dos “passageiros clandestinos” mais conhecido e mais ganhador na luta dos professores.
Esta “persona”, e os amigos que o rodeiam mais de perto, assenta o argumento na acusação (infundada) de que a anomia, o desinteresse e a falta de mobilização para a contestação às políticas cráticas se deve ao facto de “os sindicatos” terem desbaratado o potencial agregador das “marchas das avenidas” ocorridas em 2008.
Esquecem-se, o coreógrafo-mor e seus adjuntos, que já em 1965 Mancur Olson explicou de forma detalhada porque é que a existência de interesses comuns conduz à inação coletiva, em vez de potenciar essa mesma ação. É que, partindo da hipótese do ator racional, Olson mostrou que o fenómeno do bilhete gratuito ou do passageiro clandestino se aplica a cada tentativa de ação coletiva: cada indivíduo descarrega sobre os outros os custos da ação coletiva. Para minimizar este fenómeno a melhor solução seria, sem dúvida, estabelecer incitações – positivas e negativas – que sejam compreendidas como custos impostos aos atores em caso de não-ação coletiva (p. ex.: aplicar os ganhos obtidos em negociações dos sindicatos com o ministério apenas aos sócios; não estender a todos as decisões dos tribunais obtidas em processos contra o Estado, interpostas pelos sindicatos em defesa dos seus sócios).
Talvez se houvesse essa diferenciação o discurso coreográfico utilizado por alguns bloguers ficasse reduzido ao que efetivamente vale. No entanto as almas inquietas podem descansar , porque os valores da solidariedade e responsabilidade cívica sobrepõem-se a uma certa vontade de praticar a justiça de talião, quando se leem os dislates que estes coreógrafos continuam a escrevinhar na rede.
Caro Francisco para inicio de escrita declaro desde já que não conheço pessoalmente nenhuma das personagens dos blogs em causa mas acompanho regularmente a atividade dos mesmos.
A reunião que originou o post tinha presente um destacado membro da FNE não se tratando de uma reunião puramente anti-sindicalista.
A coreografia referida causou algum mau estar em alguma audiência de um dos blogs.
Entre os autores dos blogs há diferenças que certamente os impedirão de ir muito longe numa ação conjunta que pessoalmente achava necessária.
Sindicatos, Encarregados Educação e blogs todos seremos poucos na defesa da escola pública. As diferenças podiam ficar para depois se fosse possível uma nova plataforma num momento tão delicado para a classe.
Estou pessimista e parece-me que não vai ser possível o que vai permitir ao Crato afirmar que afinal é só uma contestação pequenina.
Uma bacorada em toda a linha.
Uma coreografia infantil com aplausos envergonhados de quem se sente gozado mas não admite e acha isto engraçado!
Percebe-se a agenda. Não vale a pena dizer mais nada.
Caro coeh,
talvez não me tenha sido suficientemente claro no meu post, mas não estou minimamente preocupado com reuniões mais ou menos anti-sindicais.
O que procurei fazer foi explicar que leituras simplistas, e que demonstram pouco conhecimento sobre os mecanismos de motivação e decisão dos atores sociais para lá do que é o senso comum, produzem pensamentos erróneos sobre os fenómenos que se quer controlar.
O fenómeno do passageiro clandestino é abundantemente dissecado pela sociologia da ação coletiva há várias décadas.
Aqui no blogue já utilizei o conceito em diversas ocasiões, nomeadamente nos seguintes posts:
https://fjsantos.wordpress.com/2010/02/26/professor-que-trabalha-em-escola-publica-e-funcionario-publico/
https://fjsantos.wordpress.com/2010/01/20/contestacao-dos-argumentos-de-santana-castilho/
https://fjsantos.wordpress.com/2010/01/18/passageiros-clandestinos/
Quanto às diferenças que menciona, elas saltam à vista de qualquer leitor de blogues. Mas diferenças não impedem ação conjunta, que tem por ponto de partida a identificação de interesses comuns aos atores.
A questão aqui é saber qual o sentido dessa ação, quais os objetivos perseguidos e quais os meios disponíveis, para se poder avaliar a qualidade dos resultados que, eventualmente, possam vir a ser alcançados. Porque se a ideia é andar a medir pilinhas, já sabemos o que vai continuar a acontecer.
Quando um professor – que se considera a ele próprio “o professor” – se regozija com uma decisão do tribunal contrária aos interesses dos professores
http://educar.wordpress.com/2012/07/29/a-necessitar-de-descodificacao/ é caso para duvidar dos objectivos de certas reuniões promovidas por esse exemplar espúrio da classe docente
Foi dado, finalmente, UM MURRO NA MESA seguido de uma IMPLOSÃO no último fim de semana.
Mais informação, digerida ou não, a partir dos orgãos de comunicação social, promessas de encontros, reuniões (mais alargadas, eu sei) e muita pressão…
Confesso que isto é muita pressão e luta para meu gosto.
Tenham calma, rapazes!
Make love not war….