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Os mandatos de Sócrates permitiram, no campo da educação, o surgimento de fenómenos interessantes e curiosos. Por um lado constituíram o catalisador de uma revolta, assente numa aparente e fugaz unidade dos professores, que assumiu proporções inimagináveis para qualquer observador minimamente atento. Por outro permitiram que a direita, representada pelos seus partidos “naturais” – PSD+CDS – surgisse aos olhos de uma classe maioritariamente conservadora, e politicamente pouco interessada e empenhada, como partidos interessados na defesa da Escola Pública e dos interesses profissionais dos professores.
Foi com base nestas duas confusões (verdadeira mistificação no caso da segunda premissa) que o apelo «vota à direita ou vota à esquerda, não votes no PS» fez o seu caminho entre muitos professores, com os resultados eleitorais que se conhecem.
É também com base na mistificação de que a governação PS é má por ser “de esquerda”, que a direita, com o apoio de parte da blogosfera docente, continua a fazer a sua campanha em defesa da “liberdade de escolha da escola”, contra os sindicatos de professores e em especial a FENPROF e contra a Greve Geral.
O argumento fundamental da campanha contra o sindicalismo docente e contra a Greve Geral assenta na mentira, regularmente repetida, de que os sindicatos apoiam o actual modelo de avaliação, e assinaram um acordo com o ME apenas para silenciar e “domesticar” a contestação que existiria nas escolas contra a ADD.
Acontece que o tempo é inexorável, e o passar do tempo acaba por trazer à superfície quem é quem e o que defende. Também na luta dos professores isso se verifica e, nem por acaso, podemos vir a saber dentro de dias quem está (como sempre esteve) genuinamente com a defesa da profissão e quem apenas a tentou cavalgar antes das eleições de 2009.
O BE e o PCP apresentaram as apreciações parlamentares nº 52/XI e 56/XI/1ª, referentes ao DL 75/2010, que integra o actual ECD. A FENPROF, no uso das suas competências de representação da classe (não de único, mas de mais representativo) elaborou um parecer que esclarece quaisquer dúvidas que pudessem subsistir sobre o seu posicionamento face à carreira, à ADD e ao acordo firmado com o ME/Governo.
Aguardo (sentado, para não me cansar, que a velhice já pesa) que PSD e CDS se juntem à iniciativa de revisão do ECD promovida pelos partidos à esquerda do PS. Estou convicto, embora sem o recear, que tanto os grupos parlamentares de CDS e PSD, como os mais “incansáveis defensores dos professores”, sentados à frente dos respectivos computadores, achem os projectos de BE e PCP “inexequíveis”, por serem apresentados por partidos que não esperam vir a ter responsabilidades governativas e serem apenas “partidos tribunícios”. Quanto ao parecer da FENPROF, aposto que será catalogado de “instrumentalizador” das reivindicações dos professores, pelos “espertos” em luta docente do costume.