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Como referi em entrada anterior assisti ontem ao debate sobre Educação, que se realizou no fórum «Democracia e Serviços Públicos».
As notícias que vi na CS sobre o evento parecem-me de grande pobreza e limitadas por uma visão “pêésseocêntrica”, que revela o que de pior existe no jornalismo que temos.
Na verdade, a referência à presença na sala de Manuel Alegre e das deputadas do PS Teresa Portugal, Eugénia Alho e Júlia Caré, nada acrescentam ao relato sobre a reflexão que ali foi feita, sobre as políticas públicas de educação que o governo Pinto de Sousa vem aplicando, na esteira do que foi começado por governos anteriores, de acordo com as orientações das agências de regulação transnacional e com o papel reservado ao nosso país no movimento de globalização capitalista.
Já fiz uma breve referência à intervenção do Professor Licínio Lima, cuja análise foi de uma clareza e profundidade brilhantes, o que só por si justificou a realização do debate. Mas também a intervenção do Professor Nuno David foi elucidativa das intenções privatizadoras do Ensino Superior por parte do governo. E a intervenção da deputada Cecília Honório, que mostrou de forma clara como o modelo educativo deste governo tem uma preocupação central: qualificar a mão de obra necessária às empresas, preparando-a para aceitar a incerteza do mundo global, mas despojando-a do sentido crítico e reflexivo, que permite aos indivíduos intervirem sobre esse mundo em mudança e sobre as suas incertezas.
No meio disto, o relevo que foi dado à afirmação de António Avelãs que fez a defesa da avaliação dos professores e de uma diferenciação entre eles, admitindo que «muitos são bons», outros «acima da média» e outros ainda «abaixo da média», e que «Há quem pense que os professores não podem ser avaliados, mas isso é um suicídio político», parece-me despropositado e apenas entendível por falta de preparação dos jornalistas que fizeram a cobertura do evento.
Mas a própria afirmação de António Avelãs: «Há quem pense que os professores não podem ser avaliados, mas isso é um suicídio político» não faz sentido quando ouvida pelos professores que quotidianamente trabalham nas escolas. É que a avaliação dos professores, enquanto processo que permita induzir melhorias no serviço público de educação, não está nem esteve em causa da parte de quem está no terreno. O que deveria ter sido referido é que a avaliação das pessoas (professores e funcionários) tem que fazer parte de um processo de avaliação mais amplo, que é o da organização escola e das políticas educativas definidas centralmente.
Mas a intervenção de António Avelãs incluiu outros aspectos que “escaparam” aos jornalistas, nomeadamente as críticas à privatização das AEC’s, à proletarização dos professores e animadores da escola a tempo inteiro, à certificação sem qualidade dos programas novas oportunidades, etc, etc. Mas sobre isso a CS foi e é convenientemente omissa.