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O guião de campanha está estabelecido e os moços de recados, que nos jornais, rádios e televisões se vão encarregar de passar a mensagem ao povo, sabem bem o que dizer e de que forma o devem fazer.
As linhas orientadoras são claras e desenvolvem-se segundo dois eixos: 1º encenação de uma oposição esquerda/direita em torno das propostas do PS contra as do PSD, com eventual apoio do CDS; 2º desinscrição das propostas dos partidos de esquerda – PCP/PEV e BE.
Relativamente ao segundo eixo, trata-se de matéria por demais conhecida e passa pela omissão do que é dito e proposto por cada um desses partidos. Em casos mais radicais passa mesmo pela ocultação da existência dos próprios partidos, excluindo-os do discurso sobre a campanha e as eleições.
Já quanto ao primeiro eixo, sendo também um clássico, teve ontem o seu ponto alto com o discurso de Sócrates em Matosinhos e com as análises subsequentes, realizadas pelos especialistas encartados e “inde”pendentes, que regularmente opinam na comunicação social mainstream.
Acontece que, desta vez, esta encenação da clivagem entre o PS e os outros dois partidos da direita tem uma “piquena” dificuldade: não casa com os factos e, sobretudo, é contrariada pelo discurso dos patrões de Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas – os donos do dinheiro.
Para quem esteja minimamente atento não passará em claro que, ao mesmo tempo que Sócrates diz que está contra a privatização da CGD proposta por Passos Coelho, os parceiros europeus dizem que o pacote de ajuda exigirá mais que o PEC IV: CGD, RTP, Transportes, Saúde e águas são sectores em que o Estado deixará de ser único accionista; quando Sócrates critica Passos Coelho por «querer contratos de trabalho verbais» os parceiros europeus exigem reformas como a “eliminação da rigidez” do mercado de trabalho; e quando ele jura a pés juntos a sua fidelidade ao Sistema Nacional de Saúde e à Escola Pública, os parceiros a quem pediu 80 milhões de euros lhe reclamam que proceda a um “ambicioso programa de privatizações”.
Bem sabemos que o povo português é sereno. Acreditamos até que é um povo generoso e suficientemente católico para perdoar a quem o tem ofendido. Mas não creio que sejamos assim tão tolos que nos deixemos enganar mais uma vez por qualquer vendedor de banha de cobra.
É por isso que nas próximas eleições o voto dos homens e mulheres de esquerda não poderá servir para aceitar as imposições do FMI. Como tal, nenhum cidadão que se reclame de esquerda pode sequer pensar em votar no PS.
Se estivéssemos num qualquer país nórdico, em que o nível de corrupção é baixo e a população é extremamente activa e participativa, eu diria tanto à «esquerda» como à «direita», que há muito se degladiam em lutas pela supremacia e que o mundo já ultrapassou, que há outros intervenientes – fora da política – que se têm debruçado muito mais sobre as causas e as consequências desta “globalização” e que jamais a «esquerda» ou a «direita» poderão imaginar, enquanto se mantiverem compartimentadas e limitadas por princípios, de certa forma desactualizados ou desajustados.
Urge a mudança sobretudo dos velhos intervenientes, gastos, acomodados, cinzentos e que não inspiram confiança a um eleitorado também ele experiente, envelhecido, desanimado, pouco instruído e com pouca ou nenhuma auto-estima.
Precisamos urgentemente de outro regime, de outras pessoas, com outras ideias e que acreditem também numa verdadeira mudança de regime, de forma a mobilizar quem já não acredita nestes “dinossauros” da política e interesses conexos.
O mundo globalmente mudou, para pior.
As desigualdades agravaram-se, a pobreza legitimou-se e as iniquidades também.
O próprio espectro de «esquerda versus direita» é hoje construído pela mesma rede de interesses que controla fundos e ambos os lados – dividir para reinar – controlando tudo e todos, pelo que a maioria dos cidadãos já não acredita nem nuns, nem noutros.
Para se ter uma melhor panorâmica do que nos está a acontecer, recomendo vivamente o excelente documentário “INSIDE JOB” e que ajudará a compreender o porquê da grave crise que estamos a atravessar. Crise material, moral e ética! Ex: Quando no decurso do documentário alguns dos bilionários (que aceitaram a entrevista) causadores deste monumental colapso socioeconómico, com fortunas exorbitantes ganhas à custa da ruína das “suas” corporações, de inúmeras famílias e do próprio país, são questionados «se não vêem o problema?» nesses ganhos e no facto de ninguém ter sido acusado e/ou responsabilizado, respondem de forma fria e calculista, não!
Ao olhamos para aqueles semblantes (uns mais impávidos e serenos que outros) e não se vislumbra a mínima centelha de sensibilidade, humanidade, remorso, ficamos chocados, porque de imediato identificamos não apenas os agentes, como um novo (velho) tipo de doutrina – o fascismo – que julgávamos não existir em democracia. Ao mesmo tempo que reconhecemos as chocantes semelhanças entre estes predadores altamente bem pagos e os predadores do Partido NAZI da WWII.
Para além da insensibilidade bem estampada nas caras daquelas criaturas, há ainda a exteriorização de um certo gozo, roçando a provocação, pela superioridade do engenho, consequente desresponsabilização e impunidade cível ou criminal, dado que os próprios políticos foram todos eles comprados e/ou substituídos por estas “elites”, vindas das tais corporações que arruinaram. Verdadeiramente inacreditável.
Lá e cá! Em Portugal quantos de nós não suspeita(va)m sequer que o que se passa(va) nos USA nos iria contaminar? Poucos. Os mais atentos ou os mais directamente ligados à política e/ou economia. Por cá e após os acontecimentos dos últimos meses ainda estamos todos em estado de choque, depois de anos de afirmações de que tudo estava bem apesar da tal crise internacional. Porém, a máquina de propaganda bem oleada antes e depois do estado de choque e a inerente manipulação conduzirá, muito provavelmente, a uma crónica elevada abstenção e a mais do mesmo, acreditando ainda num “D. José” actual que tudo fará para “defender” os interesses dos portugueses (alguns)… «ele bem quis fazer melhor, não o deixaram, mas se for legitimado de novo….» bla, bla….
Serão luzinhas ao fundo do túnel?
1) Ministro sueco das Finanças: Governo português é responsável pela situação do país
http://economia.publico.pt/noticia/ministro-sueco-governo-e-responsavel-pela-situacao-do-pais_1489070
2) Nasce em Bruxelas um grupo de pressão contra o lobby bancário
http://economia.publico.pt/Noticia/nasce-em-bruxelas–um-grupo-de-pressao-contra-o-lobby-bancario_1489075