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Gerir a diversidade

19 Quinta-feira Mar 2009

Posted by fjsantos in ética, bem público

≈ 5 comentários

A “estória” do contentor, transformado em “sala de aulas étnica”, que tem indignado muita gente e que já obrigou a ME a uma intervenção de emergência, é ilustrativa de como há “lideranças” que não sabem o que andam a fazer, apesar de serem tidas como “lideranças fortes”.

O problema que estalou agora em Barqueiros é importante pelo mediatismo que lhe está associado, e porque esse mediatismo pode ajudar a trazer para a agenda a discussão sobre a gestão da diversidade, que é algo de extremamente actual e constitui o maior desafio que se coloca, hoje em dia, à Escola Pública.

Na verdade, tanto no contexto europeu como no nosso país existe muito pouca investigação empírica sobre a diversidade e a gestão da diversidade, em contexto de liderança organizacional escolar, apesar da retórica sobre o empenhamento dos líderes educativos no que às questões da diversidade e a justiça social diz respeito.

O senso comum leva-n0s a colocar o foco nas abordagens relacionadas com a “igualdade de oportunidades” enquanto geradoras de direitos legais e de equidade, o que se traduz quase exclusivamente na criação de regras e regulamentos com vista à diminuição das desigualdades.

Um trabalho interessante sobre o tema da  Diversidade e Gestão da Diversidade em contexto organizacional é o artigo de Morrison, Lumby e Sood realizado em 2006. [Morrison M., Lumby J., Sood K. (2006), Diversidade e Gestão da Diversidade – Mensagens de Pesquisa Recente. In: Educational Management Administration & Leadership, SAGE Publications – Vol. 34 (3). pp 277-295.]

O artigo aborda a diversidade e a gestão da diversidade consideradas no contexto organizacional como uma forma de promover comportamentos individuais e acções que criam um ambiente propício à emergência da diversidade, tendo em conta as diferenças de cultura, de estilos de trabalho, de pensamento, de idade, de raça, de género, de orientação sexual.

O termo diversidade tem várias conotações, mas normalmente aparece associado aos indivíduos ou aos grupos que são vistos como “diferentes” ou como “o outro”. Essa visão tem-se relacionado quase sempre com uma desvantagem individual ou múltipla quanto ao género, à etnicidade ou à incapacidade (handicap), o que levou a uma perspectiva restrita da diversidade, traduzida nas primeiras legislações sobre igualdade de oportunidades.

Hoje em dia existem perspectivas mais abrangentes da diversidade, que incluem uma gama de critérios como a idade, origem nacional e/ou regional, estilos de vida, crenças, aspecto físico, classe social, estatuto económico.

A “igualdade de oportunidades” foi fundada na crença de que se todos fossem tratados da mesma forma seria possível alcançar resultados justos. No entanto existe um erro em considerar igualdade de acesso e igualdade de resultados, ignorando a construção social da educação, as suas disposições institucionais e influências externas. Já o conceito de “inclusão” (que é distinto da “integração”) sugere que as diferenças sejam consideradas como um recurso que permite o desenvolvimento individual e do grupo, bem como a melhoria da prática organizacional, pelo que se torna necessário ter em atenção duas perspectivas para uma definição alargada de diversidade: uma perspectiva restrita que é característica das primeiras legislações sobre “igualdade de oportunidades” e uma perspectiva mais ampla, que inclui outros critérios tais como a idade, incapacidade, origem nacional, estilos de vida, aspecto físico, classe social e estatuto económico.

A diversidade foca a atenção na variedade e diferenças inerentes aos indivíduos e aos grupos, assumindo-se que requerem abordagens ou tratamentos diferentes e variados enquanto membros da organização.

Este é sem dúvida um dos maiores desafios com que se confrontam as sociedades contemporâneas e, em particular, as organizações educativas que no seio dessas sociedades pretendem garantir o serviço público de educação, dando resposta à diversidade dos intervenientes e interessados na actividade organizacional.

Num momento em que o modelo de escola em que se podia ensinar a muitos como se fosse um só já não encontra correspondência com a realidade quotidiana, parece imprescindível que cada organização escolar possa construir o seu projecto educativo próprio, como forma de dar resposta às múltiplas necessidades e interesses da comunidade que serve.

A resposta à diversidade cada vez maior, quer por parte das crianças e jovens que acedem à escola, quer por parte dos restantes actores que se movimentam no seu interior, tem que atender a essa diversidade. Nesse sentido deveremos falar de respostas diversas, que partindo da identificação dos problemas concretos vividos por cada comunidade escolar, definam prioridades e desenvolvam os planos de acção que sejam considerados adequados à situação.

Olhando para a escola como um lugar em que, por um lado se confrontam interesses, e por outro lado os alunos e os outros membros constroem a sua identidade através da pertença ao grupo, dos laços de solidariedade e da partilha de um bem comum, torna-se necessário que as escolas disponham de espaços de mediação e regulação dos diferentes interesses e expressões de diferentes legitimidades.

Este novo olhar sobre a escola pressupõe a existência de mudanças significativas no interior da organização e, em particular, na forma como os professores e as lideranças escolares se posicionam face à diversidade dos públicos que acedem à escola. O modelo de regulação burocrático-profissional, que desde sempre acompanhou o crescimento e a consolidação da escola pública de massas, não dá hoje resposta à diversidade de situações com que cada escola se defronta, uma vez que os problemas são específicos de cada contexto, de cada comunidade, não sendo possível reproduzir acriticamente as soluções encontradas noutros contextos, por outros actores.

É também por tudo isto que a balela da “discriminação positiva”, que se traduziu na instalação de crianças e jovens de um grupo étnico específico num contentor/monobloco, tem que ser percebida como um acto de gestão errado e socialmente perigoso, concebido e executado por uma liderança que pode ser “musculada”, mas é tudo menos uma liderança inteligente e aedquada ao contexto educativo.

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