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Qualquer cidadão medianamente informado tem noção que, no mercado eleitoral, o voto dos professores tem um peso significativo. São cerca de 140 a 150 mil votos directos, mais umas centenas de milhar de votos que indirectamente podem ser influenciados pela acção de cada professor, junto de familiares e amigos.
Ao longo dos dois últimos anos houve um conjunto de três “movimentos independentes” constituídos por professores que ganhou alguma expressão e exposição mediática – Apede, MUP e ProMova (por ordem alfabética, para não ferir nenhum ego mais exacerbado) – aos quais é necessário acrescentar o “movimento unipessoal” do Paulo Guinote, que tem tantos ou mais seguidores do que os outros três movimentos juntos.
Numa conjuntura de disputa eleitoral renhida, em que o resultado final é incerto e existe uma real possibilidade de fazer inflectir a governação para o campo da esquerda (como nunca aconteceu desde que Mário Soares tomou posse como 1º ministro em 1976), torna-se natural que este protagonismo mediático seja aproveitado em benefício das ideias dos actores.
Só que existe aqui um “piqueno” pormenor: todos estes actores andaram a jurar a pés juntos a sua independência e equidistância relativamente aos partidos, o que os devia obrigar a não dar qualquer indicação de voto. No entanto não é isso que se passa, se tivermos em atenção o que é veiculado pelos respectivos responsáveis.
Deixando de lado o caso do Umbigo do Paulo Guinote, que faz gala em demonstrar que não é rotulável politicamente, vejamos em que pé anda a “independência” dos movimentos “independentes” de professores.
Em 1 de Junho os três movimentos deram a conhecer publicamente um documento, a que pomposamente chamaram “Compromisso Educação”.
Nesse compromisso estão inscritas as reivindicações corporativas dos professores, que se centram na exigência da valorização do prestígio e autoridade dos professores, na revisão do ECD com o fim da divisão da carreira, na consequente substituição do modelo de ADD com a abolição de quotas, na revisão do modelo de gestão de forma a garantir maior peso e representatividade aos professores, na garantia de estabilidade profissional e manutenção dos concursos nacionais e na necessidade de revisão do Estatuto do Aluno no sentido de maior responsabilização das famílias e alunos, facilitando o trabalho docente e “devolvendo autoridade” aos professores.
Numa altura em que foram (finalmente) divulgados os programas dos partidos concorrentes às eleições, o que nos dizem os movimentos independentes?
Tentando preservar alguma independência, a Apede não deu (até ao momento) qualquer indicação de voto, muito embora tenha dado sugestões de não voto. Para além de afirmações repetidas de que os professores não deverão votar neste PS, no blogue da Apede surgiu um comentário ao programa do PSD que também não é muito abonatório desse partido. No entanto, e apesar de tudo, parece conservar-se aqui alguma equidistância e independência partidária, não sendo lícito afirmar que a Apede indica um voto mais à esquerda ou mais à direita.
Já o MUP, aconselhando também a não votar neste PS, aparece agora associado a uma tal Força Emergente e a um Movimento Cidadania Europeia, que no seu blogue afirma A FORÇA EMERGENTE pretende lutar pela instauração de um novo sistema político e económico em que se diminuam as desigualdades – uma 4.ª REPÚBLICA. Convenientemente, não se diz uma palavra sobre que sistemas político e económico novos são esses, nem quem serão os figurões que o irão aplicar. Enfim, populismo e inconsequência política na sua máxima expressão.
Finalmente, o ProMova de Octávio Gonçalves (que na sua primeira aparição mediática, no programa de Fátima Campos Ferreira, declarou a injustiça de não ter conseguido chegar a titular por não lhe terem sido contados os pontos dos anos em que esteve a fazer o seu doutoramento), anuncia explicitamente a indicação de voto à direita. De preferência no PSD, mas aceitando também o voto no CDS:
No meio de tudo isto, onde fica a defesa da Escola Pública, Democrática, Inclusiva, que seja factor de coesão social e de promoção da cidadania plena? Que espécie de “compromisso educativo” é este, em que todas as reivindicações se resumem à defesa de interesses de uma das partes, ainda por cima quando quem diz representar essa parte na elaboração do compromisso não foi mandatado pelos seus colegas?
Ao contrário do que a “independência” apregoada por estes movimentos insinua, a defesa da Escola Pública não é compatível com o apoio a políticas de direita. É por isso que quando se diz que os professores não devem votar neste PS, se deve esclarecer que não o devem fazer porque o PS (não este, porque também não existe outro) tem sido o mais fiel executante das políticas de direita, sugeridas e impostas pelas instâncias de regulação supranacional. Desde os compromissos com o BM e o FMI, passando pela aplicação diligente das políticas da CEE/UE, o PS sempre foi mais papista do que o Papa. Por isso não vale a pena falar deste PS, até porque Pinto de Sousa foi eleito e manda no PS porque os militantes do PS assim o quiseram e continuam a querer.
Francisco,
Sem querer como minhas as dores alheias, chamo-te a atenção para estes dois posts do blogue do PROmova:
http://movimentopromova.blogspot.com/2009/08/compromisso-educacao-programa-eleitoral.html
http://movimentopromova.blogspot.com/2009/07/bloco-de-esquerda-assume-no-seu.html
Parece-me que estes textos falam por si, revelando que o teu comentário sobre a falta de independência do PROmova é, no mínimo, “precipitado”.
Pois Mário, por vezes é melhor não tomar mesmo dores alheias, até porque para lá dos posts a que fazes referência, o Octávio Gonçalves também escreve(u) outras coisas, noutros locais, como por exemplo o que se segue, numa lista de que fazem parte muitos professores: «desculpa que te diga mas não percebeste nada do conteúdo do Comunicado (qual é a tua alternativa? Os professores não votarem e viabilizarem por ausência um novo governo Sócrates? Votarem em partidos residuais que não conseguem eleger um único deputado e influenciar, na prática as decisões e a governação?), além de que finges ignorar as razões que indignaram os professores e os trouxeram para a rua e para esta contestação (como foi o meu caso).»
Por outras palavras, para OG não vale a pena votar “em partidos residuais”, sendo que só depois das eleições saberemos se são residuais ou não. No limite, o sistema poderia reduzir-se a dois partidos – a situação e a oposição – o que na actual conjuntura se traduziria em PS e PSD.
Só que a oposição é muito mais que o PSD e existem outros partidos, com outras propostas, em quem os eleitores podem votar.
Ao contrário do que achas, não penso que os textos falem por si. Os textos, sejam publicados onde forem, falam pelos seus autores e dizem o que esses autores querem que os leitores pensem. Só que depois de publicados os textos passam também a pertencer a quem os lê e lhes dá o entendimento propiciado pelas as suas próprias lentes.
Caro Francisco Santos,
Tomei agora mesmo conhecimento do seu texto e do seu comentário, pelo que amanhã, pois hoje tenho coisas mais importantes a tratar, terei todo o prazer de desmontar a desinformação, as falácias e os equívocos que suportam a sua análise. Por agora, só lhe quero dizer que não percebeu o sentido dessa citação que retirou da lista escola pública, pois numa resposta ao Manuel Baptista eu referia-me aos pequenos partidos que não conseguem eleger um único deputado, pelo que, como é óbvio estava a pensar no POUS, no MRPP, no MEP, MMS e por aí adiante, porque apelos à votação no BE e no PCP tenho feito com regularidade, como lhe vou provar amanhã. Agora, estava à espera que todos os professores desiludidos com o PS fossem votar no BE ou no PCP? Parece-lhe isso possível?
Amanhã continuo, embora não esteja nada interessado em desperdiçar munições com colegas de luta, pois o nosso alvo comum é Sócrates. Ou não é?
Cumprimentos,
Octávio V Gonçalves
1) Ser docente da escola pública e ser pela escola pública e, ao mesmo tempo, votar no PSD ou no PP, para já não falar no PS, é um contra senso atendendo às posições desses partidos face ao Estado: quanto menos Estado (social) melhor, é a consigna deles.
2) Vários docentes, presos eles próprios das suas limitações ideológicas e preconceitos, deixaram-se enredar nessa historieta dos programas eleitorais, dando crédito ao que escrevem PSD e PP, fingindo não perceber, ou não percebendo mesmo, que novamente se estão a deixar cair no conto do vigário das promessas eleitorais que se fazem para caçar votos e não para cumprir.
De repente, deixou de ter importância o que esses partidos fizeram e foram ao longo de 33 anos, muitos dos quais passados no governo, para aferir da sua credibilidade.
Não, bastou que escrevessem nos seus programas eleitorais (a forma que utilizam no momento para fazer promessas destinadas a caçar votos e não para cumprir) algo do agrado de quem lia para logo serem credíveis.
Como é isto possível?
Sobre os docentes se pode dizer que nunca como hoje debateram o destino a dar ao seu voto. Até aqui, na sua maioria, ia automaticamente para os partidos do centrão – PS + PSD: o PS(D) – e para o seu ajudante PP. Esta é a realidade, não há como negar.
Hoje não, em público ou no (in)sossego da sua consciência interrogam-se sobre a melhor opção a tomar?
No entanto, este desassossego, que já é um avanço, a muitos não vai permitir ainda encontrar o caminho da ruptura com o actual estado de coisas, revelando a disposição de assumir a alternativa que temos de construir.
Não, vão ficar pelo de sempre, pela fogueira para onde fugiram da frigideira.
Será que sonham? Sonham como António Gedeão disse que se devia sonhar?
Octávio Gonçalves,
terei todo o gosto em reconhecer o meu equívoco, se de equívoco ou má leitura se trata.
No entanto quero recordar que, por exemplo, no distrito de Vila Real apenas PS e PSD têm eleito deputados, o que transformaria todos os restantes partidos em “partidos residuais” e não apenas POUS, MRPP, MEP ou MMS como pretendes que se leia no teu texto.
Recordo que o processo de escolha de deputados se faz pelo método de Hondt e círculo eleitoral a círculo eleitoral, o que significa que em cada distrito cada partido apresenta uma lista autónoma das restantes listas nos outros distritos.
Se não houvesse mudanças significativas das escolhas eleitorais poderíamos tentar ir, distrito a distrito, ver qual o partido que nas anteriores eleições esteve mais perto de eleger o último deputado e não o conseguiu fazer, para concentrar aí a votação. Só que as coisas não funcionam desse modo e, ou o cidadão vota em consciência no partido que melhor representa os seus interesses, ou vai na cantiga do voto útil e dá a vitória àqueles em quem não confia.
O resto é música para entreter papalvos.
Em tempo: podes consultar os resultados de cada partido nas últimas legislativas, distrito a distrito, em http://www.eleicoes.mj.pt/legislativas2005/IS/D23/index.html