Na palestra do professor António Nóvoa, a que fiz referência no post anterior, um dos diversos aspectos focados é o da credibilidade da profissão docente.
No texto, que está disponível no scribd, A.Nóvoa aponta várias das causas para o que identifica como “um problema de credibilidade da profissão hoje em dia”: Em primeiro lugar as questões relacionadas com a avaliação e a prestação de contas do trabalho profissional, em segundo a falta de lideranças profissionais e, finalmente, a falta de capacidade de intervenção política.
Relativamente à primeira questão A.Nóvoa alerta-nos para o facto de que “nas sociedades de hoje, seja em que patamar for, não se pode deixar de ter uma dinâmica de abertura das profissões, uma dinâmica de transparência, de rigor, de prestação de contas. E essa dinâmica de avaliação e prestação de contas é, em primeiro lugar, uma dinâmica de prestação de contas para nós mesmos e para os nossos colegas.”
É por isso que não é aceitável que não existam mecanismos de controle dos aspectos éticos, assistindo-se a uma incapacidade de auto-regulação da profissão. Numa sociedade democrática, em que o conhecimento e a informação são bens a que todos os cidadãos devem ter acesso, não é possível que os professores “sejam capazes de conviver por anos com colegas em salas ao lado quando sabem que eles são irresponsáveis, medíocres e incompetentes, sem nada fazerem a esse respeito.”
Quanto à segunda questão, A.Nóvoa lamenta que muitas vezes os melhores professores não sejam reconhecidos, nem pelos seus colegas, nem pelas estruturas institucionais, sobretudo porque poderiam e deveriam ter um papel importante na “integração de jovens professores, que tanto precisariam deles, da sua experiência, do bom senso, do seu saber.”
Finalmente, em relação à terceira questão, embora reconheça que existe alguma capacidade de intervenção a nível sindical, A.Nóvoa considera que os professores falam pouco e têm muito pouca visibilidade social, essencialmente porque não têm capacidade de intervenção nos órgãos de comunicação social, onde é possível comunicar com o exterior e não em circuito fechado.
“Fala-se muito de educação, mas em regra geral não são os professores que falam. A nossa voz hoje é muito ausente do debate educativo. E se quisermos criar uma melhor credibilidade profissional, temos que aprender a ter uma voz e uma intervenção pública mais forte, mais crítica, mais decisiva em função da educação. Creio que é essa voz que nos permite em parte ganhar esse espaço público da educação. Ganhar essa dimensão do apoio da sociedade ao trabalho da escola. É preciso ganhar a confiança da sociedade para o nosso trabalho, ganhar maior credibilidade pública. É preciso conquistar a sociedade para o nosso trabalho.
Temos que construir uma nova profissionalidade docente e que esteja também baseada numa forte pessoalidade. Na educação não é possível separar a dimensão da profissionalidade da dimensão de pessoalidade e isso implica em um compromisso pessoal, de valores, do ponto de vista da profissão. É nesse sentido que julgo que nós podemos e devemos caminhar no sentido de celebrar um novo contrato educativo com a sociedade, que passa também pela reformulação da profissão. Pois com certeza, não haverá sociedade do conhecimento sem escolas e sem professores. Não haverá futuro melhor, sem a presença forte dos professores e da nossa profissão.
Podem inventar tecnologias, serviços, programas, máquinas diversas, umas a distância outras menos, mas nada substitui um bom professor. Nada substitui o bom senso, a capacidade de incentivo e de motivação que só os bons professores conseguem despertar. Nada substitui o encontro humano, a importância do diálogo, a vontade de aprender que só os bons professores conseguem promover. É necessário que tenhamos professores reconhecidos e prestigiados; competentes, e que sejam apoiados no seu trabalho, o apoio da aldeia toda. Isto é, o apoio de toda a sociedade. São esses professores que fazem a diferença. É necessário que eles sejam pessoas de corpo inteiro, que sejam profissionais de corpo inteiro, capazes de se mobilizarem, de mobilizarem seus colegas e mobilizarem a sociedade, apesar de todas as dificuldades.”
Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo – Palestra de António Nóvoa ao SINPRO-SP, Outubro de 2006