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Um sábado intenso, com a possibilidade de ouvir alguns dos investigadores portugueses que mais e melhor se têm dedicado ao estudo das políticas educativas ao longo das últimas décadas.
O programa da manhã foi, desse ponto de vista, de uma riqueza extraordinária. Logo para começar tivemos a conferência do Professor João Barroso sobre as relações e tensões entre o ensino público e o ensino privado. Recordando a génese da escola pública e o papel determinante do Estado-nação no desenvolvimento da escolarização das populações, João Barroso fez notar que a clareza distintiva que existia entre os defensores do ensino público e os defensores do ensino privado se tem vindo a esbater, em grande parte porque a argumentação dos últimos tem vindo a deslocar-se de uma posição de defesa do ensino privado por motivos religiosos, confessionais, ou de mero interesse particular, para uma retórica de melhoria da escola com base numa alegada superioridade gestionária do modelo privado sobre o modelo público.
Discordando das teses radicais de defesa de cada uma dessas posições, João Barroso propõe um caminhar para novos modos de relacionamento entre público e privado, assentes numa regulação sócio-comunitária da educação em que seja possível salvaguardar o bem público educativo, atendendo aos interesses particulares dos estudantes e famílias e em estreita colaboração com o saber dos profissionais.
Ainda da parte da manhã tivemos oportunidade de assistir a uma mesa redonda moderada pelo Professor Licínio Lima e em que intervieram os Professores António Teodoro e David Justino.
Foi uma feliz iniciativa da organização do colóquio ter posto em confronto duas visões claramente opostas dos problemas e perspetivas que se colocam às políticas educativas nos tempos que correm.
Para António Teodoro é claro que estamos num tempo de grande adversidade, em que os defensores da escola pública de qualidade e para todos têm que cerrar fileiras no sentido de impedir o regresso a modelos educativos conservadores e excludentes de largas camadas da população. António Teodoro considera que as propostas neo-conservadoras do ministro Crato de um “back to basics”, que recorda o “ler, escrever e contar” do Estado-novo, constituem uma espécie de acerto de contas da direita portuguesa com as conquistas obtidas após a revolução de 1974, e um retorno claro a uma visão dual do ensino e da escola pública, em que as elites terão acesso a um ensino de banda larga e as classes mais desfavorecidas ficarão confinadas a vias profissionalizantes, nas quais o conhecimento ministrado será exclusivamente o necessário ao bom desempenho profissional do aprendiz.
Já David Justino, que começou por afirmar-se um liberal e considerar como uma ofensa que o classifiquem como neoliberal, preferiu apresentar-se como um técnico à procura de soluções e não como um político tomador de decisões. Para o ex-ministro da educação a defesa do ensino privado é um ponto de honra, mas apenas na perspetiva da defesa da liberdade curricular e não tendo como centro do debate as questões do financiamento. Defendendo a existência de um currículo nacional centrado naquilo que, a exemplo de Nuno Crato, considera as aprendizagens estruturantes, David Justino propõe a diversificação das ofertas curriculares como forma de combater o que chama de um ensino homogeneizante.
Sobre o comentário de Licínio Lima limito-me a dizer que, mais uma vez, foi brilhante, acutilante e sarcástico como só ele sabe ser. Quem esteve presente ouviu, aprendeu e divertiu-se com o humor e a capacidade de análise do comentador. Quem não esteve presente, da próxima vez tente não perder.
Uma nota final para confirmar que, mesmo para os chamados “jornais de referência”, e para os jornalistas que se incluem na categoria dos que “fazem educação”, este colóquio não existiu. E não foi por não terem sabido do seu agendamento, uma vez que em devido tempo e por meios expeditos foram informados.
A julgar pelo relato, o colóquio teve muito interesse, dada a qualidade dos intervenientes e a actualidade do debate sobre políticas públicas de Educação. A ausência de cobertura noticiosa é reveladora dos interesses que dominam a maioria dos orgãos de comunicação social.
Já a ausência de certos bloggers auto-intitulados especialistas em Educação não estranhará tanto, porque a sua única especialização é o anti-sindicalismo e os temas em discussão não serviam os seus objectivos de confundir e dividir.
Há por aí muito “especialista” em Educação que ficou no desemprego com o fim da questão ADD.
E sobre a ADD o que foi dito?
Que alternativas foram apresentadas pelos Sr(s). doutos?
# 2
Fim da ADD?
Deixa-me rir, oho, iii, aaaa, uiui, …Looooooollllllllllllllllllllllllllll
@ Alexis Diel podia ter ouvido em primeira mão o que foi dito sobre a ADD.
O colóquio foi anunciado, em devido tempo, no site institucional do FPAE e no blogue onde veio comentar.
Também foi divulgado num blogue muito frequentado por gente que disserta regularmente sobre várias questões educativas, incluindo sobre ADD.
Os jornalistas que “fazem educação” nos jornais de referência também foram informados do programa e só não apareceram para aprender alguma coisa sobre o assunto que tratam profissionalmente, porque não acharam relevante.
Finalmente, @ Alexis Diel devia ser mais cuidados@ nas suas leituras e ser capaz de distinguir entre o fim de uma coisa e o fim da polémica e do debate que essa coisa provoca. Se fosse capaz de fazer essa distinção não riria da forma ridícula como faz no segundo comentário.
Essa argumentação já parece a do RAMIROFACISTA, i.e., porque como fez um resumo sobre as políticas educativas também poderia faze/lo para a ADD, Foi assim que eu entendi. Ou entendi mal?
Como bem sabe nem todos os profs vivem na LISBA e tem a vida facilitada com carris, metro, barcos, cril, crel, A1 e pontes.
1. Não fui ao evento por já ter assumido antecipadamente outros compromissos.
2. Neste momento o zeco não tem tosto para sistematicamente se deslocar centenas de Km a fim de participar nos mais diversos eventos. Eh o custo da crise.
3. Não estou muito motivado para continuar a ouvir alguns cromos (justinos, barrosos, afonsos) que andam, sempre, de mão estendida para o governo lhes dar estudos e pareceres, e para o povo só há impostos.
4. Já se esquecer de quem fez o estudo que motivou o DL 115/A de 98?
O Kubano, que tb é Alexis Diel, apresenta uma justificação perfeitamente aceitável para não ter estado presente no colóquio, a par de uma outra em que borra por completo a pintura.
Se é aceitável que alguém que mora longe de Lisboa tenha dificuldade, sobretudo em tempo de dificuldades financeiras, para se deslocar a fim de assistir a um colóquio apenas para aprender, já a adjetivação usada em relação a pessoas que têm investigação realizada e obra publicada sobre os temas do colóquio parece-me completamente desadequada, abusiva e que desclassifica por completo o autor do impropério.
Quanto à minha opção por resumir uma parte do colóquio e desvalorizar a reprodução da outra, trata-se de um direito pessoal e editorial. De acordo com os meus critérios, embora algumas das intervenções da parte da tarde tenham sido muito boas e esclarecedoras, o tema da ADD é peditório para que não pretendo dar nos termos em que é normalmente colocado pelos “fazedores de opinião em educação”.
No sentido em que olho a ADD, apenas a intervenção da professora Estela Costa foi relevante. Por isso preferi não relatar o que se passou na sessão da tarde, pois ver-me-ia na obrigação de referir a triste intervenção do ex-secretário de Estado Alexandre Ventura e a paupérrima prestação do presidente do conselho de escolas Manuel Esperança. De facto, com personagens deste quilate, o que admira é que a escola pública ainda sobreviva.