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Encaminhado por um post do José Luiz Sarmento cheguei à prosa de um prosélito de Pinto de Sousa, Carlos Santos de sua graça, professor universitário de economia de profissão.
Antes de passar às certezas de Carlos Santos, devo dizer que tal como José Luiz Sarmento não voto PS porque sou professor. E acrescento que concordo com quase toda a argumentação com que desmonta os pressupostos do professor universitário de economia, excepto no que se refere à proposta das turmas e escolas de nível. Essa é uma diferença inultrapassável, pelo carácter elitista, exclusivista e potenciador de injustiça social que está na base de tal proposta.
Mas o cerne da questão é o texto do professor universitário de economia Carlos Santos, a quem sobra em estultícia e arrogância doutrinária o que falta em experiência docente e conhecimento do sistema público de educação básica e secundária.
O texto de Carlos Santos é longo e a sua prosa escorreita. Espraiando-se por cinco pontos, o autor vai dissertando sobre o seu entendimento do que é um bom professor, aproveitando para fazer o elogio do negócio da JP Sá Couto e do seu Magalhães, ou das múltiplas empresas de prestação de serviços que alugam professores às escolas, pagando a estes profissionais qualificados salários de empregadas domésticas, como é o caso das aulas de Inglês e outras AEC’s.
No meio de todo o arrazoado em defesa da argumentação que o PS, o 1º ministro e a equipa da educação foram utilizando para justificar o ataque e ofensa pessoal aos professores, o nosso professor universitário de economia acaba por espalhar-se ao comprido com uma afirmação em que demonstra a sua incapacidade de perceber o que é e para que serve a avaliação em educação.
Carlos Santos (usando exactamente a mesma cartilha dos seus camaradas, que por acaso neste particular até coincide com a dos partidos da direita) afirma: «Uma avaliação baseada no mérito é o âmago da educação. É isso que queremos avaliar aos alunos. A função do sistema de avaliação de alunos é premiar o mérito. E penalizar o demérito, quando exista.»
Não meu caro professor universitário de economia, a função de um sistema de avaliação de alunos não é penalizar o mérito, a não ser que se esteja a falar do velho liceu salazarista e elitista, que o senhor e os seus camaradas dizem contestar.
Numa escola que tem a ambição de acolher todos os alunos, independentemente da sua origem social, económica, religiosa, de género ou nacionalidade, a avaliação serve para orientar o trabalho de alunos e professores, de maneira a que todos alcancem os conhecimentos e as competências básicas para serem cidadãos de pleno direito.
Na escola do seu imaginário, que é também a do imaginário da direita, a avaliação tem uma função de classificação e seriação. Na escola de massas, na escola para todos, a avaliação tem uma função de diagnóstico e controlo dos processos de aprendizagem, que lhe dá um carácter predominantemente formativo.
É por isso e só por isso que o conceito de “reprovação” faz pouco sentido. Só que isso implica outra organização escolar que não se compadece com a escola aos quadradinhos que temos, em que exigimos que todos aprendam as mesmas coisas ao mesmo tempo, sem respeitar a diversidade.
É também por isso que os professores não podem votar no PS, porque este foi o governo que mais se empenhou no controlo centralizado e na difusão da aplicação de normas universais, onde devia imperar a autonomia respeitadora das diferenças.
Aqueles que arranjam mil e uma argumento para que tudo fique na mesma, que se iludem com a afirmação de que faz toda a diferença simplesmente olhar para a outra face da mesma moeda, aqueles que não querem ver a conhecida duplicidade do PSD, tal como o PS, para todos esses aqui fica, é um caso recente.
Infelizmente, será pregar no deserto. Mas poderá haver sempre alguém…