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Apesar das evidências sobre a natureza do PS existe um grande número de portugueses que vive à procura de um outro PS emergindo, não do nevoeiro como el-rei Sebastião, mas das profundezas da vil tristeza em que se apaga o país.

Quem assim pensa acredita, genuinamente, nas suas convicções “de esquerda”. Velhos republicanos, gente que serviu a causa pública e foi educada no rigor e nos princípios da solidariedade, ou até jovens a quem é dito que o partido socialista é o grande defensor da liberdade e da democracia, apesar da liderança que tem.

Ainda há pouco, ao ler mais um post do meu amigo Paulo Prudêncio em que faz referência a “este PS”, dei por mim a recordar alguns dos momentos decisivos dos últimos 35 anos e a forma como desde então o PS nos tem vindo a trazer para o estado em que estamos.

Goste-se ou não, acredite-se ou não, a verdade é que desde o início da revolução que o PS, e a sombra tutelar de Mário Soares, nos foram atirando para os braços do capital.

Ainda durante o processo de descolonização a forma como a dupla Mário Soares/Frank Carlucci retiraram de Angola e Moçambique a quase totalidade dos quadros, que podiam assegurar a transição para a independência com alguma ordem e tranquilidade, colocando na “metrópole” mais de meio milhão de votantes anti-comunistas, foi um verdadeiro golpe de mestre(s).

Também por essa época a associação de Mário Soares a Sá Carneiro, para combater a CGTP, consubstanciou-se mais tarde na criação da UGT. Desta vez com o apoio financeiro e ideológico do sindicalismo reformista alemão.

Ainda com Mário Soares, e metido o socialismo na gaveta (de onde não voltou a sair a não ser para propaganda eleitoral), decidiu o PS que devíamos aderir à Europa e que devíamos abandonar os sectores primário e secundário da produção nacional, pois o destino do Portugal europeu era ser um “prestador de serviços”.

É certo que quem concretizou o desmantelamento da frota pesqueira, do sector agrícola nacional e da indústria pesada (siderurgia, metalo-mecânica, etc.) já foi Cavaco Silva. Mas não é menos certo que o fez sob a supervisão e a magistratura de influência de Soares.

O senhor que se seguiu foi Guterres, para quem não se lembra um católico tão praticante como o próprio Cavaco. Um pouco titubeante e dado “à negociação”, mas sempre mais cordato com os donos do dinheiro do que com quem vive da força do trabalho.

Até que chegámos a Sócrates. Convém também recordar que não foi “este PS” que o elegeu em 2004, porque nessa altura o PS ainda não era “este”.

E o PS que elegeu Sócrates em 2004 fê-lo porque queria um chefe autocrático, que ao contrário de Guterres decidisse em vez de negociar. Resolvido esse problema de liderança no PS, o PR da altura (do PS) apressou-se a despedir o primeiro ministro que tinha empossado alguns meses antes, provocando a saída da liderança de uma das últimas esperanças da “esquerda do PS”.

Também para chegar à conquista do país, aquele que hoje é considerado como o causador do descalabro “deste PS” contou com o apoio entusiasmado das figuras de referência do “outro” PS. Aquele PS que, para quem não se consegue libertar da ficção, mantém a aura do grande partido da esquerda portuguesa.

É por isso que, para bem do futuro da esquerda portuguesa, a vitória por aclamação (quase por unanimidade) de Sócrates pode abrir um horizonte de esperança de que todo o partido se afunde com ele em tempo não muito longínquo.