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A onda de euforia que tomou conta dos dois indefectíveis de Nuno Crato acentuou-se ontem, após o ministro ter entregue aos sindicatos de professores o “seu novo modelo de ADD” numa folha A4.

O grande educador da classe docente e o seu “arqui-rival” do politécnico conseguem transformar 7 intenções genéricas (que cabem numa folha A5, que com uma edição mais cuidada se transforma em A4) num novo modelo de ADD que os professores devem tomar pela 8ª maravilha da política, caso contrário caem na categoria de amantes do modelo que o PSD e o CDS se recusaram a revogar.

Felizmente há muito mais professores que não são parvos e não se deixam cegar por paixões assolapadas por ministros bem falantes. Para esses a verdade é que os 7 princípios (o número terá algum significado cabalístico?) são tão gerais que não permitem perceber bem que modelo de ADD quer NC aplicar. Para já sabe-se que, ao contrário da propaganda e do enorme esforço dos novos spin-doctors, não tinha nenhum modelo pronto a entregar aos sindicatos e teve um pouco de bom senso ao não fazer finca-pé em fechar as negociações com os professores em férias.

No entanto há algumas questões que merecem piquenos reparos que remetem para o que ainda ontem escrevi sobre a necessidade de revogar os arts. 40º a 49º do ECD, caso se queira efectivamente mudar o modelo de ADD para algo diferente do que vigora.

  • Se a questão da avaliação e observação de aulas pode ser resolvida com a troca de avaliadores entre escolas diferentes sem levantar grandes dúvidas quanto ao que prescreve o actual ECD, em tempo de vacas magras e contenção de custos não se diz quem vai pagar a factura das deslocações desses avaliadores. Se calhar adivinha-se que serão os mesmos de sempre, mas finge-se que não é connosco e o último a sair que feche a porta…
  • Embora NC possa contar com a tradicional (e agora ainda mais justificada) boa-vontade do sindicalismo comprometidamente responsável de Dias da Silva, convém que alguém lembre ao ministro que se quiser ser efectivamente diferente de MLR deverá saber que para negociar e acordar é preciso que haja cedências de ambas as partes. O reajustamento do calendário negocial foi um bom princípio (não consta dos 7), mas nada garante que o fecho de um eventual acordo se verifique a 9 de Setembro, já que há um direito de solicitação de negociações suplementares caso haja dossiers mais complicados de aceitar por parte dos sindicatos.
  • Para o fim deixo uma das questões que mais porras tem: as quotas e a frase completamente assassina que NC permitiu que os jornalistas ouvissem e reproduzissem «Não existindo quotas somos todos excelentes. Isto tem que ser regulamentado É que uma frase destas até aos mais indefectíveis terá que causar engulhos, a menos que desatem a reescrever tudo o que disseram nos idos de 2007/08 sobre a injustiça e iniquidade de um sistema que mistura mérito e pertença ao mapa de pessoal de uma escola concreta.

Enfim, com cuidado e atenção, sem qualquer espécie de esperança em alegadas boas-intenções de qualquer ministro deste governo, dia 12 cá estaremos para ver o que tem NC para nos apresentar e em que é que se distingue dos conceitos neoliberais, meritocráticos e economicistas das suas antecessoras no ministério. Ao menos se viesse anunciar a intenção de rever aquele malfadado capítulo do ECD…