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Terminado o episódio das actas, já está na agenda dos mais indignados defensores da escola pública e dos direitos dos professores mais uma batalha. Provarem que “os sindicatos” andam a dormir a propósito da gestão escolar e do reordenamento da rede.
É que a generalidade dos activistas anti-Fenprof, ou não sabem aceder ao seu site (ou dos sindicatos que a integram), ou têm medo de ser inoculados com algum veneno comunista que passe através do éter e os infecte. Nem quero crer que lá vão e fingem não saber ler, para não verem tudo o que nessas matérias tem sido protagonizado pelos sindicatos mais representativos dos professores.
Demonstrar que essas acusações de “distracção” dos dirigentes são injustas, para não dizer mentirosas, é fácil. Basta citar algumas das coisas que são públicas e de acesso aberto a quem não quiser ser cego.
Reunião da Fenprof com o Conselho Nacional de Educação e o SEAE em 14 de Junho:
- Reordenamento da rede escolar (encerramento de escolas, constituição de mega-agrupamentos e envolvimento do ensino privado na definição da rede para o próximo ano escolar);
- Regime de gestão das escolas que sobreleva lógicas administrativas a interesses pedagógicos e restringe ou impede a participação democrática dos agentes educativos;
- Reorganização Curricular e a necessidade de serem evitadas medidas avulsas e, sobretudo, sujeitas a desígnios economicistas traduzidos na redução do número de horários e professores nas escolas;
- Regras para organização do próximo ano escolar e calendário escolar, cujo atraso na divulgação dos projectos de despachos começa a ser problemático para as escolas que necessitam de preparar o ano 2010/2011;
- Regime de Educação Especial que retirou, em apenas dois anos, os apoios especializados a mais de 21.000 alunos;
- Regime de Formação Contínua de docentes e a necessidade de serem reformulados, não apenas o regime, mas as regras de financiamento, de forma a que a formação contínua constitua, de facto, um dever, mas também um direito de todos os professores;
- Ensino Profissional e a necessidade de reformular uma via que não pode ser uma alternativa desqualificada do percurso escolar;
- As Actividades de enriquecimento curricular e a necessidade de alterar um modelo que é errado, mas que persiste com prejuízo para as crianças;
- Ausência de medidas para combate aos problemas de indisciplina e violência na escola, depois de alguns compromissos tornados públicos na sequência de situações que foram recentemente mediatizadas;
- Preocupação com publicação do novo ECD que, foi esclarecido pelo SEAE, ainda se encontra na Presidência da República aguardando promulgação;
- Horários de trabalho dos docentes, exigindo-se regras que promovam a sua organização sob critérios de ordem pedagógica já em 2010/2011;
- Precariedade, sendo reafirmada a necessidade de um concurso, em 2011 (conforme compromisso assumido pelo ME) que garanta a integração nos quadros por parte de todos os docentes que continuam, nas escolas, a satisfazer necessidades permanentes de forma precária, o que é ilegal. Foi ainda exigido que o ME tome medidas que eliminem todas as situações ilegais de “recibos verdes” que se mantêm, nomeadamente no âmbito da actividade desenvolvida por docentes nas AEC;
- Condições de trabalho, tendo a FENPROF colocado a necessidade de serem tomadas medidas que contribuam, significativamente, para a melhoria das condições de trabalho nas escolas, quer para docentes, quer para alunos e pessoal não docente.
Viva Francisco.
Neste momento deste longo processo só me resta a seguinte conclusão: a má burocracia e a disputa de minutas invadiu de vez a mesa de negociação.
Não se entende? Basta ler, por exemplo, com atenção este pressuposto: “Regime de gestão das escolas que sobreleva lógicas administrativas a interesses pedagógicos e restringe ou impede a participação democrática dos agentes educativos;”
Duvido mesmo que saibam do que falam. Desculpa a falta de humildade.
A luta é longa e difícil, já sabíamos. Se dependêssemos apenas da mesa de negociação, estávamos como em Maio de 2008 e depois em Março de 2010: num registo pardacento.
Não querer sequer equacionar isto é para mim o maior dos enigmas; ou talvez não.
Abraço.
Meu caro Paulo Prudêncio
Sei bem do trabalho que desenvolveste na gestão da tua escola e de como ainda hoje é valorizado por quem contigo trabalhou durante esses anos.
Também sei que o trabalho dos “práticos” é demasiadas vezes oposto ao dos “teóricos”. Não só na educação e nas escolas, mas em muitas outras actividades. Veja-se muitas das críticas que são dirigidas ao “Doutor Professor” Queiroz.
Por mim prefiro tentar conciliar as duas visões, mas sei que é uma posição que agrada pouco a qualquer dos campos.
No fundo o que me parece é que falta aos “práticos” o trabalho reflexivo que permite antecipar e corrigir erros de perspectiva, enquanto aos “teóricos” falta, por vezes, meter as mãos na massa, para melhor entender os códigos de quem todos os dias tem que dar as respostas necessárias.
Acontece que, ao contrário do discurso demagógico que vende bem na opinião pública mal informada, os “sindicalistas” não são teóricos da acção. Pelo menos na nossa federação, são professores que todos os dias têm alunos à sua frente e encontram colegas nas salas de professores.
Abraço 🙂
Meu caro Francisco Santos.
Nem considero isto uma discussão. Nem percebo essa dicotomia “futeboleira”. Normalmente acusam-me de ser demasiado reflexivo 🙂
Mas que seja.
Como não queres sair desse registo de “guerrilha” e como para esse peditório não dou, que te posso dizer mais?
O tal parágrafo que salientei é apenas mais um exemplo da falência técnica e política do discurso, qualquer que seja a perspectiva.
Abraço.