Etiquetas
Os promotores da iniciativa feicebuquiana de convocar duas manifestações para 12 de Março – uma em Lisboa e outra no Porto – foram muito prudentes ao não aceitar o convite, que lhes foi endereçado pela produção do P&C, para estarem presentes no programa que foi ontem para o ar.
Dito isto, sem fazer qualquer juízo de valor sobre a iniciativa, devo ainda dizer que fiquei muito incomodado, e altamente preocupado, ao verificar que o que o director de “uma das mais prestigiadas faculdades do país” (quiçá da europa e do mundo) tem como proposta para os jovens é a desregulação total do mercado de trabalho e a desvalorização absoluta do salário, no que é acompanhado pelo director de uma das maiores empresas industriais cotadas em bolsa, pela directora de um diário de distribuição gratuita e pelos jovens “sucedidos na vida”, que se encontravam na plateia.
O que ouvi no P&C de ontem, dito de forma despudorada pelo Director da Faculdade de Economia da Universidade Nova e pelo Director (ou CEO/Presidente) da Centralcer, foi que para resolver a situação de desemprego dos jovens é preciso que os trabalhadores (jovens e menos jovens) aceitem viver num mundo de precariedade total, com salários reduzidos à ínfima dimensão, em que o trabalho seja pago à peça (ou comissão) e em que a responsabilidade social das empresas seja reduzida ao máximo fazendo baixar as suas contribuições para o sistema de segurança social.
Estas propostas, apresentadas pelo professor da Nova e pelo director da cervejeira, são directamente tributárias do pensamento económico dos tempos da revolução industrial, altura em que se preconizava que desde que os apoios sociais (ou a sua inexistência) fossem menos atractivos do que qualquer salário, por mais baixo que ele fosse, se atingiria uma situação de pleno emprego.
E o que me incomodou ainda mais foi que não houvesse qualquer contestação a estes argumentos por parte das dezenas de jovens presentes na plateia, que nos foram apresentados como os mais educados e informados entre os jovens portugueses, atingidos pela precariedade e pelos falsos recibos verdes.