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Nos últimos anos tem havido um intenso debate, promovido pelos que se reclamam de um pensamento mais à esquerda na sociedade portuguesa, que acusam o PCP de querer controlar os movimentos sociais, impedindo a espontaneidade característica de um individualismo exacerbado que campeia entre os auto-intitulados “independentes”.

O filósofo “socialista”  Manuel Maria Carrilho, mais que insuspeito de “comunismo ortodoxo”, assina hoje no DN uma crónica em que enumera algumas das críticas feitas pelas correntes comunistas em relação aos novos movimentos sociais de indignados. Será que MMC se tornou um perigoso comunista ortodoxo? Terá ele assinado uma ficha de inscrição no PCP? Dúvidas que nos ficam após a leitura do seguinte:

Mas uma revolução que aumente a sua eficácia, e esse é sem dúvida o grande problema que os movimentos de “indignados” enfrentam.

Porque é bom não ter ilusões: a indignação, apesar de ser um forte detonador mediático, é, na verdade, um fraco operador político. A razão é que, por um lado, ela combina bem demais com a insatisfação típica do individualismo contemporâneo e da sua interminável reivindicação de direitos. E, por outro lado, porque ela se apoia mais em sentimentos do que em ideias, e acredita mais em palavras do que em programas.

A “verdadeira” democracia que estes movimentos defendem é, sem dúvida, mais do que compreensível, nomeadamente quando olhamos para a desvitalização das nossas democracias representativas. Mas ao escolherem a via da simplicidade expressiva dos estados de alma para enfrentar um mundo de tão extrema complexidade, eles acabam por funcionar sobretudo como válvulas de escape do sistema que tanto contestam, dando forma ao que Daniel Innerarity chamou, e bem, a função conservadora da indignação.

Dito de outro modo: estes movimentos são um fenómeno indiscutivelmente novo na cena política global. Mas sem organização, sem objectivos, sem estratégia e sem liderança, a sua eficácia no único plano em que convergem – e que é o da crítica do capitalismo contemporâneo – é muito incerta.

O maior risco que correm é que com eles cresça a ilusão de uma democracia “impolítica”, que certamente aumentará a erosão das formas tradicionais da legitimidade política, mas sem criar nenhuma outra. E abrindo entretanto as portas a sabe-se lá o quê!