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Numa entrevista(*) concedida a Philippe Fritsch, e relacionada com a sua conferência «Propos sur le champ politique», Pierre Bourdieu explica com detalhe que uma instituição, uma pessoa, um actor, só existe num campo quando produz efeitos nesse campo.
Clarificando um pouco mais o conceito, e fazendo a ponte com o poder dos media, Bourdieu acrescenta que um dos factores determinantes para a existência de um actor no campo político é o seu reconhecimento pelos jornalistas.
Dito de outro modo, o que não é reconhecido pelos jornalistas não é noticiado, e o que não é noticiado não tem existência no campo.
Numa altura em que à palavra dita e escrita na comunicação social tradicional, podemos e devemos juntar a que é publicada na Internet, seja nas páginas electrónicas dos OCS, seja em blogues, fóruns e outras redes de utilizadores, podemos ser tentados a acreditar que o que não seja aí divulgado nunca tenha existido. E no entanto tanta coisa acontece sem ser noticiada.
Vem isto a propósito do evento hoje realizado em Lisboa, por iniciativa da FENPROF e que, na pesquisa que realizei por jornais online e nos blogues mais activos na defesa dos professores, da escola pública e da gestão democrática, só vi mencionado pelo JN e, como é natural, pela própria FENPROF
Para a generalidade dos professores, e sobretudo para todos os que se alegram a afirmar que tudo o que existe de errado na escola pública se deve à omissão, distracção, e outras coisas terminadas em ão, que atribuem à FENPROF, a brilhante conferência proferida por Licínio Lima não existiu. Para esses professores e profbloguers, Licínio Lima não explicou, com a clareza e o brilhantismo habituais, que o ataque à gestão democrática começou em 1976 e teve como primeira figura o ministro soarista Mário Sottomayor Cardia.
Tal como não existiu a intervenção patética da deputada Rosalina Martins (PS), durante a qual se tentou justificar o injustificável e branquear o desastre educativo protagonizado pelos governos Sócrates. E não existiram a intervenções claras e acutilantes de Ana Drago e de Miguel Tiago, deputados do BE e do PCP, respectivamente, ou a intervenção em que João Prata, deputado do PSD, procurou fugir entre os pingos da chuva, para não se molhar neste temporal (des)educativo em que o seu partido partilha responsabilidades políticas com o “socialismo na gaveta” do PS.
Dessa forma, não tomando conhecimento do que se passa à sua volta, os cristãos novos que se arvoram em defensores estrénuos, intrépidos e valorosos dos professores poderão amanhã continuar a proclamar aos quatro ventos que “os sindicatos andam a dormir” e não fazem nada pela escola pública.
(*) Bourdieu, P. (2000). Propos sur le Champs Politique, Presses Universitaires de Lyon