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O Carlos Marinho Rocha publicou um comentário ao meu post anterior que padece de uma enorme incompetência analítica, mas que colhe o apoio entusiástico de muitos analfabetos políticos (vidé Brecht – O Analfabeto Político), a ponto de ter direito a (re)publicação num blogue de referência perto de si…
Porque a confusão conceptual é grave e, no contexto actual, se torna imprescindível iluminar algumas almas mais perturbadas, vou tentar esclarecer as angústias deste colega que não conheço de lado algum, mas que merece atenção e cuidado.
1º Não vou entrar em disputas sem sentido sobre a representatividade e o papel institucional dos sindicatos, limitando-me a relembrar que a luta de massas sem uma definição de objectivos concretos e representação institucional que permita concretizar as reivindicações em acção concreta, apenas conduz à frustração e ao desânimo. Ninguém luta sem ter um “por quê”, sobretudo quando a luta exige a superação de obstáculos de grande dimensão. E ninguém se mantém na luta se nunca vir resultados dessa luta.
2º Embora seja atraente e simpática a ideia de gerar grandes movimentos de massas, através da utilização dos novos instrumentos digitais de comunicação, até ao momento isso apenas tem resultado para unir pessoas contra “qualquer coisa”. Quando se trata de construir projectos comuns aos participantes o mais usual é passar-se à fase de “a cada cabeça sua sentença”, ou à velha história de “O velho, o rapaz e o burro”.
3º Daqui decorre que a eventual “regeneração dos sindicatos” não passará, por certo, pela “dinâmica do Ipod”, mas sim pela capacidade e disponibilidade de cada pessoa participar activamente na vida do sindicato que representa o seu sector.
4º A participação dos “treinadores de bancada” é, em si mesma, a contradição absoluta de quem defende a inevitabilidade da democratização da vida sindical. Reclamar de fora é uma contradição nos termos, que não resolve o problema que os críticos de bancada tão bem diagnosticam.
5º Do mesmo modo, a ilusão de que possa existir uma acção sindical desligada de uma análise política do contexto em que vivem e trabalham as pessoas concretas é reveladora de uma ignorância imperdoável, sobretudo quando o interlocutor se reclama membro da classe profissional mais qualificada do país.
6º Dito isto, percebe-se melhor que a afirmação de que “todos sabemos porque é que os sindicatos pouco ou nada têm feito e, hoje, Carvalho da Silva deixou claro: eles não querem deixar cair Sócrates” não é, na sua essência, uma mentira. É apenas ignorância ou, nas palavras de Brecht, analfabetismo político.
7º Carvalho da Silva, como de resto qualquer sindicalista que paute a sua acção de acordo com o sindicalismo de massas, não defende a continuidade de Sócrates, porque sabe que Sócrates e Passos Coelho são as duas faces da mesma moeda.
8º O que os Carlos Marinhos Pintos que pululam na Internet, e infelizmente fazem escola na escola pública portuguesa, não conseguem atingir é que há mais política para além dos três partidos que têm governado o país desde a aprovação da Constituição de 1976. Partidos, PS/PSD/CDS, que além de governar têm garantido a distribuição dos lugares do Estado ao seus militantes e apaniguados.
9º Quando Carvalho da Silva, e muitos outros portugueses que defendem uma política patriótica e de esquerda, afirma que Passos Coelho não é a alternativa a Sócrates é porque ambos representam os mesmos interesses políticos. O que os jornalistas e os “comentadeiros” se esforçam por escamotear é que a alternativa preconizada é a constituição de um governo de esquerda, com políticos que defendam coerentemente uma política de esquerda e que garantam que os interesses dos trabalhadores e da produção da riqueza nacional serão a verdadeira prioridade.
10º Ilusionismo não é o trabalho que muitos milhares de professores sindicalizados fazem quotidianamente. Ilusionismo não é o trabalho que fazem alguns milhares de delegados sindicais, que estão nas escolas e aí leccionam. Ilusionismo é a crítica ligeira que pessoas como Carlos Marinho Rocha, e quem lhe dá visibilidade, insistem em fazer minando a intervenção das únicas estruturas organizadas em defesa dos interesses dos professores e da escola pública de qualidade para todos os portugueses.