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Ontem escrevi um post comentando o programa Plano Inclinado e a forma como Rosário Gama não soube, ou não quis, dizer aos comentadores residentes que as afirmações que fazem sobre a escola pública são erradas e não passam de propaganda arrivista, ao serviço de uma agenda privatizadora do ensino.
Paulo Guinote, o zeloso guardião dos professores contra o perigo do comunismo, decidiu classificar o que escrevi como «absolutamente vergonhoso [com] ranço no ataque pessoal».
Paulo Guinote, não só como o mais mediático “profbloguer” luso, mas também como cidadão do Portugal de Abril, tem direito a ter opinião e a expressá-la. Convém, no entanto, que quando acusa alguém de cometer actos vergonhosos e rançosos no ataque a outrém, apresente os factos em que baseia a sua opinião.
Eu vi o programa em causa. Não sei se Paulo Guinote o viu, embora ele afirme que o tem gravado (se calhar ainda não teve tempo de ver).
Se Paulo Guinote não viu ainda o programa, a acusação que me fez é infundada, injusta e revela uma falta de honestidade a toda a prova. Se já viu o programa, terá reparado (como eu e todos os espectadores) que foram produzidas afirmações gravíssimas pelos comentadores residentes e que Rosário Gama nem sequer as contestou.
Cito de memória algumas pérolas:
Sobre direcção das escolas
- Medina Carreira afirmou que não deve haver democracia na gestão das escolas. Os directores existem porque é preciso “haver quem mande” e “uma cara para saber a quem pedir responsabilidades”;
- Nuno Crato afirmou que a qualidade da direcção de uma escola se mede pela ausência de barulho nos corredores e pela forma como [os funcionários] interpelam os visitantes;
- Nenhum dos dois admite a possibilidade de não haver uma direcção unipessoal.
- Rosário Gama foi incapaz de contrapor a esta visão autoritária e antidemocrática, os valores da liberdade, da democracia e da qualificação profissional dos professores como parte imprescindível no governo da escola.
Sobre negociação de políticas educativas
- Medina Carreira afirmou que os ministros não têm que negociar nada. Têm que chegar ao ministério e aplicar a “sua reforma”, desde os programas, à avaliação dos professores, ao estatuto dos alunos.
- Rosário Gama perdeu a oportunidade para explicar a Medina Carreira que essa foi a forma de actuar de Maria de Lurdes Rodrigues, Jorge Pedreira e Valter Lemos, superiormente comandados por José Sócrates, Teixeira dos Santos, Pedro Silva Pereira e Augusto Santos Silva, com os resultados sobejamente conhecidos por todos os professores e pela generalidade dos portugueses.
Sobre cumprimento dos deveres profissionais dos professores
- Nuno Crato afirmou que, ao contrário do que acontecia antes, quando os alunos tinham “uma balda” e festejavam porque esse era um acontecimento raro, agora os alunos desejam ter professores exigentes e cumpridores, porque o normal é os professores faltarem e as aulas serem uma balda.
- Rosário Gama ficou muda e queda e, com o seu silêncio, admitiu que a generalização feita por Nuno Crato é correcta, permitindo que mais uma vez passasse a mensagem de que os professores portugueses faltam muito e não ensinam nada.
Estes são apenas alguns dos factos, constatáveis por quem viu ou quiser dar-se ao trabalho de ver o referido programa.
Denunciar os ataques que os comentadores residentes fazem contra os professores das escolas públicas e chamar a atenção para o facto de uma “líder” dos professores ter deixado passar tais ataques em claro, só poderá ser classificado como ataque pessoal por quem se revê no discurso que é produzido naquele programa e por aqueles comentadores.
Sob a capa de “técnicos”, “especialistas” e agora de “pensadores do meu país” como os apelidou Mário Crespo, estes senhores fazem política, defendem uma visão do país e perseguem uma agenda que tem claros contornos partidários no espectro mais à direita do panorama político nacional.
Denunciá-lo é um dever de cidadania e não um ataque pessoal a quem quer que seja.
Quanto aos outros indivíduos que, de forma mais ou menos provocatória, comentaram o que escrevi sem o ter lido ou, tendo lido, sem o perceber, não merecem mais do que um sorriso complacente, esperando que um dia vejam mais do que o “prato do dia” que lhes põem à frente.
Vi o programa e fiquei paralisada. Nos olhos de Rosário Gama, o cansaço e nas palavras, a desistência. Esta mulher lutadora não é imune, não pode ser, à quantidade de ataques que se vêm fazendo à escola pública. Sistemáticos e demolidiores.
O pior, para mim, na fase actual, é mesmo esta “machadada” feroz na capacidade de discernimento dos professores. A ponto de o pensamento crítico ser, aqui, tratado como uma coisa infame… por Paulo Guinote!
Não compete aos professores discutir o sistema? E criticar as opiniões ou ausência de opiniões, quando se trata de defender a escola pública dos ataques sistemáticos a que vem sendo sujeita?
Para mim, do que se trata é de um grave período de crise, depois do qual a escola não poderá voltar a ser o que era. E por isso mesmo não podemos desistir de “lutar” (o que, neste caso, em boa medida equivale a “pensar” e “dizer”). Acerca da crise actual da escola, recentemente António Nóvoa afirmou “Quem não está confuso, arrisca-se a estar enganado”. Por isso não podemos desistir, como também eu senti que Rosário Gama o fez. Lamentavelmente.
Obrigado, Isabel
Infelizmente há, entre quem trabalha na escola pública, demasiada gente cheia de certezas.
São os que acham que quem questiona, apenas o faz por despeito, e vid ente mente.
Francisco:
Vous devez déjà savoir que les vaches sacrées ont leurs anges gardiens
Não vi o programa.
Como li o post e o “comentario” do Guinote posso tranquilamente afirmar que se tratou de um mero ataque pessoal (nem sequer me dou ao trabalho de adjectivar) e apenas isso.
Não há sequer uma palavra de contestação do que se afirma no post. Apenas, a acompanhar o ataque pessoal, a acusação de o Francisco Santos ter tido a ousadia de criticar Rosário Gama, o que para o Guinote deve ser um crime de lesa-majestade.
Evidentemente, embora não tendo visto a programa (raramente vejo televisão) do que li por aqui chego à conclusão que abjectas foram as intervenções da parelha Dupond et Dupont, logo é sobre essas que deve assentar o fogo principal da crítica.
Cumprimentos
Sobre o Programa: Tal como diz.Uma vergonha.
MC- sinais avulsos mas muito arreigados de senilidade. Directa ou indirectamente já o ouvi subrepticiamente defender soluções para a crise que passavam pela ditadura encapotada. Soluções para ela…ZERO! Aliás estude-se o seu papel como Ministro das Finanças!
Sobre NC, passo! Algumas afirmações são de uma ignorância e estupidez acerca do conhecimento da escola pública que…
Sobre RG, engana-se. Por dentro, por dentro, ambição desmedida. Não há um RG de antes e outra d’agora! A rapidez com que passou para o actual modelo de gestão, anti-constitucional não tenha dúvidas, define, define-a!
sobre PG , caro F Santos, você demora a perceber o que significa este individuo na classe docente. Simplesmente um freudiano perverso poliformo. Ou se quiser, a crónica de uma fraude de quem rasgou retrato e perdeu identidade, só isso.
Este indivíduo boçal filtrado faz-me riso de pena e não sei a que propósito, faz-me sistematicamente lembrar a “Parpuga” do Michaux
Vargas,
os guardiões das vacas sagradas andam por aí…
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