O processo de reorganização da rede escolar em curso (PRREC), vulgo “Mega-Amontoar os Agrupamentos”, desencadeado pelo governo “socialista” de José Sócrates, que será continuado pelo governo “social-democrata” de Passos Coelho, tem sido denunciado pela Fenprof – organização sindical mais representativa dos professores -, mas também por muitos “profbloguers” como o Ricardo Montes, Mário Carneiro, Miguel Reis, Paulo Prudêncio, Miguel Pinto, Ramiro Marques, Paulo Guinote ou Matias Alves. Acredito que muitos outros professores, seja através da Internet, seja por outros meios, têm procurado contribuir para um debate que é urgente e do qual depende muito do que será a provisão do bem público educativo no nosso país.
O texto do Matias Alves, sem que este meu destaque signifique menor consideração pelos restantes nomeados, parece-me ser o que sintetiza e sistematiza de forma mais conseguida a crítica que se pode fazer ao projecto do governo, tanto no que se refere às questões de ordem pedagógica, como de ordem organizacional. Ainda assim penso que lhe falta um outro olhar (com a licença do Miguel Pinto) que é o da intencionalidade política da medida.
É que toda a argumentação que temos usado contra os mega-amontoados se situa no plano pedagógico e faz algumas incursões pelo plano da administração e da gestão das organizações. Quando me parece que temos que introduzir a análise política, em busca de uma intencionalidade ideológica por trás desta decisão política.
Sabemos que o cânone neoliberal aponta para uma redução das funções do Estado às dimensões de representação, segurança e justiça. Sabemos que, na actual conjuntura, as funções sociais do Estado, nomeadamente a Saúde e a Educação, são encaradas pelas elites políticas como bens potencialmente transacionáveis. Conhecemos as parcerias público/privadas que floresceram nos últimos anos na área da Saúde. Ouvimos falar, no campo educativo, na crescente influência que a “Parque Escolar” tem na gestão do património edificado do ME.
- Manter actualizado o cadastro, bem como o registo e diagnóstico do estado de conservação das escolas e demais património que lhe seja afecto;
- Conceber, desenvolver e gerir unidades de negócio destinadas a potenciar receitas de exploração das escolas secundárias e a valorizar o património afecto ao Ministério da Educação;
- Assegurar a participação e colaboração com outras instituições nacionais e internacionais no âmbito das suas competências;
- Promover a comunicação e o apoio ao utente, na perspectiva de satisfação do serviço público escolar.
A tua análise é muito útil para considerarmos a complexidade das questões actuais na política educativa. E coloca no “lugar” as diferentes dimensões do problema, como a ideologia, a economia, a pedagogia, etc. Temos que estar atentos à sua posição hierárquica na construção quer dos problemas, quer das soluções pelos nossos governantes… Hoje não é fácil compreender as “medidas” educativas porque elas caem sobre nós, em catadupa, mas também porque, sob os discursos “técnicos” se torna mais difícil identificar as motivações ideológicas. Os “mega-agrupamentos” são apenas um dos casos… e estou de acordo que esta medida trará consequências irreparáveis ao funcionamento das escolas. O que me entristece é verificar a inércia dos professores, como se já muitos tivessem desistido de compreender… o problema é que esta atitude também se reflecte na aprendizagem das crianças. O pensamento crítico tornou-se um bem escasso. Onde já se viu isto? Em Portugal conseguimos viver assim durante 48 anos…
Obrigado Isabel,
os caminhos da reflexão nem sempre são fáceis.
A escassez do tempo para ler, debater e reflectir é consequência do modelo de desenvolvimento desta sociedade mercantil e consumista.
Uma parte daquilo que designas como «inércia dos professores, como se já muitos tivessem desistido de compreender… » tem a sua raiz na luta quotidiana contra essa falta de tempo, que é mais premente nas classes trabalhadoras e exploradas pelo capital financeiro.
Àqueles que, como nós, tiveram e têm a felicidade de poder ser um pouco “donos do seu tempo”, compete não esquecer as suas origens e colocar a reflexão ao serviço desta luta.
Pois é Francisco, está clarinho como água, só não vê quem não quer!
E o nosso SPGL anda a fazer o quê?
Hoje ouvi nas notícias da Antena 1 que o SPRC convocou uma manifestação para Viseu, há dias vi na televisão uma manifestação em Vilar Formoso com Professores Pais e Alunos, contra todo este problema que desaba sobre nós Professores e a Escola Pública mas não só . Será que só eles é que estão conhecedores da situação?
Um bem hajas pela forma clara e esclarecida como vais pondo os pontos nos iiiis.
Um Abraço
João Rato
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