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Depois da entrevista de P. Rangel ao I online, que já referi em posts anteriores, o Ramiro relançou-se na sua cruzada pela exigência e pela defesa dos exames, enquanto varinha mágica para devolver a qualidade ao ensino. A alguma distância, mas não com menor entusiasmo, o Octávio também se junta à defesa das posições do candidato a líder do PSD (e, em consequência, do país).

Não sei, porque eles não disponibilizaram ainda, em que bases se fundamenta essa defesa da “exigência” e do “rigor”, através dos exames.

Afirmar que a equidade e a igualdade de oportunidades no acesso ao saber e à cultura é uma tarefa da escola é aceitável. Não é aceitável é sugerir que isso se consegue sem a intervenção de outros actores sociais e, sobretudo, à custa da introdução de exames nacionais.

Se, no post anterior, deixei uma referência que contradiz o argumento de que os exames e a seriação das escolas são importantes para que as famílias escolham a escola dos seus filhos, através dos resultados escolares e dos rankings que deles resultam, neste pretendo chamar a atenção para outro estudo, que identifica uma das maiores causas de desigualdade na oportunidade de obter sucesso escolar – o currículo não escolar, que depende do meio familiar e social que rodeia as crianças antes da escolarização.


Children from poor families are already a year behind in vocabulary tests when they start school, according to research published today.
It reveals the full impact of upbringing and home life on attainment, and how those from troubled or impoverished homes can fall behind at a young age. Many never catch up with better-off classmates and become stuck in a cycle of underachievement.
The report, by the Sutton Trust, highlights the importance of activities such as bedtime stories and taking children to museums and libraries. In isolation, these appear to have a bigger impact on progress than wealth.
Se a pobreza, por si só, não impede que alguém leia uma história a uma criança, antes de ela adormecer, ou de a levar a alguns museus ou bibliotecas com acesso gratuito, a verdade é que pais que saem de casa de madrugada e regressam já noite fechada para garantir a sobrevivência da família, dificilmente têm disposição para o fazerem.
A frequência de jardins de infância, em que algumas destas actividades sejam realizadas, ajuda a atenuar o problema. A questão é que a cobertura da rede pública só recentemente atingiu números próximos dos 100% para as crianças de 5 anos.
Até essa idade as crianças mais pobres continuam a não ter qualquer acesso a esse currículo  e não será, com toda a certeza, sinónimo de “equidade” encaminhá-las para cursos profissionais aos doze anos, depois de não lhes ter proporcionado meios que “as motivem” para o estudo antes dos cinco.