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A espécie de birra em que ameaça transformar-se a questão da marcação de uma manifestação nacional de professores, no mês de Novembro, tem a envolvê-la um conjunto de ideias que não resitem a um questionamento um pouco mais rigoroso, a saber:

  1. Os sindicatos não fazem nada em defesa dos professores e não os representam;
  2. Os professores impuseram uma data para a manifestação e dois movimentos independentes foram mandatados para desencadear os mecanismos legais para a respectiva autorização;
  3. Os sindicatos (plataforma), sem qualquer legitimidade e sem mandato expresso, marcaram uma reunião para a semana anterior apenas por despeito e estão a dividir os professores.

Vejamos então, ponto por ponto, porque é que esta argumentação é pouco rigorosa e assenta em pressupostos falsos.

 

  • Desde o segundo período do ano lectivo passado que os sindicatos (plataforma) têm mantido uma voz única, tendo obtido a simplificação do processo avaliativo, a possibilidade da sua renegociação, melhores condições de trabalho em termos de horários (não apenas para os avaliadores mas também para os restantes professores). O despacho com instruções para a elaboração de horários continha ganhos importantes para muitos professores, na maior parte das escolas. Se esses ganhos não foram efectivados, porque os PCE’s e as comissões de horários não cumpriram o despacho, isso não é imputável aos sindicatos, mas aos professores que estão no terreno.
  • Um dos argumentos mais usados, que inclusive aparece estampado no blogue da Apede, é que os movimentos não marcaram a data: Como toda a gente sabe, a ideia da manifestação do dia 15 de Novembro não partiu da APEDE. Ela surgiu por iniciativa de alguns professores isolados e foi fazendo o seu caminho até se tornar quase incontornável.
  • Deixando de lado a questão de saber porque é que a reunião nas Caldas foi marcada para dia 11 de Outubro, três dias antes da reunião entre a plataforma e o ministério, e não para dia 18, apenas quatro dias depois da citada reunião (altura em que todos saberíamos se tinha havido algum resultado e qual) fica a saber-se que um grupo de professores isolados, que não fica claro mas parece nem pertencerem aos movimentos que encabeçam a manifestação, têm a legitimidade necessária e suficiente para decidir quando, onde e sob que bandeiras devem (todos) os professores portugueses manifestar-se .
  • Segundo se pode ler num dos muitos comentários espalhados em blogues (e até em posts assinados por gente geralmente reconhecida como séria e bem (in)formada): «É de facto surpreendente que quem esteja a dividir a luta dos professores sejam os sindicatos. Por que motivo não convocaram a manifestação para dia 15, uma vez que esta já estava a ser falada há tanto tempo? Em que assembleia/reunião foi decidido pelos professores que deveria haver uma manifestação dia 8 de Nov.? Andam a brincar com quem???»
  • Isto é, para algumas pessoas os sindicatos não podiam marcar nenhuma manifestação, nem nenhuma data, sem fazerem uma (ou muitas, não fica claro) reunião (ões) com os professores. Tendo-o feito nessas condições são eles os divisionistas. Já um grupo de professores isolados pode ir a uma reunião que ninguém sabe ao certo quantos professores tinha presentes, e decidir que a manifestação legítima só pode ser dia 15 de Novembro.
  • Alguém nos pode informar quantas pessoas estavam presentes na sala? Alguém pode garantir que na sala apenas estavam professores? É possível saber qual foi a forma de manifestação da vontade dessa assembleia? Houve votação? Qual o seu resultado? O voto foi secreto, ou usaram o método do braço no ar, que se for usado noutros locais e por outras pessoas é de imediato classificado como método stalinista, controleiro e intimidador?

De facto é lamentável e triste o que se está a passar. Sobretudo porque não contribui em nada para derrotar Maria de Lurdes Rodrigues e Pinto de Sousa, nem para acabar com as políticas erradas e destruidoras da escola pública que eles perseguem.

E ainda é mais lamentável porque bastaria um pouco de bom senso e de humildade para atalhar caminho enquanto ainda é tempo.

Afinal faltam três semanas até ao dia 8 de Novembro e as últimas notícias dão conta de uma tentativa de “estender a mão” por parte da plataforma sindical.

«”Há, certamente, legitimidade para organizar manifestações e outras acções, estamos num país democrático. Mas, pensamos também, as acções devem servir para unir, para acrescentar algo, para construir.”

“Em nome da Plataforma e da unidade construída, especialmente nestes momentos difíceis, apelamos à participação de todos os educadores e professores para que se juntem a esta iniciativa no dia 8 de Novembro, sem sectarismos, sem divisões. Os Sindicatos, numa sociedade democrática, são parceiros de negociação fundamentais; sem eles, a unidade não se constrói, não se concretiza. O tempo é de unidade. Não é de facilidades ao ME e ao Governo, que baterá palmas aos que apostam na divisão dos professores”.»

Será que os “movimentos independentes” e algumas eminências pardas e anónimas vão persistir na birra e no suicídio, tentando arrastar consigo todos os outros professores?